• Carregando...
Rádio das viaturas têm tecnologia digital, mas só recebe sinal analógico | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Rádio das viaturas têm tecnologia digital, mas só recebe sinal analógico| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Entrave

Ainda não há estudos sobre percurso do sinal

Para o doutor em Telecomunicações da UFPR Horário Tertuliano Filho, investimentos em comunicação digital de nada adiantam se não houver um estudo sobre o percurso que o sinal percorrerá. Tertuliano foi o responsável pelos testes para transição de analógico e digital solicitados pelos estados que debatem o assunto no Enafron. "A PM desconhece os pontos de sombreamento [áreas em que o sinal é fraco ou inexistente]. Por mais que o rádio seja digital pode ser que existam pontos de sombreamento", alerta.

Sistemas

Há uma gama de frequências, sinais e sistemas. O Paraná optou pelo sistema Apco 25, que ainda não é totalmente digital, mas adotado pela maioria das polícias e possui a segurança necessária para operar sem ser espionado. Já a Polícia Federal usa um sistema digital por inteiro, o Tetrapol, mas enfrenta muitos problemas porque a rede digital no país é deficitária.

Segundo Tertuliano, a diferença entre o sistema Apco 25 e outro como o Tetrapol é a latência da rede, ou seja, o tempo de resposta entre transmissão e recepção – os digitais são bem mais rápidos.

Consequências

Falta de rede digital trava outros serviços

O governador Beto Richa autorizou em outubro de 2013 uma licitação para comprar 1.220 viaturas com tecnologia embarcada para a Sesp. Os carros devem ser equipados com computadores, rastreadores, radiocomunicadores e GPS. O problema é que a falta de uma rede estruturada digital deve impossibilitar a transmissão de dados de todos esses aparelhos. A rede analógica ainda não permite o envio dessas informações em formato de imagem, por exemplo.

Outro problema são os rastreadores. As informações ficarão armazenadas e serão transmitidas sem o sistema digital. Isso já ocorreu antes. Em 2008, o governo adquiriu 300 rastreadores, que estão inutilizados. O equipamento é capaz de registrar o percurso das viaturas, o que seria útil para uma série de situações.

Para o governo, prioridade é das cidades fronteiriças

A implantação definitiva de tecnologia digital na comunicação da Polícia Militar (PM) deve atingir, antes de Curitiba, as cidades paranaenses na região das fronteiras com outros países. Segundo nota da Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp) e da própria PM, o custo para implantar o sistema é alto e que já há projetos de modernização do sistema em andamento.

De acordo com o governo estadual, o projeto foi dividido em fases, iniciada com a implantação do sistema digitalizado no 13.º Batalhão, em Curitiba. Até 2015, as cidades fronteiriças devem estar com comunicação policial totalmente digitalizada.

O texto esclarece que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não deve renovar licenças para novos sistemas analógicos no estado – algo que parte de uma iniciativa nacional da Agência para incentivar a transição para sistemas digitais em todo o país, desde 2008 –, mas que o Paraná pode continuar usando o que possui.

Sobre os rastreadores adquiridos em outro governo, a Sesp explica que a nova frota já possui a tecnologia, mas que os aparelhos ainda não funcionam em formato digital por falta de uma rede estruturada. A PM desativou os rastreadores anteriores e as viaturas não têm o controle de roteiro atualmente. A nota informa ainda que os contratos dos rastreadores antigos estão vencidos e foram desativados. De acordo com o texto, eram 375 módulos AVLs que rastreavam os roteiros das viaturas.

A defasagem dos sistemas usados na comunicação policial tem gerado problemas diários na repressão a crimes no estado e a falta de investimento no setor pode ser um ponto de vulnerabilidade da Segurança Pública durante os jogos da Copa do Mundo em Curitiba. Além de usar o sistema analógico para se comunicar – apenas o 13.º Batalhão, na capital, trabalha com o modelo digitalizado no estado –, grande parte da tropa da Polícia Militar não tem sequer rádios HTs para conversar entre si.

Longe das viaturas, a interlocução fica restrita ao celular, colocando em risco os agentes, que, dessa forma, não poderão falar com as centrais de segurança da Copa, interligadas em todas as cidades-sede.

A compra de HTs para a tropa que trabalhará na segurança da Copa na capital é uma contrapartida ao investimento que passa dos R$ 20 milhões da Secretaria Extraordinária de Segurança de Grandes Eventos (Sesge), ligada ao Ministério da Justiça. O Batalhão de Operações Especiais (Bope), unidade de elite da PM, também não trabalha com os HTs.

Efeitos

No dia a dia que antecede a Copa, policiais reclamam da comunicação. Um deles, do 20.º Batalhão – que atende parte da região Norte e Leste da cidade –, lembra que o sistema analógico dificulta o trabalho. "Tem momentos em que não dá para falar nem ouvir nada", comenta o oficial, que preferiu não se identificar.

Segundo o doutor em Telecomunicações da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Horácio Tertuliano Filho, o sistema analógico é um problema a ser superado logo para evitar grandes preocupações nos mega eventos esportivos no país.

"A diferença do analógico para o digital é como a do dia para noite. No digital você pode mandar vídeo de um carro, a viatura pode enviar e receber imagem, além de voz com boa qualidade", explica. Tertuliano lembra que usar os rádios no sistema analógico é limitá-los à transmissão de voz, com qualidade ruim.

Além disso, a comunicação analógica permite que qualquer um, com um rádio HT, possa encontrar a frequência da polícia, o que deixa os agentes expostos a qualquer tipo de ação criminosa. Esse modelo atrasado ainda limita a atuação as transmissões de ocorrências. Se não há sinal, a central da polícia precisa telefonar para passar a informação. Atualmente, a maior parte das viaturas da PM não possui GPS. Os policiais usam equipamentos particulares nos veículos.

Sesp abrigará Centro de Controle do mundial

A Secretaria Extraor­di­nária de Segurança de Grandes Eventos (Sesge) tem investido mais de R$ 20 milhões no Paraná para construção do Centro Integrado de Comando e Controle Local (CICCL). Essa estrutura contará com uma equipe técnica que trabalhará com dados e tecnologia da informação para garantir total gerência sobre os acontecimentos em Curitiba durante a Copa do Mundo de 2014.

O CICCL está dividida em dois. Uma parte dos funcionários ficará alojada em duas salas grandes no 5.º andar da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), no Centro Cívico. Em uma delas será realizado o atendimento e despacho de informações e documentos. Na outra ficará o gabinete de crise, para resolver questões emergenciais. O Centro o gabinete de crise estão praticamente prontos.

Na Sesp também ficará um dos investimentos mais importantes para Copa: a sala cofre. O local, em fase final de construção, é preparado para não parar mesmo diante de uma tragédia. Reforçada, ela poderá abrigar vários servidores com softwares, informações e dados de câmeras, interceptações telefônicas, entre outros equipamentos. Tudo será interligado com as outras 11 cidades-sede e a central nacional em Brasília.

Em razão desse investimento, o Paraná deveria ter encaminhado a compra de HTs para os policiais envolvidos no evento. No entanto, a polícia sequer terminou a transição para a frequência digitalizada. Essa falta de investimento desemboca em uma série de problemas. Sem a frequência digital, ficará difícil transmitir rapidamente os dados em tempo real. Um policial que não tenha o rádio HT, por exemplo, e esteja longe da viatura, não conseguirá falar com a CICCL rapidamente.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]