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Corporate venture capital: a vez dos investimentos privados em startups

Corporate venture capital

Grandes empresas já investiram mais de US$ 622 mi em startups brasileiras em 2021

Maria Clara Dias, especial para o GazzConecta
17/09/2021 18:00
Há quem diga que o único caminho para a inovação nas grandes companhias é a aquisição de startups, mas essa realidade deixou de ser restrita. Pelo contrário. O investimento privado em pequenas empresas, o chamado corporate venture capital, se mostrou uma solução para empresas que buscam acompanhar o ritmo acelerado de transformação digital, especialmente em setores profundamente impactados pela pandemia, como o financeiro e de varejo.
Essa é a conclusão do relatório Corporate Venture Capital, elaborado pelo hub de inovação aberta Distrito, em agosto deste ano. O estudo mostra que os investimentos em startups feitos por empresas dispararam em 2021, acumulando US$ 622 milhões nos primeiros sete meses do ano, um valor três vezes superior ao recebido durante todo o ano de 2020. Além de fomentar o crescimento de pequenas empresas, o corporate venture também serve de caminho para empresas que buscam estratégias de inovação que fogem das associações com fundos de venture capital, tradicionalmente associados ao risco. Outros caminhos como aceleradoras, incubadoras, chamadas abertas e joint ventures também estão ligadas à busca de corporações de grande porte pela inovação que vêm das pequenas.
Das principais motivações para empresas que buscam inserir o CVC dentro do rol de ações para dar um passo adiante na inovação, o relatório destaca o ganho financeiro, o acesso a tecnologias emergentes e também a novos mercados e canais.
O montante de US$ 622 milhões ainda representa uma pequena parcela dentro do total movimentado pelos braços de corporate venture mundo afora. De acordo com a CB Insights, cerca de US$ 80 bilhões foram investidos globalmente em startups em 2021 ao longo de 2.099 rodadas. Mesmo assim, os números do Brasil apontam para uma tendência que ganha ainda mais força na pandemia: a busca por reinvenção em uma velocidade que acompanhe as mudanças no perfil dos consumidores e do mercado.
Segundo Gustavo Gierun, cofundador do Distrito, a explicação para o “boom” está, entre outras coisas, no amadurecimento das startups brasileiras como um todo e a capacidade que essas empresas têm de solucionar problemas complexos. A maior liquidez no mercado de venture capital também coopera pela maior competitividade para empresas que querem passar a investir.
Entre as startups mais buscadas pelas empresas estão as do setor financeiro, que acumularam US$ 249 milhões em 2021, as de real estate, que receberam US$ 379 milhões e também as retailtechs, com US$ 206 milhões.

Inovação de longa data

Apesar de encarar uma alta diante da aceleração em virtude da pandemia, a transformação digital já faz parte da agenda de grandes empresas habituadas a repaginar seus modelos de negócio ao longo do tempo. O relatório analisa os investimentos privados feitos nas duas últimas décadas. No Brasil, as injeções de capital em startups feitas por empresas somam, de 2000 a 2021, US$ 1,3 bilhão.
Ainda que algumas companhias já incorporem o corporate venture capital em suas estratégias mais amplas de inovação aberta — e como uma maneira de acelerar a sua expansão —, o tema ainda é recente para empresas que ainda engatinham na inovação, segundo Gierun. “O processo de investimento e aquisição de startups é, normalmente, mais comum em empresas que lidam com inovação há mais tempo e, portanto, contam com mais maturidade”, afirma.
A maturidade das companhias que apostam nas startups, porém, não é algo comum a essas pequenas empresas. O estudo mostra que a preferência das empresas é por startups em estágio inicial de operação, preferencialmente em seed ou pré-seed, para 70% delas.
A motivação para isso, segundo Geriun, está no menor risco ao investir em empresas que podem cooperar para que a estratégia seja mais conservadora, tendo em vista que grande parte das companhias ainda está testando suas teses de inovação aberta e podem “acompanhar o desenvolvimento de novas tecnologias e testes de novos mercados antes de alocar energia, dinheiro e tempo de maneira definitiva”, diz.

Na indústria, boas-vindas à inovação

Na gigante química alemã BASF, a inovação aberta já é prática das antigas. Há 20 anos a empresa criou a BASF Venture Capital, braço autônomo de investimentos, na Alemanha. De lá para cá, ampliou a aposta em outros países, incluindo o Brasil – onde o CVC da empresa passou a funcionar em 2018.
O primeiro investimento aconteceu há 2 anos, quando a BASF Venture Capital aportou US$ 4 milhões no fundo brasileiro AgVentures II, gerido pela SP Ventures e que tem foco em startups de tecnologia do setor agrícola e de alimentos. Com a estratégia bem definida, hoje a empresa mantém uma interação com as pequenas empresas de base tecnológica de duas formas: investimentos em fundos de venture capital, ou injeções de capital diretas nas startups.
Dessa conversa nascem parcerias e novos produtos lançados ao mercado, segundo Karime Hajar Alves, gerente de Investimentos da BASF Venture Capital. “Esses programas de inovação aberta funcionam como um grande laboratório de experimentação, desenvolvimento e testes que culminam em soluções comercialmente viáveis e extremamente aderentes às demandas de mercado”, afirma.
A empresa, inclusive, foi recentemente reconhecida como a quarta companhia com o maior número de interações com startups do país pelo ranking 100 Open Corps, elaborado pela plataforma 100 Open Startups — atrás apenas de Ambev, ArcelorMittal e Banco BMG. Um avanço e tanto: há 2 anos, a empresa ocupava a 35ª posição.
A executiva diz que, para a BASF, investir em startups não está ligado apenas ao fato de fomentar o empreendedorismo inovador no país, mas também abrir portas e acesso a novos mercados. “Buscamos assegurar um retorno estratégico para a companhia que pode se traduzir em abrir novos mercados, direcionar e participar da disrupção de mercados mais tradicionais e trazer novas linhas de receita para a BASF”, diz.
Sobre o perfil das startups buscadas pela BASF, a palavra-chave é eficiência. A tese da BASF, como venture capital, está focada nos setores do agronegócio, nutrição animal e humana e cuidados pessoais, sem deixar de fora a indústria química de base — segmento no qual a companhia é líder. A química busca fundos que mirem startups de novos materiais, sustentabilidade, digitalização, inteligência artificial, novos modelos de negócios e tecnologias aplicadas a processos produtivos.
Já no caso dos investimentos diretos, com tíquetes entre US$ 1 e US$ 5 milhões, a empresa prefere as startups que elevem a régua da BASF quando o assunto é crescimento. “Preferimos fazer parceria com startups que possamos construir uma parceria estratégica ao longo do tempo, ajudando assim a obter acesso aos canais de distribuição, clientes e outros recursos da BASF em todo o mundo”, conclui.
Sem revelar números que expressam os resultados positivos, Alves afirma que o retorno do braço de CVC da empresa chega a ser "similar aos demais fundos de venture capital”.

O futuro do CVC no Brasil

Com os impactos cada vez mais perceptíveis da digitalização em diferentes setores, os investimentos em CVC devem furar a bolha da indústria financeira e do varejo em breve, segundo Gierun, do Distrito. Para ele, segmentos como real estate, saúde e logística devem evoluir em iniciativas de investimento e em valor injetado. “Veremos, em breve, uma série de empresas destes setores anunciando novos investimentos”, avalia.
Para ele, é possível que, com o amadurecimento das empresas e dos próprios braços de corporate venture Brasil adentro, novos casos de sucesso se tornem cada vez mais comuns, o que consequentemente vai fazer crescer o volume de recursos aportados, rodada após rodada.

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