Vanessa Lobato, do Santander: “Pessoas com mais saúde são pessoas mais felizes e os programas mostram resultado com indicadores”. | Paulo Uras Neto
Vanessa Lobato, do Santander: “Pessoas com mais saúde são pessoas mais felizes e os programas mostram resultado com indicadores”.| Foto: Paulo Uras Neto

Investir em ações para aumentar a produtividade em vez de demitir profissionais ou reduzir benefícios dos colaboradores. Essa inversão da política de corte de custos com recursos humanos tem sido uma estratégia eficaz de empresas no enfrentamento da crise econômica. Os resultados vão além da sobrevivência à recessão, permitindo até o crescimento e conquista de novas fatias do mercado à medida que a economia se reaquece.

A empresa de logística Rumo passou por importantes mudanças de gestão desde que concluiu sua fusão com a ALL, em 2015. Junto com o momento econômico, as mudanças culturais resultantes de uma fusão impactaram diariamente o dia a dia dos colaboradores e sua produtividade. Por isso uma das linhas de ação da nova direção da empresa foi o investimento no desenvolvimento de pessoas. “Nosso grande olhar foi para a operação. Nos perguntamos: por que existe a Rumo? Simplificando: para carregar, transportar e descarregar. Então temos que fazer o nosso melhor para operar da melhor maneira possível”, conta a gerente de Recursos Humanos da empresa, Daniele Ribeiro Theodorovicz. 

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Este olhar resultou em uma série de ações de desenvolvimento do quadro de pessoal. Em treinamento, por exemplo, a empresa aumentou a oferta de 14 bolsas de estudo – para cursos de graduação, pós-graduação e técnicos, inclusive no exterior – para 120 bolsas neste ano. Somente em 2016, foram realizadas 330 mil horas de treinamento, número que deve ao menos se repetir neste ano. A Academia Rumo, centro educacional da empresa, foi amplamente reestruturada. “A companhia acredita no desenvolvimento das pessoas e por isso fez esse investimento considerável”, afirma Daniele.

Um dos novos programas da empresa que contam com melhor resposta dos colaboradores, diz a gerente, é o “Trilha de Carreira”, que projeta, por meio de um conjunto de critérios e avaliações a serem obedecidos, a evolução da carreira dos funcionários. “Desenhamos uma trilha que mostra para o funcionário onde ele está e para onde pretende ir. Quem entra como mecânico 1 o que precisa fazer para se tornar mecânico 2? Conforme o colaborador vai sendo aprovado nos níveis, é reconhecido, inclusive financeiramente”, diz.

Outro importante aspecto para manter a produtividade em alta, relata Daniele, são os benefícios ofertados aos funcionários, como plano de saúde e previdência privada, este implementado mais recentemente: “Apesar da crise que estamos vivenciando no Brasil, aqui não deixamos de investir em pessoas, nem em formação ou benefícios”. 

A resposta dos colaboradores, diz Daniele, tem sido positiva. O retorno vem por meio de pesquisas formais, como a de clima, mas também informalmente, quando o colaborador procura espontaneamente a chefia ou o RH para manifestar seu sentimento: “Chegamos a ouvir de alguns funcionários que ‘não imaginavam que viveriam para ver essa evolução’. No fim do dia, isso mostra que o RH fez o que dele se esperava”, conclui Daniele.

Engajamento de colaboradores

O Santander, terceiro maior banco brasileiro, com quase 50 mil funcionários, apostou no engajamento de seus colaboradores como ponto de partida para alcançar bons índices de produtividade. De acordo com a vice-presidente de Recursos Humanos da instituição financeira, Vanessa Lobato, o foco da gestão de RH da empresa está no envolvimento dos colaboradores com a atividade. “A fórmula parece simples, mas é de uma eficácia total. Nosso produto não é tangível e tudo depende das pessoas: do call center, o gerente, o consultor. O engajamento é o início do ciclo. Também definimos o que é produtividade por setor e estamos sempre medindo os índices nas agências espalhadas por todo o país. Uma questão fundamental é o papel do gestor, da liderança”, diz. 

Em uma atividade considerada de alto nível de estresse, o investimento em ações para promoção de saúde entre as pessoas também ganha importância. O Santander criou um programa de gestão integrada de saúde, que reúne um conjunto de ações voltadas à área. Os colaboradores têm plano de saúde, gym pass – para que frequentem academias, participam de ações de prevenção de doenças, com o incentivo a exames regulares, além de programas antitabagismo e de controle da obesidade. “Já participamos de programa com metas para perda de peso de forma coletiva. Pessoas com mais saúde são pessoas mais felizes e os programas mostram resultado com indicadores: melhora nos exames de saúde e até redução de afastamentos”, conta. 

Entre os programas adotados pela empresa está o “Be Healthy” (Seja Saudável), que incentiva hábitos saudáveis. A empresa incentiva o acompanhamento de indicadores pessoais de saúde e ajuda as pessoas a definirem os desafios para alcançar mais qualidade de vida. O acompanhamento vai desde a escolha de hábitos alimentares mais saudáveis, passando pela atividade física regular e o equilíbrio da mente. As agências têm salas de amamentação e a empresa adotou práticas de “flexiworking”, uma cultura corporativa que permite o equilíbrio entre a vida pessoal, profissional e familiar. A proposta é que os funcionários adaptem os horários de trabalho à logística da casa e compromissos pessoais. Para a empresa, o impacto positivo no comprometimento e energia no ambiente de trabalho é claro. “Tudo isso é fundamental. A saúde é uma escolha do indivíduo. Mas o nosso papel é dar o apoio para que cada um use a sua força para viver melhor. Os resultados nos motivam a fazer cada vez mais”, conclui.

Plano de vida e bem-estar 

Christiano de Oliveira, da Partner Consulting: “As empresas podem investir mais tempo para ajudar as pessoas a traçarem objetivos pessoais e profissionais”.
Daniel CastellanoDivulgação

Para o diretor executivo da Partner Consulting, Christiano de Oliveira, especialista em governança corporativa, as empresas podem contribuir mais para a produtividade e satisfação das pessoas ensinando a fazer planejamentos de vida. “A empresa e a posição ocupada na organização não podem estar na contramão dos objetivos, valores e referências de qualidade de vida das pessoas. Muitas pessoas se sujeitam a empregos que geram altos níveis de insatisfação. E as pessoas adoecem. Não basta perguntar se fuma, sugerir que faça exercícios físicos ou cobrar que vá ao médico regularmente. As empresas podem investir mais tempo para ajudar as pessoas a traçarem objetivos pessoais e profissionais. Ter consciência do plano individual é o que faz as pessoas traçarem suas próprias metas e objetivos, o que leva a um consenso sobre o que, para elas, é felicidade”, afirma.