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Capacidade de inovação das empresas é que guiará a superação da crise em decorrência do coronavírus. Foto: Unsplash

Ação Inovadora

Pandemia acelera mudanças e torna inovação indispensável para empresas superarem crise

Vivian Faria, especial para o GazzConecta
17/08/2020 12:50
Com 62,4% das empresas em funcionamento no país tendo sido impactadas negativamente pela pandemia de Covid-19 até o fim de junho, de acordo com levantamento feito pelo IBGE*, mudanças têm sido inevitáveis em todos os tipos de negócios. Adoção do trabalho remoto, alterações na entrega de produtos e na prestação de serviços, e ampliação da carteira de produtos e serviços foram algumas das inovações implantadas -- e, de acordo com especialistas, essa capacidade de adaptação e inovação é necessária para que as empresas se mantenham de portas abertas durante e depois da crise.
“Até ontem o cliente se comportava de uma forma, daí veio esse contexto de pandemia e mudou esse comportamento. Então, o empresário precisa mudar sua estratégia e isso precisa acontecer de uma forma muito rápida”, explica o coordenador estadual de inovação do Sebrae/PR, Weliton Perdomo.
Engana-se, porém, quem pensa que as alterações são temporárias: para quem trabalha com inovação, a pandemia está acelerando uma série de mudanças que já estavam em discussão ou andamento e que, portanto, dificilmente serão revertidas.
“O que estamos vendo é a antecipação de coisas que já sabíamos que iam acontecer. Em 2021, vamos viver no mundo em que viveríamos em 2024, 2025, no que diz respeito ao trabalho, ao comércio, à educação. E se essas coisas se aceleram, a consequência é que nós vamos ter que ser mais inovadores, vamos ter que reorganizar nossas ofertas, nossos produtos, nossos modelos de negócio”, afirma o diretor de inovação da multinacional ISH e colunista do GazzConecta, Allan Costa.
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Inovar, mas como?

Apesar de a crise exigir pressa, dois pontos devem ser lembrados antes de tentar se adaptar a esse novo momento (ou se considerar inapto a isso): o primeiro é que inovação é um conceito muito mais simples e amplo do que muitos imaginam.
“Existe um paradigma a ser quebrado de que a inovação é algo complexo e inalcançável, que ela está nas mãos dos centros tecnológicos. Isso faz com que muitas empresas não invistam em inovação, que é simplesmente uma ideia que foi implementada com sucesso e gerou algum resultado positivo”, explica a professora de engenharia de produção da PUCPR, Fernanda Paola Butarelli, que também coordena, no câmpus Toledo, o ecossistema de inovação da instituição, a Hotmilk.
Assim, as inovações podem se traduzir em mudanças relacionadas desde ao modelo de negócio até o produto ou serviço final que chega ao cliente, passando por todos os processos internos e externos da empresas. Elas também podem ou não depender de tecnologia, assim como da colaboração com startups e outras companhias.
É por isso que os profissionais da área consideram que inovar é não apenas compatível com pequenas empresas -- que correspondem, conforme o Sebrae, a cerca de 99% do total de empresas do país e estão, de acordo com a pesquisa do IBGE, entre as mais afetadas pela pandemia (62,7%) --, como também pode ser mais fácil para elas, já que o fato de terem uma equipe e processos mais enxutos e rápidos torna mais ágil a implementação de novas ideias.
O segundo ponto é que a inovação não deve ser pensada como uma ação pontual, mas, sim, como uma cultura ou mentalidade. É preciso, então, criar um ambiente que a estimule, compartilhando a manutenção dele com todos que fazem parte da organização. Caso contrário, ela acontecerá sempre em reação a uma mudança no mercado e, de acordo com os especialistas, nem sempre os empreendedores terão tempo para reagir, o que resultará no fechamento de negócios.
Com isso em mente, parte-se para a prática. “O primeiro passo é o empreendedor manifestar seu interesse, seu olhar para a inovação. Ele precisa também comunicar seu time sobre a necessidade de inovar e, quanto mais ele estimular ou recompensar as pessoas a darem ideias, melhor”, diz Perdomo.
Há uma série de metodologias e ferramentas que podem ser aplicadas para facilitar o processo, desde as mais tradicionais -- como a análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças (SWOT, na sigla em inglês) -- até algumas mais modernas -- como design thinking e o canvas.
O mais importante, no entanto, é manter um olhar questionador e aberto às oportunidades, principalmente num momento como este, em que há transformações sociais em andamento. “De um lado, o empreendedor deve tentar observar quais são os comportamentos e hábitos que vão se transformar, porque é daí que vêm as grandes mudanças [no mercado]. De outro, ele não deve olhar para o negócio como um que vende apenas determinado produto. Empresas que se apegam ao produto que vendem tendem a ter dificuldades brutais quando mudanças significativas acontecem”, diz Costa.

Recursos

Mesmo que a criação de uma cultura inovadora requeira um investimento muito maior de tempo do que de dinheiro, o desenvolvimento de serviços, produtos e processos pode depender de recursos, dos quais nem sempre o empreendedor dispõe. Nesse caso, entidades de fomento ao empreendedorismo e à inovação, assim como bancos oferecem oportunidades variadas.
O Sebrae, por exemplo, por meio do programa Sebraetec, oferece, em fluxo contínuo, subsídios a micro e pequenas empresas que necessitem de aporte para desenvolverem inovações relacionadas a design, tecnologia, produção e qualidade, ou sustentabilidade. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) também oferece financiamentos, reembolsáveis ou não, em fluxo contínuo ou por chamadas públicas.
Há ainda linhas de crédito de instituições como o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e a Fomento Paraná. De acordo com Perdomo, o principal entrave das empresas menores para conseguir esse crédito costuma ser a dificuldade para apresentar garantias. Nesse caso, ele aponta a parceria com uma sociedade garantidora de crédito como uma saída para o acesso aos recursos.
*Dados atualizados em 16 de julho de 2020, provenientes da Pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas, que integra estatísticas experimentais do IBGE.