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Consumo

O lar, doce lar da classe D

Famílias com renda mensal média de dois salários mínimos preferem comprar móveis, eletrônicos e reformar a casa

Tânia Gomes, com o aparelho que exibe os programas da tevê a cabo: reformas na casa sem apelar para o cheque especial | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Tânia Gomes, com o aparelho que exibe os programas da tevê a cabo: reformas na casa sem apelar para o cheque especial (Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo)

A auxiliar de serviços gerais Tânia Regina Gomes, 53 anos, mora na CIC, em Curitiba. Com uma renda mensal de R$ 919, ela sustenta sozinha os três filhos, de 11, 14 e 16 anos, e ainda consegue investir na reforma da casa. Tânia comprou recentemente um novo microondas, trocou o piso do imóvel e irá em breve ampliar o banheiro e a cozinha. Suas atitudes refletem o comportamento de boa parte da classe D, um grupo da população que, até pouco tempo atrás, estava excluída do mercado de consumo, mas que hoje tem condições de adquirir bens e serviços e desperta a atenção de muitas empresas.

A explicação para esse fenômeno, segundo especialistas, está ligada à região da moradia. Como normalmente residem em áreas periféricas e têm pouco acesso a opções de lazer, as pessoas da classe D tendem a ficar mais tempo em casa, e por isso esforçam-se para torná-la mais agradável. A busca por serviços de internet, telefone e tevê a cabo se justifica pelas mesmas razões. Na casa de Tânia, há telefone fixo e tevê a cabo. Ela gasta R$ 78 por mês com os serviços, mas garante que vale a pena. "O telefone é importante em caso de emergência, se precisar chamar alguém. E a tevê a cabo é para manter as crianças longe da rua", conta.

Caracterizada pela renda familiar média de até dois salários mínimos, a classe D é um dos menores segmentos econômicos brasileiros, atingindo 15% da população. Só perde para a classe E, cuja renda familiar é inferior a um salário mínimo e abrange menos de 1% dos brasileiros.

No estudo "A Classe D e o Consumo", elaborado pela consultoria de mercado Quórum Brasil, a tendência por consumir produtos para melhorar as condições de vida dentro de casa aparece com destaque. Depois dos alimentos e produtos básicos, os itens mais consumidos pela classe D são exatamente móveis e eletrônicos. O responsável pelo estudo, o pesquisador Claudio Silveira, avalia que o potencial de consumo da classe D não é maior porque esbarra na renda limitada e nas dificuldades de obtenção de crédito.

Mesmo assim, essas famílias ainda guardam dinheiro. Segundo a pesquisa, pelo menos 34% da classe D poupa mensalmente. Tânia, por exemplo, consegue guardar de R$ 50 a R$ 100 por mês. A tentativa de manter-se longe das dívidas também orienta seus gastos. Nas obras para a reforma da casa, ela preferiu não usar o cheque especial oferecido pelo banco, mesmo sabendo que os recursos adicionais poderiam acelerar a obra.

Preço não é tudo

Na hora de comprar, principalmente roupas e alimentos, a maior parte da classe D ainda prioriza os preços mais baixos. Mas quando se tratam de eletrônicos ou eletrodomésticos, para metade dos compradores da classe D a qualidade do produto é tão importante quanto o preço baixo.

Nas lojas de varejo mais populares, a classe D é responsável por boa parte das vendas. O superintendente do Grupo MM, rede de varejo que atua nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo, Márcio Pauliki, explica que a classe D é responsável por pelo menos 30% das vendas nas lojas do grupo. Os produtos da linha branca são os mais consumidos, além de tevês, móveis e celulares. Normalmente, as com­­pras são feitas através de crediários, que chegam a ser quitados em 12 meses. "A opção é por produtos mais baratos; eles não são tão ligados a marcas. A classe D avalia primeiramente o preço antes de comprar", ressalta o empresário.

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