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A prática jurídica vive um novo momento. Ganha agilidade, precisão e inteligência com ferramentas digitais antes restritas ao setor de tecnologia. No evento Papo Paraná S/A, realizado na última quinta-feira (15), na sede da Gazeta do Povo, em Curitiba, os especialistas Cristiano Silva e Fabiano Falvo mostraram, com exemplos concretos, como Web3 e inteligência artificial já remodelam o cotidiano de advogados, departamentos jurídicos e escritórios em todo o País.
Promovido pela Gazeta do Povo em parceria com a Projuris, o encontro reuniu mais de 80 profissionais na sede do jornal. Com o tema “Inovação Jurídica com Web3, Inteligência Artificial e Novas Fronteiras”, a proposta do evento foi mais do que discutir tendências: foi mostrar, na prática, como essas tecnologias já estão em uso e entregam resultados reais.
Cristiano Silva, diretor de marketing da Projuris, destacou soluções que colocam a inteligência artificial no centro da estratégia jurídica. Com larga experiência em tecnologia e gestão, ele apresentou uma série de ferramentas que oferecem ganhos de tempo, redução de riscos e aumento de produtividade.
Entre as ferramentas estratégicas apresentadas por Silva, um dos destaques foi o novo dossiê jurídico automatizado, desenvolvido pela Projuris. A solução, apelidada internamente de “capivara jurídica”, utiliza big data e jurimetria para gerar relatórios completos a partir do CNPJ de uma empresa.
Mais do que apenas listar processos, o sistema aplica inteligência artificial para identificar padrões de comportamento jurídico. Analisa taxas de sucesso, reincidência em ações, perfil de litigância e principais partes envolvidas nos litígios.

O resultado é um raio-x detalhado, útil tanto para compliance interno quanto para pesquisas prévias de leads ou fornecedores estratégicos. Escritórios têm utilizado a ferramenta para conhecer melhor clientes em potencial e preparar abordagens mais assertivas. Já as empresas, por sua vez, contam com o relatório como apoio à análise de crédito e mapeamento de riscos jurídicos.
O diretor de marketing também apresentou várias outras ferramentas que usam inteligência artificial e que estão disponíveis no mercado para aprimorar o trabalho dos advogados. “São ferramentas acessíveis, algumas gratuitas, e que colocam o profissional em outro patamar de performance”, afirmou. No caso da Projuris, algumas dessas soluções estão disponíveis no próprio site da empresa, por meio de um hub de inteligência jurídica.
Outro exemplo citado foi o uso de automações para análise de concorrência e compliance. Em vez de consumir horas em tarefas repetitivas, os times jurídicos podem delegar essas atividades à IA, que gera relatórios prontos com base em dados coletados em tempo real.
WEB3 e a nova lógica da propriedade

Complementando o panorama tecnológico, Fabiano Falvo, CEO da startup Vetrii, trouxe à tona um tema ainda emergente, mas de impacto crescente: a Web3 e a tokenização de ativos. Com mais de duas décadas de experiência em tecnologia e transformação digital, Fabiano explicou como o blockchain – base da Web3 – muda conceitos jurídicos centrais, como propriedade e formalização.
Para ele, o impacto tecnológico dos próximos três anos será ainda mais profundo do que o vivido entre 2020 e 2025, período marcado pela consolidação do home office e das plataformas digitais. Ele projeta que, entre 2025 e 2028, a velocidade das mudanças, especialmente com o avanço da inteligência artificial e da Web3, será exponencial. Isso exigirá dos profissionais não apenas adaptação, mas protagonismo diante de novas ferramentas.
Falvo destacou que a Web3 representa uma mudança estrutural na forma como a sociedade lida com propriedade e com as informações. Segundo ele, ao descentralizar o controle de dados e permitir a tokenização de ativos – como imóveis, contratos e precatórios –, a nova tecnologia redefine conceitos jurídicos fundamentais, como posse, formalização e rastreabilidade. “Estamos falando de um modelo em que o usuário detém o controle, sem intermediários, com segurança e transparência garantidas pelo blockchain”, afirmou.
“Se a Web1 era leitura, a Web2 era interação, a Web3 é posse. Ela devolve o controle das informações ao indivíduo”, ressaltou. Na prática, isso significa que itens do mundo físico podem ser representados digitalmente em tokens, com rastreabilidade, liquidez e segurança.
Um dos exemplos mais ilustrativos apresentados foi o da tokenização de imóveis. Em vez de uma matrícula com um único dono, o imóvel pode ser fracionado em milhares de tokens digitais, cada um representando uma cota da propriedade. “Com isso, é possível vender frações, negociar participações e até automatizar o pagamento de aluguéis com smart contracts”, explicou.
O empresário destacou o impacto que essas novidades trazem ao setor jurídico, financeiro, cartórios e ao mercado em geral. “Estamos falando de um novo mercado, que precisa ser entendido, regulamentado e operado com base em princípios muito distintos do modelo tradicional”, pontuou.
Os especialistas evidenciaram que a transformação digital no setor do Direito não é mais uma hipótese futura. É uma realidade em curso, com impactos visíveis em áreas como contratos, compliance, propriedade, mediação de conflitos e até análise de jurisprudência. “O advogado que domina essas ferramentas sai na frente”, afirmou Cristiano Silva. “A tecnologia não vai substituir o profissional, mas vai redefinir seu papel”, complementou.
