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Fred se pendura na rede: apatia e falta de gols transformaram o atacante em vilão para a torcida | Albari Rosa
Fred se pendura na rede: apatia e falta de gols transformaram o atacante em vilão para a torcida| Foto: Albari Rosa

O sonho do hexa acabou no maior vexame da história do futebol brasileiro. A derrota por 7 a 1 para a Alemanha, ontem, no Mineirão, não apenas significou a eliminação do Brasil da Copa-2014. Foi a vitória arrebatadora de um trabalho planejado e de longo prazo sobre uma série de conceitos embolorados: hierarquia, mística da amarelinha, união na adversidade, força da torcida e a matreirice de Felipão.

A vitória alemã começou a ser construída em 2000, com a eliminação do país na primeira fase da Eurocopa. A partir dali, a federação local construiu centros de treinamento e obrigou os clubes a investir na formação de jovens. Política que fez surgir nomes como Thomas Müller, Toni Kroos e Sami Khedira. Em 29 minutos, eles e o veterano Klose construíram um inacreditável placar de 5 a 0, com quatro gols entre os 23 e os 29 minutos. Nunca na história das Copas uma seleção havia tomado tantos gols em tão pouco tempo.

No intervalo, André Schürrle, outro produto da reconstrução do futebol alemão, entrou para marcar mais dois gols que ampliaram o vexame brasileiro – que nem o tento de honra de Oscar conseguiu atenuar – e a lista de marcas histórias. Jamais uma semifinal havia terminado com uma placar tão dilatado. Marca que era dividida por três resultados de 6 a 1: Argentina sobre os EUA e Uruguai contra a Iugoslávia em 1930; Alemanha contra a Áustria em 1954.

A centenária história da seleção brasileira também jamais havia registrado uma goleada tão acachapante. A maior derrota era um 6 a 0 para o Uruguai, no Sul-Americano de 1920. Em Copas, o maior revés era o 3 a 0 para a França, na final de 1998, e o jogo com mais gols sofridos, a vitória por 6 a 5 sobre a Polônia, em 1938. Há 39 anos o Brasil não perdia um jogo oficial em casa. O último havia sido no mesmo Mineirão, para o Peru, na Copa América de 1975.

A história manchada fortemente ontem foi uma das poucas armas brasileiras na Copa. Desde a chegada em Teresópolis, Carlos Alberto Parreira soltava frases como "chegou o campeão", "estamos com uma mão na taça" e "há uma hierarquia no futebol". Mantras pulverizados pelo toque rápido dos alemães, no mesmo pacote que anulou a comoção em torno da perda de Neymar. Embora tenha ficado claro que com o atacante o Brasil perderia do mesmo jeito, os 11 escolhidos por Felipão não conseguiram jogar nem por si, o que dizer pelo craque do time.

O fator torcida também teve pouco efeito. O apoio incondicional durou dez minutos, tempo necessário para a Alemanha abrir o placar. A pane que transformou a derrota em massacre impôs um silêncio quebrado apenas pelos 6 mil alemães presentes e pelas vaias que marcaram a saída para o vestiário no intervalo, todas as participações de Fred no segundo tempo e o fim da partida. O gol de Oscar desencadeou um irônico grito de "Eu acredito!", que os alemães responderam com "Brasil! Brasil!".

Àquela altura, o torcedor brasileiro não acreditava mais nem na alma copeira de Felipão. Chamado às pressas para o lugar de Mano Menezes no fim de 2012, o treinador rapidamente achou um time para vencer a Copa das Confederações, mas que regrediu até o Mundial e durante o torneio. Emblemática acabou sendo a explicação de Scolari para, na véspera da partida, ter testado perante a imprensa várias opções, menos a que escolheria, com Bernard na vaga de Neymar.

"Vocês [jornalistas] estavam lá e passam informações para suas redações que o adversário vê. A gente queria confundir a Alemanha", disse. Acabou se perdendo nos caminhos de um futebol que já não existe mais.

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