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A evolução das cidades e os novos contextos urbanos foram o ponto de partida do evento Cidades em Transformação, promovido pela OfficeLab em parceria com a Gazeta do Povo. Realizado na terça-feira (29) em Curitiba, o encontro reuniu profissionais das áreas de arquitetura, urbanismo e design para debater como as transformações tecnológicas, os novos comportamentos e o próprio legado urbano influenciam os rumos das cidades. A mediação ficou por conta da jornalista Sharon Abdalla, especializada no setor.
Para Victor Tavares, fundador e CEO da OfficeLab, o objetivo do encontro foi estimular uma reflexão sobre os espaços urbanos e os desafios de um tempo em que a tecnologia avança rapidamente. “A cidade impacta diretamente nosso comportamento e nosso cotidiano. Precisamos entender como chegamos até aqui e para onde vamos”, destacou. Segundo ele, esse olhar já influencia diretamente o desenvolvimento de produtos no dia a dia da empresa.

O debate teve início com uma homenagem ao urbanista Jaime Lerner, cujas ideias marcaram a transformação urbana de Curitiba desde os anos 1970. Sharon destacou a atualidade das soluções urbanas criadas à época, como as estações tubo, o fechamento da Rua XV para pedestres, o sistema de canaletas exclusivas para ônibus e a criação do IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba. “Essas iniciativas não apenas transformaram nossa vida como curitibanos, mas se tornaram referência mundial. Só as estações tubo foram replicadas em mais de 200 cidades”, lembrou.
Érika Poleto, arquiteta do Jaime Lerner Arquitetos Associados, reforçou a importância de manter vivo o pensamento urbanístico legado por Lerner. “O conceito da ‘cidade tartaruga’, onde se pode viver, trabalhar e se locomover dentro de um raio acessível, segue atual. Hoje chamam de cidade de 15 minutos, mas esse ideal já está presente em Curitiba há décadas”, salientou. Para ela, o planejamento urbano é uma prática coletiva e multidisciplinar e soluções criadas nos anos 1970 continuam inspirando novos projetos atualmente, como é o caso das hortas urbanas.
A arquiteta também defendeu o uso da acupuntura urbana como estratégia eficiente de transformação. “São intervenções pontuais, com alto poder de impacto, que ajudam a reestruturar bairros inteiros. O BRT surgiu assim: uma alternativa criativa ao metrô, cujo investimento era acima do que Curitiba podia investir”, explicou. Ela citou o exemplo do Viva Parque Porto Belo, bairro planejado em Santa Catarina, como um caso de sucesso em que um passivo ambiental se transformou em ativo urbano, reforçando a ideia de que sustentabilidade pode andar junto com retorno econômico.
O arquiteto Zeh Pantarolli e o desginer Diego Miranda Leite, do Estúdio Pantarolli Miranda, compartilharam a experiência do projeto A Gente Banca, realizado em parceria com o Banco Santander. A proposta consistiu na revitalização de bancas de jornal, com a introdução de novos serviços, como floricultura, manicure e chaveiro, em metade do espaço original. “Era uma forma de dar um novo fôlego aos microempreendedores e ao consumo da mídia impressa”, contou Diego. O projeto, que começou em Curitiba e se expandiu para outras capitais, foi reconhecido internacionalmente com três prêmios no Festival de Criatividade de Cannes.

“E projeto levou luz a pontos esquecidos da cidade”, disse Zeh. As bancas revitalizadas também contavam com soluções de segurança e tecnologia, como telas internas para veiculação de publicidade. Além da transformação estética e funcional, o projeto teve impacto direto na vida de microempreendedores, que conseguiram manter suas banca funcionando graças à nova estrutura e ao curso de capacitação oferecido junto com a iniciativa.
Durante o Cidades em Transformação, os profissionais reafirmaram que o papel das cidades do futuro precisará equilibrar inovação e memória, tecnologia e humanidade, num convite à ação para aqueles que ajudam a moldar os espaços urbanos. “É compromisso com a imperfeição. O importante é começar”, resumiu Érika Poleto, ao falar sobre a urgência de inovar, mesmo com recursos limitados. Para Zeh Pantarolli, “colocar um abajur num cantinho da cidade” pode ser o suficiente para acender novas possibilidades. Victor Tavares complementou que “é preciso sair da caixa para entender como chegamos até aqui e para onde vamos”.