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Um traço comum dos dirigentes presos na operação de combate à corrupção é a longa folha de serviços prestados à cartolagem. José Maria Marin está na pista há três décadas. Jack Warner iniciou sua escalada dentro do futebol de Trinidad & Tobago nos anos 60. Julio Grondona – que só não está preso porque morreu logo após a Copa de 2014 – engatou 35 anos consecutivos à frente da Associação de Futebol da Argentina. Joseph Blatter, em quem logo a onda deve bater, tenta se agarrar ao quinto mandato na Fifa.

Quando um escândalo desse tamanho vem à tona, acaba sendo inevitável juntar os pontos. Concluir que os cartolas passam tanto tempo no futebol exatamente para usufruir um pouco mais da irresistível tabelinha entre dinheiro e poder. Não dá para tomar essa dedução como regra absoluta, porém exige de quem vive do futebol queimar alguns neurônios para imaginar quem fuja a este vício – e mesmo assim, dificilmente alguém colocará as mãos no fogo por alguém.

Para o torcedor comum, o FifaGate deve servir como estalo para questionar por que seu clube, sua federação ou confederação tem há tanto tempo o mesmo presidente. Ou por que alguns passam anos grudados no poder, sem nunca por a cara na janela em um cargo executivo. Muitos desenvolvem trajetórias repletas de feitos, vitórias e títulos. Mais difícil é resistir a usar esse sucesso esportivo e administrativo para encobrir malfeitos.

Ricardo Teixeira havia acabado de tirar o Brasil da final de 24 anos sem vencer a Copa quando assinou o contrato com a Nike. Agora, há evidências de que essa canetada lhe rendeu propinas milionárias. Marin tinha uma Copa do Mundo na mão quando associou-se à cartolagem sul-americana para vender quatro Copas América com 25% de propina.

Circula muito dinheiro no futebol. Um dinheiro que, aparentemente, não é de ninguém. A empresa de marketing esportivo que paga propina a um cartola não está tirando esse dinheiro do seu bolso, mas da carteira de um patrocinador. Quando um patrocinador desembolsa um valor ilícito para obter um contrato, já está contando que irá recuperar esse dinheiro com o consumidor. A lógica se reproduz na cabeça de um dirigente de clube ou empresário de jogador que comete algum desvio.

Para os oito presos (até agora) na operação de suíços e norte-americanos, não resta dúvida de que eles não largam o osso por causa das robustas e sujas comissões. Para o dirigente que está perto de você, o caminho é reforçar a dúvida de se ele é uma rara exceção ou apenas uma regra que não deixou rastro ou não foi vítima de um delator que – flagrado com a mão não botija – preferiu contar o que sabia para não ir preso.

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