Carina é motorista há 13 anos numa profissão predominada por homens e não se sente discriminada. | Giuliano Gomes
Carina é motorista há 13 anos numa profissão predominada por homens e não se sente discriminada.| Foto: Giuliano Gomes

Antes mesmo de o sol raiar, Carina Rezende Barbosa, de 37 anos, já está a postos. Com uma rotina bastante atribulada, Carina levanta às 3 horas da madrugada, arruma a casa e sai para o trabalho. Ela é uma das poucas mulheres a ocupar um setor predominantemente masculino, o de motorista de transporte coletivo.

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De igual para igual

Uma prova de que a desigualdade sexual não existe nas empresas é a forma como os funcionários são contratados. Segundo a supervisora de Relações Humanas (RH) da Viação Leblon/Nobel, Andréia Suartz dos Santos, 42 anos, as mulheres são submetidas aos mesmos testes de seus colegas homens. “São feitos testes teóricos e práticos. No prático envolve exame na rua”, explica.

Andréia acredita que o mercado está em evolução. “Até 2006 eram apenas duas mulheres motoristas. Hoje já são 55 funcionárias apenas aqui na empresa”, aponta. De acordo com ela, apenas na manutenção o sexo feminino não está representado. “Mas é porque ainda não teve nenhuma candidata”, justifica.

A supervisora lembra que numa empresa de transporte, por mais masculino que o ambiente seja, as meninas sabem se impor. “Como aqui elas usam uniforme, fica mais fácil”, avalia. Andréia acredita que o mercado está em “evolução”. “Aqui as mulheres são tratadas de igual para igual. E na época em que vivemos isso não poderia ser diferente”, finaliza.

Carina tomou gosto pelo volante aos 16 anos. Filha de caminhoneiro, largou os estudos para enfrentar a estrada com o pai. “Hoje, esteja ele onde estiver, deve estar orgulhoso de mim”, avalia. Quando o pai morreu, ela assumiu o volante e foi trabalhar em transportadora. “A empresa prestava serviço para a atual empresa em que trabalho. Quando fui demitida, eles me contrataram”, relata. Ela trabalha na Viação Leblon/Nobel desde 2004.

“Fui a primeira motorista mulher da empresa”, afirma. Hoje ela tem a companhia de mais duas colegas. Carina faz parte de 2,24% do total de mulheres que dirigem ônibus no transporte coletivo da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). “Algumas pessoas ainda estranham quando sobem no carro, mas nunca fui discriminada”, garante. “Dirigir um ônibus é diferente de dirigir um caminhão. Aqui transportamos vidas cheias de planos”, lembra.

Carina é casada com um funcionário da empresa e é mãe de um casal de filhos. Além de ser motorista ela também é mentora na empresa. Quando um motorista entra no trabalho, é ela quem acompanha o novo funcionário nos três primeiros dias de trabalho. “Ela é um exemplo para nós”, garante a cobradora Daniela Cristina Biscaia, a Dani, de 35 anos.

Dani trabalha como cobradora, mas está de olho para mudar de cargo; ela quer ser motorista.Giuliano Gomes

Dani já foi balconista em lanchonete, entre outras profissões. Há três anos fez o curso de cobradora. “Mas já estou de olho em subir de cargo, quero ser motorista. Já estou fazendo o curso”, afirma. Assim como Dani, 41,86% dos cobradores são mulheres, setor em que os sexos estão praticamente equiparados. “Também nunca sofri nenhum tipo de discriminação”, assegura. “Cada passageiro é um cliente e deve ser tratado com todo o respeito”, diz.

Dani afirma que a empresa preza o respeito para com a mulher. “Aqui somos uma família. Tem muita gente casada que trabalha junto”, relata. Ela também cumpre uma rotina que inclui pegar no serviço de madrugada e cuidar da casa e do casal de filhos. “A maioria das mulheres faz dupla jornada de trabalho”, lembra.