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Selecionei nos últimos dias três jogos que me impressionaram pela dignidade dos atletas em campo. Primeiro o histórico 5x4 do Atlético sobre o América-MG, depois o raçudo empate do Coritiba contra o Grêmio e na terça-feira a vitória do Paraná Clube, espremida até a última gota do suor, sobre o Ceará, na escaldante Fortaleza.

Quando em 2009 a torcida do Fluminense criou uma harmoniosa saudação épica "guerreiros, guerreiros, guerreiros...", a tribo comandada pelo bicho do Paraná Cuca disseminou tudo o que vinha pela frente. Não deu outra, o Tricolor carioca manteve-se na elite do Brasileirão.

No futebol, tudo é possível, desde que haja perseverança. Pergunto: será que é tão difícil assim manter a superação? No caso do Coritiba, a referência de doação até poderia ser o jogaço de quinta-feira no Rio de Janeiro. Mas em grau de dificuldade, a extração máxima deu-se no Olímpico. O Grêmio estava sem gordura, enquanto o Fluminense ainda poderia queimar uns pontinhos. E mais: a valorização naquele empate somou-se ao fato de o Coritiba aguentar a pressão jogando com a terceira dupla de zaga.

Com dois jogadores expulsos, salários atrasados e sem maiores ambições além de sacramentar a permanência na Série A, o Paraná Clube foi um boxeador que recebeu uma saraivada de golpes durante dez rounds, todos eles amortecidos por uma guarda bem fechada. E num só cruzado certeiro mandou o adversário para a lona. Ganhou por pontos – e que pontos (foram três)! – no Ceará. Quanto ao 5x4 de Atlético e América, disparado o melhor jogo da Série B, o Rubro-Negro foi além do limite. Magistral.

Hoje o Atlético precisa de toda a volúpia contra um Guaratinguetá que caminha rente ao despenhadeiro. Há pouca diferença técnica entre os que estão no biju da polenta e os que se espalham como queijo ralado na superfície dela. E isso serve para as divisões A e B. Havendo motivação, tudo se equivale, e aí o que decide é aquele algo mais. Aquilo que Ayrton Senna trazia na mente e que Vanderlei Cordeiro de Lima buscava na profundeza pulmonar. Com a permissão do amigo Carneiro Neto e seu bordão criativo no tempo de narrador: é disso que o povo gosta.

Gesto nobre

Recebi de Cid Campêlo Filho, por e-mail, cópia da sua carta de demissão do Conselho Deliberativo do Atlético. As razões para sua saída, todos nós sabíamos. Dizem que Deus, o verdadeiro e único, escreve certo por linhas tortas. Já os professores de Deus, acreditem ou não, escrevem torto por linhas certas. Diante dessas divindades maquiavélicas, muitos se calam por medo ou subserviência. Poucos têm a coragem e a dignidade de contestar o absurdo. O gesto de Cid Campêlo não tem nada a ver com heroísmo, mas é ao mesmo tempo ridículo atribuir a ele um ato de traição. Foi sim um gesto de nobreza. O ex-vice deve ter refletido: ‘O mal quando se finge de bom é péssimo. Tô fora’. E saiu

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