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Como tenho 30 e (bem) poucos anos, vivi minha infância em um mundo pré-internet. Assim, era comum gastar boas horas lendo. Meu livro preferido no período sub-10 era Marcelo, Marmelo, Martelo, de Ruth Rocha. A história é assim: Marcelo resolve criar um vocabulário paralelo, do qual ele não desiste mesmo que todos à sua volta – e as evidências – mostrem que está errado. Até o dia em que seus pais não entendem o seu desespero ao gritar "Embrasou a morada do latildo". No fim, a casinha pega fogo, o cachorro se salva por um triz e Marcelo, enfim, aprende com seu erro.

Marcelo Oliveira está bem crescido para inventar palavras, mas também se agarrou a algumas ideias. Sim, seu trabalho de um ano meio mostra que seu índice de acerto é alto. Mas não o deixa imune ao erro. E está sendo teimoso como o xará da história infantil.

A superpopulação de volantes marcadores não está tornando o Coritiba mais sólido defensivamente e ainda atrapalha o ataque. Como são bons marcadores, os volantes desarmam com facilidade. Como são péssimos passadores, logo devolvem a bola ao inimigo, que ataca novamente. Isso faz o Coritiba sempre correr atrás. Uma hora falta perna, atenção ou as duas coisas – e o time leva o gol. Já foram 32 em 16 rodadas. O Coritiba tem a pior defesa do BR-12. Desde que o Brasileirão é disputado por pontos corridos, o time mais vazado cai. Logo, o Coxa precisa mudar a maneira de se defender – e de atacar.

Há, basicamente, duas maneiras de se defender. Uma é deixando o adversário comandar o jogo. O time se posiciona lá atrás e fica aguentando pancada. Dá certo se os defensores forem muito acima da média. Mesmo assim, a derrota está sempre mais próxima. Outra é ter a bola no pé, afinal, sem ela o adversário não tem como atacar. Quem tem a bola no pé por mais tempo naturalmente acaba sendo mais ofensivo. Se ataca mais, está mais propenso a ganhar. Mas só funciona se tiver jogadores capazes de manter a bola nos pés e errar poucos passes. O Coritiba não tem defensores acima da média a ponto de poder aguentar pressão o jogo inteiro e ainda assim vencer. Precisa, então, ficar com a bola no pé. Não conseguirá isso com Junior Urso e Chico, nem mesmo com Gil, França ou Willian.

Da mesma maneira que transformou Lucas Mendes em lateral-esquerdo, Marcelo Oliveira deveria considerar a transformação de um meia em segundo volante. Thiago Primão, por exemplo. É jovem o suficiente para se adaptar a uma nova função e sabe o que fazer com a bola no pé. Mais fácil ensinar um talentoso a marcar do que um brucutu a criar.

A saída de bola não é o único problema do Coritiba, mas é o mais crônico e antigo – desde a saída de Léo Gago e Leandro Donizete. Ao insistir no formato atual, Marcelo Oliveira gasta o crédito acumulado e estraga seu provável último semestre no Alto da Glória. Melhor mudar de ideia antes que a casa pegue fogo, e nem ele se salve.

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