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Transferência de potencial construtivo, sustentabilidade e legado, são as expressões mais repetitivas que tenho lido e ouvido durante os últimos meses. Será que a grande massa de torcedores, sempre catedrática em escalar a seleção brasileira – embora não saiba hoje nem sequer quem é o nosso goleiro titular – faz alguma ligação entre frases de efeito e a Copa do Mundo que vem aí?

Pois é, um simples torneio de futebol criado pelo apaixonado Jules Rimet, deu no que deu. Grandes negócios, muito dinheiro e envolvimento político por todos os lados. Os oportunistas de carteirinha enlouqueceram com a fartura do mercado da bola, e o povo ficou refém do abecedário dos mestres da terminologia.

Dia desses fui ao Maracanã dar uma olhada nas obras de reconstrução do estádio para a Copa. Não dá para entrar no canteiro de obras, mas existe um espaço para visitação parcial, por onde se vê o trabalho duro dos operários. Um grupo de italianos observava fotos no museu do estádio. Um deles queria saber se a circunferência do projeto antigo fora diminuída. Se na decisão de 1950 entraram 200 mil torcedores, como é que agora só caberão 80 mil?

Lembrando ainda que nas antigas gerais espremiam-se 30 mil pessoas (em pé), e quando o campo era usado para shows chegou a compactar 250 mil malucos para ver a banda de heavy metal KISS. A empolgação embriagava o conforto.

Os conceitos mudaram. Só que hoje os grandes estádios são teatros muito caros e semelhantes no conceito interior. A Arena de Munique, o Stade de France ou o novo Wembley, parecem franchising de O Boticário, Kopenhagen, por aí. E o Maracanã, apesar de afirmarem que será o mais belo e moderno do planeta, terá como diferencial maior a vista do Cristo Redentor – isso quando o tempo ajudar.

Entendo que a obra é necessária até porque os eventos no Rio são constantes. E jamais o Maracanã será um elefante branco, o que já é uma bênção. O que pesa é o custo de quase um bilhão de reais e a ênfase que se dá para a tal economia sustentável – reaproveitamento dos entulhos, diminuição de gastos com energia, captação da água da chuva para os banheiros – que soa falso. É colocado pelos empreiteiros, como um fator mágico.

Falo do principal estádio do país para a Copa de 2014 e que será palco da abertura e encerramento da Olimpíada de 2016. E os outros?

Impunidade II

O torcedor Diego Henrique Raab Gonciero, de 16 anos, foi assassinado há 75 dias. O bandido continua solto. Foi um crime frio. Calculado. Doloso. Será que a nossa polícia escorrega na mesma esteira da congênere inglesa, que durante 23 anos culpou as próprias vítimas – torcedores do Liverpool – pelo esmagamento, asfixia e morte numa tragédia do Estádio de Hillsborough?

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