Tecnologia dá a oportunidade de planejamento de trajetos, horários e outros compromissos | Bigstock
Tecnologia dá a oportunidade de planejamento de trajetos, horários e outros compromissos| Foto: Bigstock

As tecnologias de informação e comunicação têm sido fieis aliadas da mobilidade urbana. Quanto mais se fala em conectividade, acessibilidade e cidades inteligentes, mais se exploram as inovações tecnológicas que otimizam o deslocamento, aumentam a fluidez do trânsito e diminuem a poluição nas cidades. Para Glavio Leal Paura, professor de Engenharia da Universidade Positivo (UP) e especialista em trânsito e mobilidade urbana, o maior ganho de uma cidade que coloca tecnologia a serviço da mobilidade é a qualidade de vida: “Além de uma vida melhor, novas tecnologias dão a oportunidade de planejamento de trajetos, horários, compromissos”, afirma.

O consultor da Teradata C&LA Mauricio Andrade de Paula trabalha com inovações para ajudar na formação de smart cities (cidades inteligentes), onde o espaço urbano é transformado pelo uso intensivo de tecnologias de informação e comunicação, somado à gestão urbana e ação social dirigidos por dados. “Normalmente são pilares desta transformação a internet das coisas, sensores e objetos com capacidades avançadas de operação e intercomunicação; big data, processamento e análise de grandes quantidades de informação; e inteligência artificial, ações construídas por algoritmos aplicados à vida urbana”, explica. O objetivo, diz o consultor, é criar condições de sustentabilidade, melhoria de vida das populações e fomentar a criação de uma economia com gestão baseada em análise de dados.  

Dentro desse cenário há vários exemplos dessas tecnologias que melhoram a mobilidade das pessoas em todo o mundo. Em Helsinque, capital da Finlândia, até 2025 o objetivo é não ter mais carros particulares nas ruas. Isso acontecerá por meio de um sistema de mobilidade on demand que integre e coordene todas as formas de transporte coletivo ou compartilhado numa só rede. Já em Hamburgo, na Alemanha, a proposta é substituir várias vias urbanas por espaços verdes interligados, que cobrirão 40% da cidade, incentivando outras formas de locomoção e o lazer da população.  

Cartão EMV, utilizado em Londres: tecnologia também disponível na Região Metropolitana de CuritibaDivulgaçãoMasterCard

Outros bons exemplos no uso da tecnologia a favor da mobilidade estão no Paraná. Na Região Metropolitana de Curitiba, por exemplo, a Metrocard, associação que congrega as empresas do transporte público que operam em municípios limítrofes à capital, está adotando formas alternativas de pagamento da passagem de ônibus. Numa parceria com a MasterCard, a associação lançará até o fim de 2017 o cartão EMV, que permitirá que usuários do transporte público de Curitiba e região paguem por suas passagens com cartão de débito e pré-pago usando uma tecnologia de aproximação, sem a necessidade de digitação de senha.  

A Metrocard já disponibiliza para usuários acesso gratuito à internet via wi-fi em terminais de ônibus da Região Metropolitana de Curitiba e em estações-tubo da capital. Além disso, funcionalidades como o aplicativo para smartphones permitem que os passageiros programem seu tempo de chegada à parada até a passagem do próximo ônibus da linha desejada. Até o fim do ano, o aplicativo ainda possibilitará a consulta do saldo do cartão transporte.  

Lessandro Zem, presidente da Metrocard, cita, ainda, outro sistema voltado para a melhoria da mobilidade: a biometria facial. “Com o recurso da biometria facial, o passageiro com direito a alguma isenção tem seu rosto reconhecido ao passar na catraca. Essa tecnologia registra a foto de quem passou o cartão no validador e compara com a do usuário registrado e permite que apenas o real beneficiário utilize o direito à gratuidade”, explica.  

Alternativas de transporte  

Com o crescimento das grandes cidades, a mobilidade urbana é um ponto que se torna cada vez mais complexo de ser gerido e resolvido. Mas a mudança cultural no que diz respeito à utilização de meios de transporte alternativos aumenta cada vez mais. “Vivemos um momento em que o automóvel não possui o mesmo valor que tinha no passado. Para as novas gerações não é prioridade a aquisição de um carro”, avalia Mauricio de Paula.  

Surge, ainda, uma mudança de conduta, onde a população interage mais com o meio urbano e usufrui de diferentes meios de transporte tanto para trajetos de trabalho quanto de lazer. “A sociedade está amadurecendo no que diz respeito ao seu papel em relação ao meio ambiente. Isso também faz com que surjam mais aplicativos e tecnologias com foco na responsabilidade ambiental, que educam e incentivam a consciência para um mundo mais sustentável”, afirma o gestor de marketing da Mercado Binário, Rodrigo Schvabe. Para ele, quem ganha com a implementação destas tecnologias é a própria população.  

Mas antes de essas alternativas de transporte se estabelecerem no país, há questões apontadas pelos especialistas como urgentes. Para Glavio Paura, a infraestrutura de trânsito no Brasil é muito ruim e o poder público precisa entender que melhorias na mobilidade vão além de arrecadação de tributos. Para Lessandro Zem, os desafios na hora de propor avanços tecnológicos e implementá-los envolve vários fatores. “Primeiro, o próprio comportamento do público, que tem dificuldade na utilização das ferramentas tecnológicas; segundo, os entraves jurídicos, visto que os poderes públicos querem regular a tarifa e formas de cobrança e não permitem a flexibilização junto aos empresários como vemos nas concessões aéreas; terceiro, as leis e normas que são bastante obsoletas”, afirma. 

Futuro 

Uma coisa é certa: a tecnologia chegou para ficar e as cidades estão cada vez mais conectadas a dispositivos e pessoas. Enquanto isso já é uma realidade em algumas regiões da Europa e dos Estados Unidos, o Brasil ainda enxerga a ponta do iceberg. “No que diz respeito à internet das coisas, big data e inteligência artificial, há muito para desenvolver e amadurecer”, avalia Mauricio de Paula. Resta, portanto, aguardar mudanças no comportamento do poder público e, por último, a conscientização da população quanto ao uso racional do automóvel, respeito ao trânsito e sustentabilidade.