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Ação Inovadora

Mais adaptáveis à crise, fintechs mantêm níveis de investimentos em alta na pandemia

Fernando Henrique de Oliveira, especial para o GazzConecta
31/08/2020 13:59
Se a inovação é a palavra de
ordem para muitos setores da economia neste momento, as fintechs saíram na
frente. A capacidade de inovar está na raiz do surgimento dessas empresas em
ampla expansão mundo a fora, inclusive no Brasil.
Nos últimos quatro anos, de acordo com o mapeamento do Distrito, plataforma de inovação de startups, empresas e investidores, o país acompanhou o surgimento de quase metade das empresas do segmento que estão atuando no mercado nacional. Segundo o FinTech Report 2020, 742 fintechs estão em atividade em solo brasileiro, 49,6% delas surgidas a partir de 2016. Grande parte delas são startups que oferecem soluções financeiras com produtos 100% digitais.
Esta é a principal característica
dessas empresas, a tecnologia como base para a oferta de serviços financeiros. O
nome fintech vem da combinação dos termos financial
(“financeiro”, em inglês) e technology
(“tecnologia”) e engloba diferentes categorias, todas tendo a inovação
tecnológica como origem de seus negócios, muitos deles criados para
democratizar serviços até então concentrados nas mãos de grandes bancos.
“Este é um dos fatores que tornam o ‘ecossistema’ das fintechs muito mais pungente, principalmente no Brasil, que tem a maior parte do mercado financeiro centralizado em poucas, porém grandes instituições com pouca concorrência entre si e serviços nem sempre tão eficientes. Essa é uma grande oportunidade para que pequenas empresas de tecnologia possam preencher lacunas de mercado com soluções inovadoras e alternativas ao que oferecem os grandes bancos”, afirma Marco Antonio Mazzonetto, gerente do Scale-Up Endeavor, programa de aceleração de negócios escaláveis da Endeavor.
Marco Antonio Mazzonetto, de Curitiba, gerente do Scale-Up Endeavor, programa de aceleração de negócios escaláveis da Endeavor. Foto: Felipe Tazzo.
Marco Antonio Mazzonetto, de Curitiba, gerente do Scale-Up Endeavor, programa de aceleração de negócios escaláveis da Endeavor. Foto: Felipe Tazzo.
A burocracia, falta de acesso a serviços bancários e de crédito, além das altas taxas dos juros são outros fatores que contribuíram para o surgimento de muitas fintechs no Brasil. A maioria delas, de acordo com o estudo do Distrito, são de serviços de pagamento (16,4%) ou de crédito (15,8%). As empresas de backoffice, que criam sistemas de gestão financeira para outras companhias, como contabilidade, precificação e gerenciamento, estão em terceiro lugar no ranking, com 15,1%.
De modo geral, as fintechs parecem menos afetadas pela pandemia de coronavírus que outros setores da economia tradicional. Segundo Gustavo Gierun, cofundador do Distrito, até fevereiro deste ano, o setor acumulou recordes de investimento, o que aqueceu um mercado que soube se adaptar às novas condições impostas pela crise. “O impacto maior foi em relação ao capital investido nas fintechs no Brasil, principalmente nos meses de março e abril, que caiu bastante. No entanto, houve uma rápida recuperação. Os números de investimentos nos últimos meses impressionam”, comenta Gierun.

Fintech curitibana lidera segmento

Dentro desta categoria, uma das fintechs que mais crescem no Brasil é a curitibana Contabilizei, um escritório de contabilidade online com mais de 20 mil clientes em todo o país. Fundada em 2013 pelos sócios Vitor Torres e Fábio Bacarin, a Contabilizei surgiu para facilitar serviços contábeis para micros e pequenos empresários de forma mais acessível. Líder no segmento, a empresa já conseguiu mais de R$ 100 milhões em investimentos nacionais e internacionais, o que ampliou suas unidades de negócio e oferta de serviços.
Graças a integrações com outras
empresas, a Contabilizei facilitou o pagamento de impostos para o micro e
pequeno empresário que, pela plataforma, pode parcelar os tributos no cartão de
crédito, além de poder acessar o demonstrativo contábil e financeiro no mesmo
aplicativo, mais um exemplo de inovação obtido pela empresa, que tem passado
por esse período de pandemia sem grandes impactos.
“Fomos muito cautelosos no início da crise, segurando investimentos e ações para saber como o mercado iria reagir. Em maio, percebemos que a pandemia não afetou, diretamente, os nossos negócios. Seguimos juntos, com o mesmo time, mas todos remotos, trabalhando de suas casas”, revela Vitor Torres, CEO da Contabilizei.
 Vitor Torres, CEO e cofundador da Contabilizei, em Curitiba. Atividades da empresa se mantêm estáveis com a pandemia, com os mais de 400 funcionários em home office. Foto: Divulgação.
Vitor Torres, CEO e cofundador da Contabilizei, em Curitiba. Atividades da empresa se mantêm estáveis com a pandemia, com os mais de 400 funcionários em home office. Foto: Divulgação.

Curitiba é um dos principais polos de fintechs do Brasil

Até agosto, o total investido em
fintechs no Brasil foi de 629 milhões de dólares, mais da metade do total de
2019, que bateu o recorde de 1,092 bilhões de dólares. Falar em funding, a capacidade de captar
investimentos, quando o assunto é fintechs é importante, porque ele demonstra o
potencial das empresas no mercado como um todo, de acordo com Marco Antonio Mazzonetto,
da Endeavor.
Neste sentido, Curitiba desponta como um dos ecossistemas de inovação mais promissores do mundo, de acordo com o Global Startup Ecosystem Report 2020. Segundo o FinTech Report 2020 do Distrito, o Paraná é o quarto estado com o maior número de empresas do setor do Brasil, com 7,3% do total de fintechs nacionais.
“O Paraná é um dos estados mais promissores para o desenvolvimento de tecnologia e inovação, principalmente Curitiba. O fato de a cidade ter grandes players no mercado ajuda neste sentido. Uma fintech, quando cresce, alavanca outras empresas e isso vemos acontecendo na capital paranaense. Além disso, o ambiente de desenvolvimento tecnológico na cidade contribui muito para o surgimento de novas startups. Mas, para que possam se destacar no mercado, elas precisam entender muito bem sobre a sua área de atuação. Você só inova se conhecer a fundo o terreno onde pisa”, avalia Mazzonetto.

Cenário das fintechs no Brasil