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Veja a que ponto chegamos. O melhor a fazer é escondermos nossos talentos emergentes, sob o risco de não podermos contar com eles a qualquer momento. Quanto mais precoce o jogador se revela, mais cedo tende a deixar o clube que nele investiu por anos e anos. E sem qualquer gratidão.

Deveria ter sido assim com Kelvin, pelo que sei. Talento indiscutível, o menino estava sendo guardado em segredo pelos dirigentes do Paraná enquanto não havia mecanismos eficientes de mantê-lo sob contrato por um período razoável. Mas não houve tempo de avisar o técnico Roberto Cavalo e o diretor de futebol, ambos recém-empossados. Então, como era de se prever, a situação saiu de controle. Aquilo que todos temiam, aconteceu. Kelvin, 17 anos, encantou em campo; mas fora dele, familiares, procuradores, agentes e empresários traçavam planos mirabolantes para o mergulho em um pote de ouro.

Por fatos assim é que se entende a posição adotada pelo Inter­­nacional com o paranaense Ale­­xandre Pato. Quanto mais se dizia tratar-se de um talento, mais os colorados desmentiam, retardando sua promoção ao grupo profissional e impondo alguns limites de aproveitamento mesmo nos times de base. Ficava por lá, treinando, enquanto o clube tratava de amarrar um contrato que fosse interessante para ambas as partes. Quando alguém perguntava, querendo confirmar o que dele se ouvia falar, desdenhava-se a resposta: ‘É bonzinho, talvez tenha futuro.’

E que futuro! Resolvidas as questões burocráticas e anuladas as possíveis rotas de fuga, Pato foi lançado de chofre no time principal e dali uns dias estava disputando o Mundial de Clubes, no Japão. Disputando, não. Protagonizando, com direito a gol, dribles desconcertantes e jogadas cerebrais. E aí, quando veio o natural interesse do Milan, o negócio pôde ser feito às claras, de ponta a ponta, sem qualquer possibilidade de atravessadores tirarem proveito a favor do próprio bolso.

E é justamente o bolso dessas pessoas que mais se beneficiam dessas transações. Tenha ou não sucesso, o incipiente boleiro (lançado no escuro do mercado internacional), os atravessadores nunca deixam de ganhar o seu quinhão. Na ida e na volta, que, em boa parte dos casos se dá dali a alguns meses, justamente por causa da falta de preparo de vida para o promissor talento enfrentar uma realidade bem distinta de seu chão, de seus costumes e de seu amparo.

E aí, por detalhes, lá se vai uma carreira. Keirrison, por exemplo, estava bem no Cori­­tiba, ainda bem no Palmeiras, foi convocado para a seleção brasileira. Desapareceu no Benfica, passou em branco na Fiorentina e sumiu da vitrine – mesmo na volta ao país, on­­de pretendia retomar um caminho que ainda não conseguiu encontrar.

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