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Vista aérea do futuro Parque Olímpico do Rio de Janeiro: mudanças políticas afetam o cronograma de obras dos Jogos | Carlos Eduardo Cardoso/Agência O Dia
Vista aérea do futuro Parque Olímpico do Rio de Janeiro: mudanças políticas afetam o cronograma de obras dos Jogos| Foto: Carlos Eduardo Cardoso/Agência O Dia

Às vésperas da realização da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, o esporte brasileiro passou para as mãos de pessoas que assumidamente não são do ramo.

INFOGRÁFICO: Veja os nomes que compõem as secretarias estaduais

A começar pelo novo ministro do Esporte, nomeado na virada do ano pela presidente Dilma Rousseff. O deputado federal George Hilton (MG), do nanico PRB, legenda ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, se licenciou da Câmara para assumir a pasta e, logo nos primeiros dias, admitiu não entender "profundamente" do assunto.

Falta de familiaridade com o tema que se estende pelos estados. De acordo com levantamento da Gazeta do Povo, das 27 unidades da federação (incluindo o Distrito Federal na conta), apenas 6 contam com profissionais à frente das secretarias de esporte. A grande maioria (17) são indicações políticas para acomodar partidos que compõe a base do governador – caso do Paraná, com o deputado estadual Douglas Fabrício (PPS) chefiando a pasta.

Quatro gestores de outras áreas que abraçaram o esporte fecham a conta.

No Rio de Janeiro, palco da primeira Olimpíada na América do Sul, daqui a menos de dois anos, é um bom exemplo de como a política encampou o esporte.

Ao invés de um especialista, quem passou a dar as cartas é Marco Antônio Cabral (PMDB), 23 anos, recém formado em Direito e filho do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), fiador da vitoriosa campanha de seu vice, Luiz Fernando Pezão (PMDB), ao governo fluminense.

Cabral contará com um orçamento enxuto, de aproximadamente R$ 62 milhões, excluindo da conta as obras de preparação da cidade tocadas pelo estado.

Além do ministério, o PRB "herdou" mais cinco secretarias esportivas estaduais, tomando para si um feudo que por muito tempo pertenceu ao PCdoB. Os comunistas cuidaram do Ministério do Esporte por 12 anos, desde o primeiro mandado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, iniciado em 2003.

O PRB manda em pólos importantes como São Paulo e Minas Gerais, mais Ceará, Rio Grande do Norte e Roraima.

A legenda de George Hilton cuida também do esporte no Distrito Federal. Neste caso, porém, a pasta foi entregue a uma especialista: a ex-jogadora de vôlei Leila Barros, que tentou sem sucesso uma cadeira na Câmara Distrital de Brasília na eleição passada.

Além do DF, Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Tocantins, estados com pouca representatividade no cenário esportivo nacional, também optaram por entregar a pasta conhecedores do assunto.

"O esporte não pode ser mais tratado como barganha política", criticou Daniela Castro, diretora-executiva da ONG Atletas pelo Brasil, que reúne atletas e ex-atletas como Raí e Ana Moser. "O que criticamos é o fato de o esporte nunca ser levado em consideração do ponto de vista mais técnico, de pessoas que entendam do esporte. Isso gera um custo de gestão enorme", completou.

Se o nome do novo ministro gerou reações negativas por parte de atletas, rapidamente houve quem saísse em defesa da indicação. "Ao longo desses anos que a gente lida com o esporte, tivemos vários ministros que não tinham ligação, e fizemos um trabalho excelente e tivemos uma relação ótima", destacou o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman.

Em princípio, Hilton deve manter a equipe que cuida do alto rendimento, para não desfazer projetos em andamento relacionados à Olimpíada em 2016. O atual secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, Ricardo Leyser, deve ser efetivado como novo secretário-executivo do Ministério.

PRB dá força a pastores da Universal

A forte presença do PRB nas secretárias estaduais e no Ministério do Esporte não é por acaso. Muito próximo da Igreja Universal do Reino de Deus, o partido quis dar espaço a pastores da igreja ligados ao grupo Força Jovem, uma ala considerada muito importante dentro da instituição, que tem, entre outras ações, forte atuação em projetos esportivos para a inclusão social de jovens.

O ministro George Hilton – e os secretários estaduais de Ceará (David Durand), Minas Gerais (Carlos Henrique) e São Paulo (Jean Madeira) – são filiados ao PRB e pastores da igreja. Uma combinação que foi costurada pessoalmente pelo presidente nacional do partido, Marcos Pereira, que é bispo da Universal.

"Procurei alinhar o Ministério do Esporte com as pastas estaduais em São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal e Ceará. Foi uma iniciativa minha e da Executiva Nacional, mas que foi discutida e praticada em conjunto com a presidente Dilma Rousseff e os governadores dos estados", revelou Pereira.

Dos seis estados em que o PRB ficou com a pasta de esportes, três têm secretários que não têm ligação com a Universal. Leila Barros no Distrito Federal, George Câmara no Rio Grande do Norte e Marcos Jorge Lima em Roraima.

Excetuando Leila, ex-jogadora de vôlei com participação em Olimpíadas, nenhum outro indicado para as secretarias e Ministério tem relação com o esporte.

O PRB, aliás, tem um quadro tímido de esportistas. Além de Leila, somente Acelino Popó de Freitas, ex-boxeador, e Célio Renné, ex-carateca e ex-secretário de Esporte do Distrito Federal.

"Sem dúvida são três grandes ícones do esporte nacional e é evidente que essa experiência ajuda", completou Pereira.

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