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Quem mora por aqui ou é do estado já se viu no meio de uma conversa sobre o tal "autofagismo paranaense". Em regra, somos uma gente que vive em ponto morto; se alguém ameaça engatar a primeira, logo é puxado pelo cano de escape. No futebol o termo é recorrente. Não há entrevista do Petraglia sem queixas contra essa traço da personalidade local. Agora, o termo apareceu com força na entrevista do Vilson ao braço radiofônico da irmã Tribuna e da prima 98 (a família é a mesma, mas os filhos são saudáveis), terça-feira.

O dirigente reclama reconhecimento pelo seu papel no futebol nacional. O cartão de visitas realmente impõe respeito. Presidente da Comissão de Clubes que negocia o pagamento da bilionária dívida do futebol nacional com a Viúva e chefe de delegação do Brasil na Copa do Mundo jogada dentro de casa.

Basta passar a lupa no portifólio para ver que o brilhante não é tão reluzente. Dirigentes de futebol e políticos têm um péssimo histórico no país que permite, sim, desconfiar de qualquer movimento conjunto dessas duas classes – especialmente se envolver dinheiro público. Elaborar um plano para o pagamento das dívidas do futebol brasileiro é justo e necessário, mas é obrigatório que venha acompanhado de um controle implacável. Exigir Certidão Nacional de Débito não é nem um pouco rigoroso. O Flamengo, mais semanas na liderança do ranking de dívidas tributárias que Roger Federer nos bons tempos, recebe patrocínio da Caixa porque tem CND. A certidão indica renegociação, não que a dívida está sendo paga em dia.

Essa frouxidão tem o poder de estraçalhar com todo o bom trabalho que possa ter sido feito para elaboração da lei. Assume-se o risco de ter como consequência apenas passar mais um cheque em branco para a cartolagem. Da mesma maneira que, de prático, as articulações da lei já tiveram a retirada de itens que tributavam a CBF, motivo que levou Vilson a ser o chefe da delegação que protagonizou o maior vexame da história do futebol. Ok, da forma que o texto estava era inconstitucional. Mas não haveria nenhuma outra forma de usar a lei para enquadrar a confederação? O único caminho era manter o passe livre eterno à dupla Marín-Del Nero, a melhor personificação de atraso no futebol brasileiro? Os caras que, para reconstruir a seleção, chamam um técnico que já não deu certo e um empresário de jogador, ambos sob o surrado discurso do comprometimento.

Obviamente, tem quem critica a atuação de Vilson pelo simples fato de ele trocar o ponto morto pela primeira marcha. Tem quem critica por considerar que ele está neglicenciando o Coritiba. Mas tem quem considera que ele simplesmente está se posicionando ao lado das pessoas erradas e costurando uma lei que, na prática, abre a brecha para a gestão dos clubes seguir como está. Quem reclama do autofagismo local deveria pensar se não está exigindo que as pessoas simplesmente engulam tudo com farinha. As duas posturas estão erradas.

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