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Vespasiano, o imperador romano, no ano 79 d.C., pouco antes de morrer, em carta ao filho Tito aconselhava-o a concluir a construção do "Colosseum" – Coliseu – que lhe daria "muitas alegrias e infinita memória". Já naquele tempo os governantes sabiam que obras subterrâneas não dão votos e que obras visíveis como escolas, hospitais, estradas e portos são obrigações naturais, daí a tentação de oferecer algo diferente a população.

O conselho era simples: entre um banco escolar ou uma cama hospitalar, o povo preferia sentar-se nas arquibancadas. A ideia era seduzir a plebe com pão e circo para diminuir a insatisfação popular contra os governantes. Como o imperador era um ditador, ninguém se preocupara com o custo da obra.

Dois mil anos depois ainda se discute essa questão, só que a sociedade exige transparência na prestação de contas dos empreendimentos que envolvem dinheiro público. É uma das vantagens do regime democrático. Porém, políticos e administradores públicos não resistem ao encantamento dos empreiteiros de obras e a realização da Copa do Mundo transformou-se em prato cheio para todos os gostos.

Imaginem como vai ser depois da Copa, com alguns estádios construídos com verbas oficiais desviadas de setores carentes e que certamente serviriam muito mais a população. A arena de Brasília, por exemplo, é um monumento ao desperdício, pois simplesmente não existe futebol de alto nível na capital da República.

Mesmo nos centros futebolisticamente mais avançados, quase todos os clubes acumulam uma dívida astronômica, algo próximo a R$ 5 bilhões, quase toda ela resultado de obrigações fiscais que deixaram de ser recolhidas. O valor das contas espetadas é assustador e ela vai aumentar com o alongamento do prazo conseguido pelos dirigentes do futebol.

Como se trata de calote de maus pagadores, boa parte deles insolvente, o bolo devido aumenta a cada mês. A situação não é confortável nem sequer para os que dispõem de patrocinadores de peso: nesses casos, praticamente toda a receita de ações de marketing costuma ser engolida pelos buracos administrativos e exigências financeiras que inviabilizam planos e projetos.

É uma dívida criada pela irresponsabilidade gerencial de dirigentes que, livres de obrigações legais, comprometem receitas, envolvem as agremiações em operações financeiras de lastro duvidoso – enfim, tudo ao contrário do que recomendam os bons manuais de administração. Mas continuam gastando fortunas com técnicos e jogadores que não respondem a altura no campo.

É fora de dúvida que se trata de dívida impagável diante da realidade da penúria dos clubes, mas, por outro lado, não se observa nenhum movimento para evitar que desmandos e falta de compromisso dos cartolas sejam premiados com o puro e simples perdão dos contenciosos por eles próprios criados.

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