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A tecnologia vem transformando o ensino na sala de aula. Para acompanhar o ritmo das novas gerações de estudantes, que já nascem conectados, o quadro negro, o giz e o caderno passaram a dividir espaço com computadores, tablets e outros recursos multimídia. O ambiente escolar vem sofrendo profundas alterações impulsionadas pelos novos aparatos tecnológicos que surgiram nas últimas décadas.

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Nesse cenário, onde as informações e o conhecimento estão acessíveis na palma da mão, o professor e o próprio modelo de ensino estão buscando se reinventar. Essa mudança é comprovada em pesquisas como a TIC Educação 2018 - Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras. O levantamento é realizado anualmente pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (Nic.br), que implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet do Brasil (Cgi.br).

A tecnologia presente na sala de aula de alunos e professores

A professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Nuria Pons Vilardell Camas, doutora em Educação e pesquisadora na área de tecnologias digitais, destaca que há diferenças entre acessar informações e desenvolver o conhecimento.

“O grande avanço é entendermos que ter a resposta na mão não significa aprender. Aprender é saber o que se faz com a resposta que se tem na mão. A escola e os educadores devem entender essa diferença para o enfrentamento deste período que vivemos”, pontua.

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Nuria lembra que os educadores e os pais não deveriam temer informações, mas se preparar para interpretar, relacionar, comparar e verificar esses dados.

“A dita ‘era da informação’ deveria ser festejada. Ela abre a possibilidade de aprendermos com maior profundidade, isso proporciona evolução e desenvolvimento”, analisa doutora em educação pelas UFPR, Nuria Pons Vilardell Camas.

A pesquisadora destaca o papel da universidade na formação dos profissionais da Educação, visando ao desenvolvimento das habilidades em conjunto com as tecnologias. Isso, segundo ela, inclui desde a busca constante pelo aprendizado, o uso das novas ferramentas e da inovação. “O educador e a escola que entenderem que aprender a aprender já é, por si só, um ato inovador, estão com metade do caminho andado”, enfatiza. Nesse cenário, ela afirma que o professor assume o papel de mediador, curador da aprendizagem do aluno.

Desafios diários do uso da tecnologia

Na casa da contadora Lise Luciane Draprinchinscki, os recursos tecnológicos são usados com moderação por Gustavo (13) e Gabriel (7), ambos alunos do Colégio Acesso. Os dois garotos têm celular e computador. Entretanto, somente Gustavo, que já é adolescente, utiliza redes sociais e pode explorar todas as funcionalidades do smartphone.

Ainda assim, ela diz que isso não chega a ser um problema, algo que atrapalhe a dedicação do menino aos estudos. As plataformas digitais são utilizadas como um recurso extra de pesquisa e para acompanhamento das atividades da escola. “O foco do Gustavo é ter com quem conversar. Ele não gosta de jogos individuais. Já o Gabriel prefere as brincadeiras tradicionais”, afirma a mãe.

 Gustavo (13 anos) e Gabriel (7anos) usam  a tecnologia de celulares e computadores de forma moderada. A mãe, Lise  Luciane Draprinchinscki, autorizou o uso de redes sociais e as funcionalidades do smartphone apenas para o mais velho. (Foto: arquivo pessoal)
Gustavo (13 anos) e Gabriel (7anos) usam a tecnologia de celulares e computadores de forma moderada. A mãe, Lise Luciane Draprinchinscki, autorizou o uso de redes sociais e as funcionalidades do smartphone apenas para o mais velho. (Foto: arquivo pessoal)

Até porque, segundo ela, dentro da escola o uso do celular é limitado e, caso o estudante não siga as regras, o aparelho é retirado. “Os livros são disponibilizados em uma plataforma digital. Isso é ótimo para o meio ambiente. Já o restante do material é impresso e exige a dedicação do aluno”, explica.

Uso da tecnologia mudou o comportamento do aluno na sala de aula

A professora Luciana Pacheco Klamas de Moura, titular de uma turma de 2.º ano do Ensino Fundamental, observa que mesmo nas etapas iniciais – com alunos que, em geral, não têm celular próprio – é notável a autonomia que apresentam no manuseio dos eletrônicos. “Acredito que pela vida acelerada da maioria dos pais, a conectividade tem sido grande aliada para entreter os pequenos, sem grandes riscos”, analisa. Segundo ela, isso reflete diretamente na postura em sala de aula.

“As crianças se tornaram mais imediatistas. Estão acostumadas a receber informações com a rapidez de um clique”, comenta a professora.

Aparelhos eletrônicos como tablets e smartphones estimulam as crianças dentro e fora da sala de aula. Atividades propostas com recursos tecnológicos são bem recebidos pelo aluno atual.
Aparelhos eletrônicos como tablets e smartphones estimulam as crianças dentro e fora da sala de aula. Atividades propostas com recursos tecnológicos são bem recebidos pelo aluno atual.

A opinião é compartilhada pela professora Leide Laura Aparecida Kiihl, que dá aulas de Português para turmas do 5.º ao 9.º ano do Ensino Fundamental. “As crianças são estimuladas pela tecnologia o tempo todo e, na sala de aula, não seria diferente. Percebemos uma grande influência da conectividade em sala através da necessidade que as crianças têm de compartilhar com os colegas os jogos que estão em evidência no momento. Quando propomos uma atividade que envolva algum recurso tecnológico, eles se mostram totalmente familiarizados com essas ferramentas”, observa.

Para Leide, o maior desafio dos educadores hoje é fazer com que as crianças conheçam a importância do conhecimento como algo transformador. “O primeiro passo para vencer a barreira imposta pela falta de interesse é se desprender de métodos e práticas que tendem a engessar a educação”, argumenta.

Ferramenta de aprendizado

Se por um lado a tecnologia chega como um divisor de gerações, por outro é entendida como um recurso extra no aprendizado. “A conectividade desenvolve habilidades importantes, além de oferecer repertório e maior conhecimento de mundo, com a possibilidade de ver e ouvir mesmo sem estar presente”, comenta Luciana. A professora, no entanto, afirma estar preocupada com a passividade dos estudantes diante das informações recebidas. “Hoje eles se posicionam cada vez mais no papel de receptores. Não é mais necessário empilhar os cubos, movimentar-se para fazer o gol ou criar uma situação problema com seus heróis e depois resolvê-la. Agora eles podem assistir, e isso é mais fácil. Sem serem protagonistas dessas ações.”

Na rotina escolar, a professora fala que procura envolver os estudantes com assuntos atuais e que despertem a curiosidade. Atividades que eles possam contribuir com seus conhecimentos. “Cabe a nós, educadores, não proibir o uso, mas incentivar o uso de maneira saudável", pontua.

Atualizar é preciso

O segmento educacional faz constante uso da tecnologia como forma de aprendizado. Professores estão em busca de atualização constante.
O segmento educacional faz constante uso da tecnologia como forma de aprendizado. Professores estão em busca de atualização constante.

A necessidade de acompanhar o processo de transformação digital é um assunto que vem sendo abordado com frequência pelo segmento educacional. A presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe-PR), Esther Cristina Pereira, afirma que essas novidades estão fazendo o modelo de ensino ser repensado. “Não existe como a escola se manter atrás, principalmente quando fazemos a leitura de que a evasão escolar pode ser o resultado desta escola retrógrada”, pontua.

Esther percebe as instituições de ensino como importantes espaços de transformação, onde o aluno figura como protagonista. “A escola precisa ser reavaliada e ser sensível ao que seu estudante necessita para se tornar um adulto com capacidade para este novo cenário global.”

De acordo com o estudo, 76% dos professores buscaram formas para desenvolver ou aprimorar seus conhecimentos sobre o uso destes recursos nos processos de ensino e de aprendizagem. O assunto também vem sendo debatido nos cursos superiores de formação de professores. Em 2018, 64% dos professores até 30 anos tiveram a oportunidade de participar, durante a graduação, de cursos, debates e palestras sobre o uso de tecnologias e aprendizagem promovidos pela faculdade.

Tecnologia para alunos e professores

Na pesquisa de 2017, 97% dos professores de escolas localizadas em áreas urbanas afirmaram usar o telefone celular para acessar a internet. Quatro anos antes, em 2013, o porcentual era de 38%. A “nova ferramenta” vem sendo utilizada também nas atividades de ensino e aprendizagem. Em 2017, 69% dos professores de escolas particulares afirmaram realizar atividades educacionais com o uso do telefone celular – contra 46% em 2015. Entre os docentes da rede pública, essa marca passou de 36% em 2015 para 53% em 2017.

“Vivemos um momento único para a sociedade e para a escola. As tecnologias digitais estão em quase todos os lugares, isto é o que chamamos de ubiquidade tecnológica”, destaca o pedagogo Eduardo Fofonca, que é doutor e pós-doutor em Educação e pesquisador da área de novas tecnologias.

Segundo ele, os novos recursos digitais impõem um grande desafio à comunidade escolar e às famílias: o de compreender o atual momento e tentar, de maneira crítica, buscar caminhos para que a tecnologia não seja vista como uma vilã ou apenas um meio de entretenimento.

Fofonca ressalta que a tecnologia precisa ser encarada como um dispositivo para que ocorra uma aprendizagem espontânea. “Pensar em nossos alunos hoje é muito diferente de outros tempos. Existe um mundo interconectado que constituiu um novo perfil de estudante”, observa.

E isso, destaca o pesquisador, exige que os educadores façam uma apropriação crítica e criativa dos conhecimentos disponíveis nos aplicativos digitais, jogos educativos e pesquisas online. “O que realmente não podemos é fechar os olhos para um processo que não tem mais volta. É necessário desenvolver as ações educativas sem resistência ao novo”, argumenta.

Streaming da educação

O estudante de 16 anos Davi Zheng faz uso da tecnologia para tirar dúvidas e, assim, melhorar seu aprendizado. (Foto: arquivo pessoal)
O estudante de 16 anos Davi Zheng faz uso da tecnologia para tirar dúvidas e, assim, melhorar seu aprendizado. (Foto: arquivo pessoal)

O estudante paulista Davi Zheng (16), que está no 2.º ano do Ensino Médio, descobriu uma forma de potencializar o aprendizado, unindo o conhecimento adquirido na escola aos recursos oferecidos pela tecnologia. Davi é usuário da TutorMundi, uma plataforma online que dá monitoria e tira dúvidas de estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Praticamente um “streaming da educação”, onde o aluno busca o profissional a partir da demanda do momento.

A TutorMundi é resultado de um projeto do empreendedor Raphael Rocha Coelho, que é graduado em Engenharia de Controle e Automação e que, por muitos anos, foi professor de Matemática e Física em colégios de Santa Catarina. Na convivência com os estudantes, Coelho percebeu que as dúvidas escolares podem ser uma fonte de angústia para os alunos. “Quando se acumulam, dificultam o acompanhamento, o que traz frustração, ansiedade e notas baixas, especialmente para quem não pode contar com aulas particulares ou de reforço”, comenta.

Trata-se de um serviço online que oferece plantão de dúvidas e monitoria em todas disciplinas do currículo acadêmico. A proposta do aplicativo é conectar os estudantes a universitários selecionados entre as melhores faculdades do país. Os “tutores”, como são chamados, auxiliam e orientam dúvidas sobre qualquer uma das matérias.

A plataforma reúne cerca de 2 mil tutores e atende aproximadamente 10 mil consultas por mês. A maior parte dos acessos são dúvidas de Matemática, Redação, Física e Química.

Davi afirma que cada forma de estudar – online ou presencialmente – têm suas próprias peculiaridades. “Estudar online é bem mais prático e rápido. Não é preciso sair de casa nem gastar tempo. É só abrir o aplicativo e pronto”, comenta. Para ele, um dos atrativos dessa nova ferramenta é a liberdade para expor as dúvidas e dificuldades. “Vários alunos têm vergonha. Estudando online eles conseguem aprender melhor e fazer perguntas com mais facilidade”, analisa, destacando que, ainda assim, é fundamental o acompanhamento presencial de um professor.