Na cidade de Melbourne, na Austrália, linhas gratuitas incentivam a escolha pelo transporte público. Foto: Divulgação |
Na cidade de Melbourne, na Austrália, linhas gratuitas incentivam a escolha pelo transporte público. Foto: Divulgação| Foto:

Modernizar o sistema de transporte público com facilidades e benefícios que fidelizem o usuário e resgatem aqueles que deixaram de usá-lo deve fazer parte das novas estratégias de gestão. De acordo com especialistas, hoje, os grandes desafios do transporte público urbano – no Brasil e no mundo – são aumentar a confiabilidade nos horários de chegada e partida, agregar valor ao tempo de deslocamento e proporcionar maior segurança aos passageiros. 

Contornando esses entraves, espera-se atrair um número cada vez maior de usuários. “O transporte público é o principal vetor de mobilidade de uma cidade. Se o sistema não proporciona confiabilidade ao usuário, na primeira oportunidade que ele tiver, vai parcelar um carro e abandonar o ônibus”, explica o engenheiro Glavio Leal Paura, professor dos cursos de Engenharia na Universidade Positivo e especialista em trânsito e mobilidade urbana. 

Conheça a seguir oito ideias locais, nacionais e internacionais que oferecem comodidade aos passageiros e podem servir de exemplo para conquistar novos usuários e mantê-los no sistema público de transporte:  

Na hora certa 

Informatizar o sistema de transporte abre um leque de facilidades ao gestor e ao usuário, aumentando a confiabilidade no serviço prestado. O monitoramento dos veículos permite o acompanhamento em tempo real da frota, possibilitando informar o tempo estimado para que o ônibus ou metrô chegue à próxima parada. Por meio de placares eletrônicos, comum em estações de metrô e de trem mundo afora, a estimativa do horário pode chegar ao passageiro que aguarda o transporte no ponto e a quem está fazendo o deslocamento naquele momento. 

Em outra frente, aplicativos de celular com interfaces amigáveis – como o português Move-Me – também ajudam a disseminar esses dados a um grupo maior de pessoas, podendo ainda agregar o serviço de pagamento de passagens e informar a plataforma em que determinado trem irá parar na estação. Aqui, o Metrocard App permite ao usuário saber exatamente o horário em que o ônibus vai chegar no terminal ou na estação-tubo. “Garantir o acesso à estimativa de tempo de chegada do veículo aumenta a confiança para quem vai usar aquele sistema, fazendo com que atrasos aos seus compromissos sejam eventuais”, afirma Paura. 

Acesso à internet 

Hoje, nos sentimos isolados do mundo quando estamos off-line. Diante desse cenário, investir em tecnologia que garanta ao passageiro acesso à web em terminais, estações e veículos é benéfico em muitos sentidos. “O fácil e rápido acesso à internet permite que o usuário use o tempo de espera por um ônibus ou o tempo de deslocamento da melhor forma possível”, afirma o professor universitário Roberto Gregório da Silva, do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O especialista explica que estar conectado pode levar pessoas a usarem aquele momento para o lazer, o trabalho, o diálogo ou até como uma fonte de renda extra. “O sistema de transporte também poderia lucrar com isso, investindo em geomarketing e geoturismo, por exemplo”, diz. Em Curitiba e região, por exemplo, usuários do cartão Metrocard têm acesso à internet em terminais e estações-tubo a partir de sinal de Wi-Fi. 

Wi-Fi na RMC: comodidade para atrair mais passageiros. Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do PovoFelipe Rosa TRIBUNA DO PARANA

Linhas gratuitas 

Investir em qualquer modal sem onerar o usuário parece um contrassenso, mas tarifas mais caras favorecem outras alternativas de deslocamento. Em Melbourne, na Austrália, por exemplo, algumas linhas do transporte público são gratuitas – inclusive a linha turística City Circle Tram –, o que ajuda a atrair passageiros. "A mobilidade é um elemento fundamental para a dinâmica das cidades e na vida das pessoas. Mesmo sem a gratuidade, é importante adotar uma tarifa mais atrativa ao usuário", afirma Silva. 

Serviços integrados 

Fazer parcerias com estabelecimentos comerciais no entorno de estações e terminais – criando uma infraestrutura de serviços integrada à rede de transporte – pode ser um atrativo para fazer com que as pessoas deixem o carro em casa e usem o transporte público para resolver tarefas do dia a dia. Além de trazer benefícios ao usuário, que poderia usufruir desses serviços, a medida fortalece a economia de várias regiões da cidade. 

Cartão de transporte 

Tendência em diversas cidades do mundo, o uso do cartão de transporte com crédito pré-pago é associado à praticidade e à segurança do usuário. Na Região Metropolitana de Curitiba, por exemplo, foi adotado o sistema Acesso Metrocard MasterCard de cartões, que permite que o usuário opte por ativar a função pré pago e utilize o cartão em qualquer estabelecimento que aceite cartões da bandeira MasterCard. "É altamente vantajoso e saudável estimular o uso do cartão. Restringe o uso de dinheiro no sistema, tem seguro em caso de perda do documento e facilita o pagamento do crédito pelas empresas aos seus funcionários", afirma Silva. O especialista reforça que o cartão também pode agregar outras funcionalidades, como cartão de crédito, oferecer descontos, sistema de fidelidade e acúmulo de pontos. 

Bicicletário e estacionamento 

A oferta de vagas gratuitas de estacionamento perto de estações e terminais em regiões periféricas e bicicletários disponíveis ao longo de toda a rede é uma alternativa que envolve investimento em infraestrutura, mas traz comodidade ao usuário e amplia o número de passageiros do sistema. Os especialistas defendem ser mais vantajoso para o passageiro associar modais, já que ele não precisaria ir de carro até o centro da cidade e gastar com estacionamento, por exemplo. É o que ocorre em Friburgo, na Alemanha, onde a comunidade conta com essas opções e faz o primeiro percurso até o sistema público de transporte da maneira que considera mais conveniente. Outro exemplo pode ser encontrado na periferia de Roma. No sistema Parking & Ride, há vagas gratuitas para carros e motos associadas a estações de metrô. 

Climatização 

Fazer o trajeto do dia a dia em veículos climatizados, sem passar frio ou enfrentar o calor sufocante, é um item de conforto que agrega valor ao transporte. Isso costuma ser feito com a renovação da frota. “É importante, só que isso custa. E quem pagaria esse preço? É preciso encontrar outras formas de arcar com esse valor sem onerar o usuário, associando subsídios a receitas complementares. Só o passageiro pagar é um modelo que já vimos que não dá certo”, afirma Silva. Paura enxerga a climatização dos veículos como uma necessidade do usuário – no verão do Rio de Janeiro, por exemplo, que tem cerca de 40% da frota climatizada –, mas acredita que essa mudança deve estar associada à modernização do sistema de transporte. No meio do deserto, a refrigeração é essencial. Em Dubai, nos Emirados Árabes, as paradas de ônibus são fechadas e equipadas com ar condicionado. 

Canal de diálogo 

Dar voz ao usuário e conhecer as principais demandas e os maiores gargalos do sistema a partir de um canal direto com o passageiro é outro caminho que pode ser estruturado com o auxílio da tecnologia. No App Metrocard, por exemplo, o usuário tem acesso direto ao call center da central, para o qual pode ligar gratuitamente, utilizando a internet disponibilizada nos tubos e terminais metropolitanos. Essa função estreita a relação com o usuário e aproxima o prestador serviço do “cliente”. “É recomendável canais que permitam ao usuário sinalizar problemas com os veículos, por exemplo”, pontua Silva.