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 | Marcio Rodrigues/MPIX/CPB
| Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

As seleções brasileiras de basquete e de rúgbi em cadeira de rodas têm comissões técnicas ecléticas. Tão importante quanto o treinador, é o mecânico. Essas equipes, que disputarão a Paralimpíada a partir da semana que vem, contam com um profissional exclusivo para trocar pneus, fazer balanceamento, lubrificar rolamentos, checar fissuras, costurar os encostos e, se necessário, supervisionar o serviço de soldagem. E eles precisam ser rápidos: durante as partidas, os reparos têm de ser feitos em menos de um minuto, enquanto a bola estiver em jogo.

“Meu pit stop é mais rápido do que os da Fórmula 1“, brinca Fernando Sampaio, 42 anos, mecânico da seleção masculina de basquete e soldador profissional. “Torço para não ter o que fazer. Não fujo do trabalho. É que não quero que meus atletas percam nem um segundo em quadra.”

Fernando, que é cadeirante, consequência da poliomielite contraída aos 9 meses, explica que se o conserto demorar mais do que um minuto, o atleta é substituído até ele terminar o serviço.

Durante as partidas, as tarefas principais são trocar a câmara do pneu e eixos quebrados ou empenados. A substituição das rodas pequenas é geralmente feita entre um jogo e outro, por causa da quantidade de parafusos para afrouxar e apertar. A menos que elas quebrem totalmente. E quando a cadeira rompe, não tem jeito. Só com solda. Esse trabalho só pode ser feito em ambiente controlado, após os confrontos.

“Nesse caso, é placa na garagem. O cara está fora daquele jogo“, completa Fernando. “Cada atleta tem a sua cadeira de rodas personalizada, segundo sua deficiência, preferências e modo de atuar. Não consegue usar a de outro. E nossa função é deixá-lo despreocupado.”

Jogador de basquete em Paulista, região metropolitana do Recife, ele sempre quis representar o país numa Paralimpíada. Nem que fosse fora das quadras. O Rio-2016 marca sua estreia.

Bruno Ferreira, de 29 anos, tetraplégico após acidente na piscina, e atacante da seleção brasileira de rúgbi, que vai estrear em Paralimpíada, exalta o trabalho dos mecânicos.

“A cadeira é uma extensão do corpo. Precisa estar 100% para a gente jogar normalmente. Sem eles, não dá”, explica o jogador. “E, na nossa modalidade, a porrada é livre.”

Isso quer dizer que Pedro Henrique Rosa não tem vida fácil. O mecânico, que já foi voluntário nessa função e hoje é técnico de um clube de rúgbi no Rio, entra em quadra com o jogo rolando e também tem até 1 minuto para os ajustes. Na modalidade, os atacantes têm cadeiras com parachoque na área dos pés. Os defensores têm uma grade no mesmo local. “Tenho de me antecipar à jogada, entrar rápido e deixar o atleta pronto para continuar na partida”, conta Pedro Henrique, de 28 anos, que estreia na função na seleção brasileira.

No rúgbi para cadeirantes, as batidas são frequentes e violentas. Mas as cadeiras são semelhantes entres as seleções. Cada equipe tem quatro atletas, além de oito reservas. Os times são mistos, mas o Brasil não conta com nenhuma mulher na seleção. Os jogos ocorrem em quadras, e o objetivo é passar da linha do gol com as duas rodas da cadeira e a bola nas mãos.

Basquete

Já no basquete, a violência é menor, apesar das batidas. Atletas dos EUA e Canadá, entre outros, contam com cadeiras resistentes e leves, de fibra de carbono. No Brasil, nenhum jogador tem cadeira top de linha. Usam as de alumínio, mais pesadas e fáceis de romper.

“Levamos alguma desvantagem porque, com cadeiras melhores, os atletas são mais ágeis. Mas os estragos são grandes mesmo assim. Trabalho mais quando o Brasil enfrenta as americanas e as canadenses“, conta Marcelo Romão Ferreira, de 45 anos, mecânico da seleção feminina de basquete, que já vai para a terceira Paralimpíada.

Casado com uma cadeirante ex-atleta da seleção, ele percebeu a dificuldade para a contratação de serviços simples de manutenção tanto nas cadeiras sociais quanto nas esportivas (são monoblocos com pneus inclinados). E mudou de profissão. Passou de segurança a mecânico. Explica que os mecânicos entram na quadra para erguer atletas caídos, após batidas, e também para retirá-los para efetuar os reparos.

“Em grandes eventos, o serviço de soldagem é oferecido por patrocinadores. Por isso, apenas supervisionamos. Para mim, a rapidez na hora do jogo é o principal, além, é claro, de saber costurar“, diz Marcelo, que tem de recuperar os encostos com linha de nylon, entre uma partida e outra. “No jogo, é no jeitinho, com fita adesiva.”

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