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Clubes de futebol – especialmente no Brasil – constroem sua história em um looping eterno de tentativa e erro. Um lançar de dados infinito, em que por mais que se fale em técnica e macetes adquiridos graças à experiência, o que realmente determina qual face cairá para cima é a sorte. É possível viver uma vida inteira assim. Ganhar títulos, atrair torcedores, formar ídolos. Passar sadiamente dos 100 anos enfrentando bravamente as incertezas e toureando um futuro que se forma por geração espontânea.

O Coritiba faz parte dessa regra brasileira quase sem exceção. Construiu uma história lindíssima dessa maneira, da qual deve se orgulhar. Mas neste momento, deveria se entristecer porque, no sábado, perdeu uma figura capaz de fazer os dados caírem mais vezes com face virada para o clube.

João Paulo Medina é uma das raras cabeças brilhantes no futebol brasileiro. Entre outras coisas – a maioria delas simples – porque entende que por mais que seja possível corrigir erros no presente dos clubes, a revolução verdadeira está no futuro, nas categorias de base. Foi ao arrumar a casa no Beira-Rio que permitiu ao Internacional tornar-se um caso único na década passada: revelava jogadores, usufruia do seu talento no profissional e lucrava com a venda anual de um deles, de onde tirava o dinheiro para alimentar um novo ciclo.

Fincar as bases deste ciclo foi o trabalho de Medina nos quatro meses de Coritiba. Por mais que quem fica fale apenas em solidaridade a Ricardo Guerra, a carta de renúncia (e demissão) leva a crer que havia mais ruído na relação do chefe executivo de operações com a parte da cúpula alviverde que ficou. Ruído que extrapolaria a simples troca de ideias para desembocar, na prática, à imposição de uma filosofia de trabalho sobre outra.

O Coritiba – especialmente na condução do futebol – tem a combinação da experiência de anos de vestiário de Pedroso com o conhecimento técnico de Mazzuco. Sem desmerecer a competente dupla, é a combinação perpetuada no futebol, que pode levar a um ano muito bom ou a um ano muito ruim. Um suporte a longo prazo, que permita ao clube formar em casa os jogadores exatamente como precisa, é que romperia essa lógica. Esse era o trabalho de Medina, que o clube, com outras cabeças, tentará manter e ampliar por conta própria.

Como se não bastasse desligar a chave geral no momento em que começava a encontrar a luz, o Coritiba ainda perde a sua mais espontânea bandeira. Foi Alex quem trouxe Medina para o Coxa. Foi por causa de Alex que Medina rabiscou um Coritiba de sonhos, que servia como plataforma eleitoral mas, ao que parece, não enche a barriga dos dirigentes no dia a dia. No meio de uma clara briga política, sobrou para o raro ídolo, que se sentiu usado.

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