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Até outro dia, futebol internacional era assunto de gueto. Restrito a pequenos grupos de jornalistas e torcedores. As semifinais da Liga dos Campeões mudaram este cenário. Nomes como Barcelona, Real Madrid, Messi, Cristiano Ronaldo, Kaká, Guardiola e Mourinho surgiam facilmente no balcão da padaria, no ponto de ônibus ou na portaria do prédio. O futebol europeu chegou à mesa do bar e é ótimo que esteja ali. O problema é quando o papo de bar, sem filtros, vira discurso de treinador.

Nos próximos meses, vários técnicos vão evocar a maneira como o Chelsea parou o Barcelona para justificar esquemas covardes. Será a desculpa (quase) perfeita para escalar mais volantes no meio, plantar mais um poste na área adversária, recuar mais o time para arrancar um empatezinho pobre, porém honrado.

É um fenômeno comum. Quando o Brasil perdeu para a Itália, em 82, jogar bonito passou a ser crime, o importante era armar um ferrolho e ganhar. O fracasso da seleção na Copa de 90 transformou o 3-5-2 em um esquema maldito. O título mundial da Espanha fez do 4-2-3-1 o sistema perfeito, azeitado por um toque de bola incansável.

Como qualquer lugar comum, esses deixam para trás fatores importantes, cuja omissão só interessa a quem prefere copiar ao invés de criar uma maneira nova de vencer. A Itália de 82, mesmo trôpega na primeira fase, tinha um bom time, com grandes jogadores (Paolo Rossi entre eles). O mesmo 3-5-2 que Lazaroni amaldiçoou em 90 simplesmente por ser um técnico fraco foi a maneira perfeita de acomodar os melhores jogadores da Copa de 2002. Não há título mundial que justifique a monocultura do 4-2-3-1 imposta nos clubes brasileiros – e na seleção – de 2010 para cá.

Voltando à partida de terça-feira, o Chelsea não é um time de pernas de pau. Os Blues dividiram a hegemonia da Inglaterra com o Manchester United na década passada com um time veloz, ofensivo e goleador. Drogba é um dos três melhores centroavantes do planeta há dez anos. O meio-campo que se postou à frente da grande área durante 180 minutos (Ramires, Lampard, Mikel, Meirelles e Mata) não tem brucutu. São jogadores com habilidade para desarmar e atacar. É possível deter o melhor time do mundo jogando na defesa e sem escalar um volante-volante.

Até semana passada, havia a crença de que era impossível bater o Barcelona. O Chelsea mostrou que é possível, tirando o espaço para o Barça trocar passes – o oxigênio do time catalão. Não se trata de uma derrota do futebol, mas de uma demonstração de que há diferentes caminhos para vencer.

O Barcelona, com ou sem Guardiola, buscará uma maneira de melhorar, um jeito de vencer mesmo quando o rival estacionar um ônibus na frente da área. E os adversários tentarão encontrar um caminho de superar este novo Barça. É evolução, não retrocesso. Portanto, se o técnico do seu time tentar justificar o futebol ruim com o Barcelona x Chelsea de terça, desconfie da honestidade e competência dele.

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