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Juntas, gigantes como Amazon, Alphabet, Microsoft, Meta, Apple, Netflix e Twitter perderam mais de US$ 1 trilhão de valor de mercado.

Retrospectiva

2022: o ano em que unicórnios perderam valor e early stage virou protagonista

Maria Clara Dias, especial para o GazzConecta
26/12/2022 14:25
Este ano foi particularmente difícil para o ecossistema de startups, com balanço negativo para as big techs em 2022. Com cenário macroeconômico e político conturbados — realidade que incluiu guerras, alta da inflação e juros em escalada em todo o mundo —, as grandes e pequenas empresas de tecnologia também foram castigadas.
As primeiras a sentirem os impactos foram as grandes companhias de tecnologia. Com investidores mais moderados e um mercado mais cauteloso, as big techs tiveram, logo de cara, seus valores de mercado corrigidos. Companhias listadas em bolsa viram suas ações derreterem, numa baixa que procurava equilibrar os excessos dos últimos anos.
Na Nasdaq, bolsa de valores que é atualmente a principal referência para listagem de empresas de tecnologia, a desvalorização foi bilionária. Juntas, gigantes como Amazon, Alphabet (dona do Google), Microsoft, Meta, Apple, Netflix e Twitter perderam mais de US$ 1 trilhão de valor de mercado. Em um ano, a desvalorização destas e outras empresas do setor soma mais de US$ 7 trilhões, mostra um levantamento da CNBC feito com base nos balanços individuais dessas empresas.
Com as baixas nas grandes, startups também foram afetadas, especialmente aquelas que recebem grandes rodadas de capital. O cenário levou a investimentos mais escassos e, com as torneiras fechadas, empresas mais maduras, mas ainda dependentes de capital externo viram seus valores de mercado também despencar.
Entre os unicórnios, startups com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão, os impactos foram ainda mais perceptíveis. No mercado norte-americano, as startups que dominavam as a lista de rodadas de captação no terceiro trimestre de 2021 perderam cerca de metade de seu valor, mostra um levantamento divulgado pela consultoria Pitchbook.
Os cortes se tornaram prática comum ao longo do ano. Com rodadas mais raras e dinheiro, literalmente, mais caro, empresas que recorreram a novas captações tiveram seus valores de mercado recalculados - quase sempre para baixo. O exemplo mais notável é, talvez, o da fintech sueca Klarna.
A startup - até então fintech mais valiosa da Europa - passou por um período dramático em julho deste ano, quando teve de aceitar a desvalorização para concluir uma nova captação. Os US$ 800 milhões do novo aporte avaliavam o negócio em US$ 6,7 bilhões, 85,3% menor em relação ao de um ano atrás, quando a Klarna valia US$ 45,6 bilhões.

Realidade brasileira

Por aqui, a ocorrência dos downrounds - desvalorização das rodadas de investimento - foi menor, visto que os reajustes de mercado exigiram mudanças para startups, que passaram a se adaptar para evitar a necessidade de novas captações. Na lista estão o encerramento de operações em diferentes praças e também os layoff, demissões em massa que se tornaram recorrentes ao longo do ano atingindo empresas estabelecidas e unicórnios brasileiros como Loft, VTEX, Facily e Ebanx.
O menor número de captações para empresas late-stage favoreceu a expansão de empresas de menor porte e em estágio inicial de mercado, as empresas em “early stage” .Um levantamento do Sling Hub indica a preferência de investidores na América Latina por companhias que necessitem de cheques menores e com predisposição à inovação tecnológica e eficiência gerencial.
Outros dados do Distrito mostram que startups em estágio seed e early stage dominaram as captações brasileiras ao longo do ano, enquanto rodadas late stage encolheram quase 70%. Alguns casos, contudo, fugiram à curva. Em maio, o banco digital Neon recebeu aporte de mais de R$ 1 bilhão, alcançando o status de unicórnio.
Para 2023, o cenário de correções deve perdurar. A avaliação de especialistas é de que a resiliência de negócios com modelos comprovados e soluções capazes de atender às principais dores do mercado continuarão atraindo investimentos, e correções sejam menos numerosas que em 2022.
“O Brasil continuará sendo um cenário perfeito para as startups - problemas complexos em mercados gigantescos dentro de uma sociedade relativamente bem digitalizada”, afirma Gustavo Gierun. CEO do Distrito, em nota.