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 | Felipe Rosa/Gazeta do Povo
| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo

A gangorra que o Co­ri­tiba viveu ano passado será o maior aprendizado para o time se fortalecer em 2014, na opinião do capitão Alex. Tetracampeão estadual e integrante do G4 em 11 rodadas do Brasileirão, o Coxa viu seu planejamento ruir no fim do primeiro turno, quando a equipe despencou de produção ao ponto de lutar para não ser rebaixada. O motivo, Alex revela: "Coisas inaceitáveis dentro de um grupo".

Esse pode ser o último ano da sua carreira?

Não penso muito nisso. Até porque, se eu analisar 2013 individualmente, para mim foi bom. Poucos jogadores fizeram mais gols do que eu no Brasil. Se for olhar o fato de que eu joguei em uma equipe que brigou para não cair e que estava retornando ao futebol brasileiro, os números foram razoáveis.

O que pesou para você seguir no Coxa?

O Coxa. Só o Coxa. É uma decisão 100% emocional. Se eu agisse de forma racional, teria ido embora. Em outros clubes as condições de disputa seriam maiores, o leque de competições seria maior. Fiquei porque gosto do Coritiba. Só por isso. E chega a ser uma decisão irracional, porque jogar no clube em que você é torcedor é muito mais difícil. Em termos de preparação psicológica, para mim foi muito mais difícil do que jogar no Palmeiras, no Cruzeiro ou na Turquia.

Você está em uma situação privilegiada, de optar por jogar no seu clube do coração, em detrimento de propostas melhores. Como é chegar a essa fase da carreira?

Consegui fazer tudo o que um garoto que começa no futebol sonha. Poderia até ganhar mais dinheiro agora, mas a minha decisão é em cima da alegria do meu sonho de menino que saiu de Colombo e venceu na vida. Isso me orgulha.

Em 2013, o clube teve de lutar para não ser rebaixado. O que o Coritiba está fazendo de diferente para 2014?

O que o clube está fazendo é trazer jogadores pontuais. Por exemplo, a lateral direita hoje não é mais só o Victor Ferraz. Chegou mais um [Norberto, do América-RN] e o Moacir, que é volante, mas sabe fazer a função. E ainda tem o Gil, que também atua por ali. Dá para dizer que hoje temos quatro laterais na direita.

Quando o time era líder do Brasileiro, último invicto a cair, houve um deslumbre?

Não acredito em deslumbre. Acredito em supervalorização.

Em que sentido?

De achar que era um baita time por ser líder da competição, por fazer não sei quantos jogos que não perdia. No dia a dia, a gente fez vários alertas, dizendo "olha, não funciona assim, o ano é longo, tem muita coisa para acontecer". Só que aí você vira advogado do diabo.

Por que essas ponderações não surtiram efeito?

O pessoal me ouviu, mas não me escutou. Peguei fama que estava falando muito e me retraí. Tinha de estar todo mundo na mesma sintonia. E a gente não tinha essa sintonia. Aí as dificuldades vieram.

Mas o que faltou para o time dar o estalo e tentar voltar aos trilhos?

Esse estalo só veio na partida com o Criciúma, porque ali mudou tudo. O Chamusca foi embora e o Tcheco assumiu o time. Quem não havia percebido que o momento era de risco, passou a perceber. O que o Tcheco fez naquele momento foi manter 20, 22 jogadores que poderiam ajudar e o resto ele jogou de lado, levou para a diretoria definir. Mas do início do segundo turno até o jogo com o Criciúma muita gente não entendia que o momento era delicado. Só que a situação estava delicada desde a derrota para o Atlético no início do returno. Muitos demoraram para ter essa percepção.

O Tcheco, agora gerente de futebol, disse que vai impor disciplina ao grupo. Faltou isso ano passado?

Faltou, porque aconteceram coisas inaceitáveis ano passado. Eu espero que com ele, pelo peso dele no clube, a coisa seja mais organizada. Afinal, além de participativo, ele é um dos ídolos mais recentes do Coritiba e sabe como as coisas funcionam no vestiário, sabe como funcionam no clube.

Quais seriam essas coisas inaceitáveis?

Horário, por exemplo. Caso de jogador chegar atrasado para o treino, para a concentração, para a viagem, de não respeitar aquilo que era colocado pela diretoria ou por quem estava acima da gente.

Dá para vislumbrar um objetivo específico na temporada?

O que posso dizer é que temos um grupo de bons jogadores e mais calejado, graças ao que ocorreu em 2013. Principalmente depois de agosto, quando o grupo se juntou muito. São coisas que o torcedor não sabe, mas fora de campo os jogadores se aproximaram demais para tirar o Coritiba daquela situação. Porque chegou um momento em que não tinha mais torcida, diretoria, técnico ou reforço para dar jeito. A gente tinha de resolver dentro das nossas possibilidades.

Dessa união dá para tirar força para toda a tem­porada?

Dá. Tenho dito ao pessoal que é uma sequência de tudo o que a gente passou em 2013. Só que agora nós podemos buscar coisas para sermos felizes, não para sofrermos. É um grupo mais fortalecido, que tem um entendimento melhor das coisas, porque sabe o que fez de bom e o que fez de ruim. Então temos de tirar proveito dessa experiência toda.

Sobre as reinvindicações do Bom Senso FC, a CBF não tem dado as respostas às propostas...

Nenhuma. É uma petição clara, cristalina e palpável, mas não sei porque eles não estão dando as respostas. É um mistério. O diálogo está a passos lentos.

Há possibilidade de manifestações nos Estaduais?

Não conversamos sobre isso. Estamos em cima do fair play financeiro para saber quem está devendo. Em termos de calendário não se pode fazer mais nada, porque tem a Copa, então já está definido. Agora o desequilíbrio financeiro tem que acabar o quanto antes no futebol brasileiro. Se você tem R$ 100 no caixa, não pode gastar R$ 110.

O fair play financeiro será a luta mais difícil do Bom Senso FC?

Sim. Até o presidente Vilson [Ri­­beiro de Andrade, do Co­­ri­­ti­­ba] é o representante da associação dos clubes que está discutindo com a presidente Dilma uma forma de conseguir que os clubes paguem as dívidas fiscais e trabalhistas e inaugurem o marco zero. Depois de pagas essas dívidas, o clube só poderia gastar aquilo que realmente tem de receita, o que nunca aconteceu. É uma briga boa. E se associação dos clubes entrar em consenso com o governo, o marco zero já deve começar em 2014 ou 2015.

O que você acha da possibilidade de o governo anistiar a dívida dos clubes?

Sou totalmente contra. Se deve, tem de pagar. Tem que haver compromisso moral, independente se a dívida é de R$ 1 milhão ou de R$ 100 milhões. Não dá para tirar um montante tão grande de dinheiro [do pagamento de impostos atrasados] tendo uma educação tão deficitária como é a nossa.

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