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Operação “vale transporte” mobilizou noites na Rodoferroviária por uma semana, em 2007 | Acervo Urbs
Operação “vale transporte” mobilizou noites na Rodoferroviária por uma semana, em 2007| Foto: Acervo Urbs

Os curitibanos, ou quem mora aqui faz tempo, devem se lembrar da ficha de vale transporte de metal. Em algumas era possível ler "Administração Roberto Requião". Em outras estava escrito apenas "Prefeitura Municipal de Curitiba". Saíram de uso. Foram armazenadas e viraram uma espécie de "segredo da coroa"

Pois a reportagem descobriu o destino das "moedinhas" que serviam inclusive para comprar pão, como atesta a auxiliar de laboratório Elisângela Wackernagel, 37 anos. Até abril de 2007, as fichas ficaram guardadas no antigo cofre da Rodoferroviária de Curitiba, localizado embaixo do guarda-volumes. Ali – hoje um local esquecido, com mau cheiro e lotado de bugigangas – foram protegidas por portas de aço, duras feito um tronco novo.

Empilhadas em sacos, parecidos com aqueles usados para colocar batatas, pesavam 175 toneladas. Segundo Volmir Wilhelm, coordenador do curso de Engenharia da Produção da Universidade Federal do Paraná, se colocadas uma atrás da outra somariam 850 quilômetros de extensão. É a distância entre Curitiba e o Rio de Janeiro.

Os diretores da Urbs à época se perguntavam o que fazer com tudo aquilo. Depois de muita discussão, decidiram fazer um leilão. Quem desse mais pelos vales poderia fazer o que quisesse com eles. A empresa Zinco Ligas, localizada no estado de São Paulo, ganhou as moedas. Segundo o coordenador da tesouraria da Urbs, Gilberto Luiz Fagundes, o órgão municipal arrecadou cerca de R$ 700 mil com a venda.

Resta saber como a empresa vencedora conseguiu remover 175 mil quilos – ou 35,4 milhões de unidades – de vales transporte. O assistente administrativo Cesar Brasil Soares estava lá e viu tudo. A Zinco contratou 20 homens – chapas de beira de estrada – para retirá-las do subsolo da Rodoferroviária.

Foi um sufoco. Cada saco pesava 35 quilos. Um homem sozinho, no final do dia, já não tinha forças para levantá-los. "Umas dez carretas", segundo Fagundes, foram usadas na operação "retirada de vale transporte". Chegavam à noite, para não atrapalhar o movimento, e ficavam estacionadas no pátio.

Quando uma carreta ficava entupida de vales, era levada ao Moinho Anaconda, no Jardim Botânico. Lá, as fichas eram pesadas – empresas como a Zinco pagam pelo quilo. Depois disso, os lotes seguiam para São Paulo. O processo inteiro durou quase uma semana.

As fichas de metal foram transformadas em retrovisores, fechaduras, maçanetas de portas, puxadores e até em parafusos. Se você é um nostálgico de plantão e sente falta do antigo vale transporte, segure na maçaneta do seu carro e imagine que um dia ela pode ter sido um "vetê" com as palavras "Administração Roberto Requião".

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