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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A vida da esgrimista curitibana Amanda Netto Simeão tem sido intensa. A eliminação em sua estreia na Rio 2016 , na manhã de 6 de agosto, diante da francesa Marie-Florence Candassamy por 15 a 6, representou bem mais do que uma rápida participação olímpica na espada individual. Foi o epílogo de um ciclo conturbado que começou um pouco depois do anúncio do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos, em 2009.

Quando a moça de 22 anos, profissional desde os 15, descobriu que iria fazer da esgrima o seu propósito de vida, foi para a Europa treinar com Daniel Levavasseur, técnico francês responsável por nove medalhistas de ouro em Jogos Olímpicos. Acompanhada da família, evoluiu tecnicamente e começou a participar de meetings internacionais. “Eu era a caçula das competições”, relembra. Contudo, a volta da mãe ao Brasil, em 2012, deixou Amanda perdida. Longe dos pais e dos amigos, começou a ser assolada por uma tristeza profunda. O diagnóstico veio rápido: depressão. “Cheguei a pensar em largar a esgrima. Eu não estava bem. Esgrima é um esporte mental. Não basta estar bem fisicamente e tecnicamente. É preciso saber gerenciar as emoções. Resolvi voltar ao Brasil e recomeçar”.

GALERIA: Veja fotos da esgrimista Amanda Netto Simeão

A partir de 2013, Amanda começou a alternar pequenas temporadas no exterior e teve uma surpresa: a nova política da Confederação Brasileira de Esgrima. De uma hora para outra, a equipe brasileira, sem tradição alguma no esporte, começou a receber estrangeiras bem ranqueadas e com relação direta e indireta com o país. Primeiro, veio Nathalie Moellhaussen, italiana, neta de brasileiros, 24ª do ranking mundial. Depois Katherine Miller, americana filha de pai brasileiro. Por fim, a húngara Emese Takács. De número 1 do ranking nacional, Amanda começou a ver sua participação nas Olimpíadas ameaçada – apenas três atletas competiriam no individual. “A chegada delas foi um baque. Vieram com experiência, resultados e carreira internacional. Estavam em um nível superior”, avalia.

Na próxima Olimpíada estarei mais preparada. Estou trazendo quatro técnicos de prestígio internacional para me prepararem. Preciso ter também um psicólogo e um fisioterapeuta me acompanhando nas competições. As pessoas acham que basta entrar e competir. A esgrima individual não é um esporte solitário

Amanda Netto Simeão esgrimista curitibana

Então, prestes a ser definida como reserva, Amanda descobriu que a húngara tinha supostamente realizado uma naturalização fraudulenta. A família entrou na Justiça . Em maio, a desembargadora Anna Karina Stipp, da 5ª Vara Federal de Curitiba concedeu liminar cassando a naturalização, indicando que havia “forte indício” de que Takács não tinha residência fixa no país e tinha forjado casamento com o fotógrafo freelancer Rafael de França Barreto, em maio de 2013, para ter direito à cidadania. Por fim, a húngara caiu fora da equipe . “Não era justo para a gente uma estrangeira chegar e roubar a nossa vaga ilegalmente”.

Esgrimista ‘musa’, paranaense competiu com ligamento do joelho rompido

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Se não bastasse, em fevereiro, Amanda rompeu os ligamentos do joelho direito. Certa de que teria de operar, apelou para uma espécie de prótese sob medida para atenuar os efeitos da lesão. “Duas semanas antes do Jogos, meu joelho virou de novo, num treinamento. Ainda perdi mais uma semana de preparação e cheguei a treinar de cadeira de rodas”. Na estreia, dava para notar o nervosismo da curitibana, que parecia congelada, como relembra, e as suas limitações físicas, principalmente para contra-atacar. “Eu estava bem. Nunca iria competir, tirar a vaga de alguém, sem estar em condições. Peguei uma esgrimista de grande currículo, experiente e que jogou melhor do que eu”, se defende.

Ao fim do dia, Nathalie Moellhaussen garantiu o melhor resultado da esgrima feminina do Brasil em Jogos Olímpicos ao chegar às quartas de final. Por equipes, o Brasil foi eliminado pela Ucrânia nas oitavas de final.

Japão

Após os Jogos, Amanda lida com a realidade mais rasteira da maioria dos esportes nacionais: a dificuldade para seguir competindo em alto nível. “Para disputar um ano de competições internacionais, se gasta aproximadamente R$ 250 mil”. Amanda é patrocinada pelas Forças Armadas, por marcas de joias, é garota propaganda de uma marca de luvas de látex e tem sido sondada pelos diretores da Playboy – ela teria recebido oferta de R$ 600 mil reais para posar nua. “Não posso falar publicamente sobre esse assunto”.

Vaidosa, ainda tem que lidar com a popularidade nas redes sociais após receber a alcunha de musa dos Jogos. “Não vou dizer que isso não melhora a autoestima. Seria assim para toda a mulher”. Para jogar, ela não dispensa da bolsa de competições a maquiagem, spray para tirar a oleosidade do cabelo e perfume. “Vai que a gente sobe no pódio? Tem de estar bonita.” Seus perfis no Facebook e Instagram, por exemplo, ganharam uma avalanche de novos seguidores.

O INÍCIO: Amanda Simeão conta como começou sua ligação com o esporte

Fora do mundo virtual, Amanda tem um sério problema para lidar. Terá de operar o joelho e ficar de seis a nove meses para se recuperar completamente. “Terei tempo para montar a minha academia e construir minha equipe técnica”. A Academia de Esgrima Amanda Netto Simeão, localizada na região nobre do Batel, deve ser o QG da atleta a partir de dezembro. O objetivo principal é classificar para Tóquio. “Na próxima Olimpíada estarei mais preparada. Estou trazendo quatro técnicos de prestígio internacional para me prepararem. Preciso ter também um psicólogo e um fisioterapeuta me acompanhando nas competições. As pessoas acham que basta entrar e competir. A esgrima individual não é um esporte solitário”.

Desde seu retorno dos Jogos, Amanda tem participado de jantares, reuniões com dirigentes, tratativas com patrocinadores e entrevistas às emissoras de rádio e televisão. “Eu queria mesmo, sabe, era viajar para uma ilha, tirar um pouco minha cabeça do mundo”, confessa.

  • A esgrimista curitibana Amanda Netto Simeão disputou no Rio de Janeiro sua primeira Olimpíada, fechando um ciclo muito difícil para a atleta de apenas 22 anos. Mais amadurecida, ela já traça planos para os próximo quatro anos até Tóquio-2020. Em meio a tudo isso, lida com a popularidade que os Jogos trouxeram, inclusive com a alcunha de musa. Veja fotos da esgrimista durante e depois da Olimpíada carioca.
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