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Sem condições

Ter o atacante Didier Drogba como adversário pode não ser mau negócio para o Brasil. Contra Portugal, jogou apenas 24 minutos. Tempo suficiente para obter números desastrosos nas estatísticas da competição. Não chu­­tou a gol, fez um único cruzamento sem sucesso e no total tocou na bola apenas sete vezes. Errou dois passes e acertou cinco. Pouco para um astro.

O imponente ônibus com os dizeres "Elefantes, vamos lutar pela vitória!" chega de mansinho à região de Sharpeville, a cerca de 70 quilômetros de Johannesburgo. Um a um os jogadores vão saindo. Não há alarde. Nem o astro Didier Drogba chama muito a atenção. Entram no Thabe Stadium e o portão se fecha rapidamente.

A indiferença em relação à seleção da Costa do Marfim tem motivo. É que lá fora, no campo de terra batida colado ao estádio, Jelas Jealous (os negros) e Mighty Stars (os vermelhos) fazem o clássico da região, uma das mais pobres da África do Sul. Tradicionalmente disputado aos domingos, a partida foi antecipada para aproveitar o feriado nacional no país.

Não existe luxo nem cerimônia. Pelo contrário. Os boleiros vão saindo das pequenas casas de lata, tradicional nas periferias, e se agrupando de acordo com a cor do uniforme. Logo aparecem o juiz, os técnicos e a torcida. O assunto, inevitável e contraditório, é a Copa do Mundo no quintal de casa. Falam da estreia brasileira (apagada na opinião da maioria), de Messi, dos Bafana Bafana... Mas nenhuma referência aos vizinhos famosos.

"Até tentamos, mas não temos acesso. Ficam lá trancados [aponta o complexo esportivo]. Acho o Drogba o melhor jogador do continente africano, mas de que adianta?", diz Israel Makwe, que se autointitula o torcedor número 1 dos vermelhos. "Sem contar que aqui é bem melhor. Não teria dúvida em escolher: entre a Costa do Marfim e o Mighty Stars, fico com o Stars", emenda.

A conversa de Makwe logo desperta a atenção dos curiosos, tirando o foco um pouco do clássico. A rodinha em torno da entrevista ganha corpo. Até Buti Machaea, técnico dos rubros, deixa a área técnica (não há demarcação alguma no campo) para se inteirar do que está acontecendo. A displicência custou caro. Não viu o primeiro gol de sua equipe – foi avisado por um torcedor que invadiu o "gramado", vuvuzela em punho, para celebrar com os jogadores. "O que eu vou fazer lá dentro? O futebol de verdade está aqui fora", afirma Ramothubi Morake.

Drogba e sua turma vão embora. Voltam hoje para mais um treino. Mas parece que nada aconteceu em Sharpeville.

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