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Aparelhos estão velhos e precisando de manutenção. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Aparelhos estão velhos e precisando de manutenção.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O difícil sonho de se tornar atleta de ponta da ginástica artística brasileira é especialmente desafiador para as cerca de 30 crianças de baixa renda que treinam gratuitamente no ginásio de esportes do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná, na sede do Jardim Botânico, em Curitiba.

Não bastassem as condições precárias dos equipamentos que remontam à década de 1970, há tempos enferrujados e corroídos, o professor da equipe da universidade, Tiago Ventura, tem de conciliar o trabalho de mestre da equipe universitária com o de dedetizador.

“Sendo bem franco, a estrutura é muito ruim. Chega a ser perigoso. A gente teve de retirar parte do tablado após uma visita da Vigilância Sanitária, que queria interditar o local. Se não fossem essas condições, o nível dessas crianças já estaria bem melhor”, relata Ventura, bolsista da própria UFPR e que há três anos é professor do projeto. “Eu sempre tiro ratos daqui. Infelizmente têm. Principalmente na parte das argolas, tinha um ninho de rato. Eu sempre estava ali e os tirava”, revela.

Crianças convivem com rachaduras nos equipamentos.Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Desde o início do ano, a especialista em finanças Liliani Roncato Klemz, 42 anos, acumula tarefas de mãe e ginasta. Ao mesmo tempo em que conduz a filha de nove anos, Giuliana, para as classes, Liliani aproveita para também se exercitar. “Fico bem entristecida com estas condições. Não precisaria de um investimento gigante para melhorar a estrutura”, lamenta.

Conquistas

Os atletas da UFPR foram bem no Campeonato de Estreantes da Federação Paranaense de Ginástica, em Telêmaco Borba, em novembro. Na categoria acima de 13 anos geral, Julia Letícia Shneider ficou em 1º, Taila Brandes Abrahão em 2º e Rebeca Letícia Dias em 3º. Jonathan Vieira Stoklein, da categoria masculino 11 e 12 anos, e André Belo dos Santos, acima de 13 anos, ficaram em 1º lugar.

Quando a equipe participa de competições, o valor das inscrições e das viagens é bancado pelos pais e mães das atletas. Em novembro deste ano, a equipe conquistou cinco medalhas no Campeonato de Estreantes organizado pela Federação Paranaense de Ginástica, em Telêmaco Borba. Feito que não seria alcançado sem a atuação dos pais.

“A gente faz rifas e vaquinhas, cada um dá o que pode. Bancamos desde a parte do transporte até as inscrições. Se formos esperar... Já tivemos de abrir mão de campeonatos por falta de recursos”, completa Liliani.

Pressão dos pais

Idealizador e coordenador do projeto comunitário de ginástica e circo da UFPR, implementado em 1997, o professor Sérgio Abrahao, afirma que há anos vem lutando internamente na universidade para garantir a substituição dos equipamentos.

“A gente vem pleiteando essa luta há uns sete anos. São equipamentos originais do início do projeto, então têm muitos anos de uso já”, admite.

Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Abrahao revela que a intensa batalha nos bastidores, aliada à pressão interna, por parte dos pais dos alunos, e à externa, relacionada às visitas da Vigilância Sanitária, rendeu frutos. O coordenador espera receber no mês de janeiro a chegada de um novo tablado. “Com o empenho de todos, tivemos uma liberação para a compra, que sairá pelo valor de R$ 102 mil, bancado pela universidade. Tem perspectiva de melhora, justamente porque temos um grupo de mães muito atuante”, elogia Abrahao, que confia no potencial dos alunos do projeto.

“Pensamos em um projeto gratuito que realizasse os sonhos das crianças. Nosso financiamento é zero. O que acontece aqui acontece no resto do país. Não estamos em uma ilha. Com a melhoria dos materiais, teríamos resultados muito melhores”, encerra.

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