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A televisão contribuiu no campo do esporte para muita gente extravasar durante as competições, seus sentimentos reprimidos. Uns de forma saudável, outros nem tanto. Atletas, árbitros, técnicos, dirigentes e até gandulas pensam beliscar um momento de celebridade. Captados pelas imagens, os gestos diferenciam os estilos e a intenção – se espontâneos ou premeditados.

Zagallo criou o "aviãozinho" para comemorar um gol da seleção e o público engoliu a brincadeira do velho Lobo. O folclórico árbitro carioca "Margarida" superou Armando Marques nos trejeitos e requebros.

O galhofeiro Eurico Miranda simbolizou o ridículo pelas invasões aos gramados... E por aí vai.

A arte e o talento estão acima de tudo isso, mas determinados gestos patenteiam os gênios. O soco no ar criado por Pelé é marca registrada, assim como a comemoração de Ronaldo apontando o dedo para cima. São marcantes pela espontaneidade e porque seus criadores são protagonistas e não figurantes. Caso do momento apoteótico em que Bellini ergue a Taça "Jules Rimet", gesto imitado por todos os demais campeões mundiais. Eternizou.

Antes de a tevê entrar em campo, havia gestos que driblavam o torcedor. O Coritiba teve um avante chamado Ivo Rocha – forte e marrento. Nos intervalos dos jogos, caminhava para o grande círculo de dedo em riste. Só ele e o árbitro. Dispensa dizer o que se passava na cabeça do torcedor. Sua Senhoria acenava com a cabeça, simbolizando um ato passivo de concordância. O "Belfort Duarte" ia à loucura pela autoridade explicita como o ídolo parecia humilhar o juiz.

Indagado tempos depois um dos "subservientes" apitadores esclareceu: "Não, nunca percebi ele dando de dedo. Só ouvia elogios do Ivo. Ele até cumprimentava a gente pela atuação e pedia desculpas por alguma coisa. Se ele fazia o tal gesto, nunca notei." Pois é, o irreverente jogador era ao mesmo tempo sábio e brincalhão. Ivo tinha a exata noção do que despertava no público, daí o impacto no uso de seu gesto. Sua artimanha era pitoresca e divertida. Por isso, gesticulações podem dar bons ou maus indicadores.

Amanhã, Ney Franco e Marquinhos Santos se reencontram. Para os dois, o caminho das seleções de base do Brasil foram abertos. Ney classificou a seleção para Londres e deveria ter sido o técnico olímpico. Optou pelo São Paulo. Competente, Marquinhos, que havia subido de categoria na CBF, preferiu o desafio no Coritiba. Ambos são discretos e se concentram de tal forma no estudo tático, que não estão nem aí para o tal misancene.

Só tem um detalhe: a postura do auxiliar alviverde Tcheco na beira do campo, em pé, cochichando lado a lado com Marquinhos, é no mínimo inconveniente. O estádio inteiro (e agora telespectadores também) interpreta o ato do ídolo e ex-jogador de forma que tira a confiança do treinador oficial. Creio que a intenção seja inocente, mas é ostensivo e não pega bem. O técnico é um só e deve refletir autoridade.

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