Arquitetura

A jornada do Edifício Carmen: prédio art déco que se renovou e virou endereço cool em Curitiba

*Camila Machado
12/12/2018 20:00
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Fachada do Edifício Carmen em 2018. Foto: divulgação.

Simetria. Também linhas simples e formas geométricas. E, agora, cores, muitas delas. É isso que se vê ao cruzar a Rua Brigadeiro Franco, já no bairro Mercês, em Curitiba. Repare no número: 1.193, entre as ruas Saldanha Marinho e Augusto Stellfeld. Ali é o Carmen, predinho curto, de dois pavimentos, mas nada discreto.
M2081S-1029
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Hoje ele abriga seis estabelecimentos comerciais, mas nem sempre foi assim. O Carmen já foi Edifício Brigadeiro Franco e, acredita-se, que isso foi lá nos idos da década de 1950 e 1960, quando foi construído. Os dados não são claros, já que o que consta nos registros municipais da Secretaria Municipal de Finanças de Curitiba (SMF) é um cadastro tardio de 1972.
A planta, de 502 metros quadrados, à época, abrigava quatro apartamentos residenciais, dois térreos, com garagem, e dois no primeiro andar.
Fachada do Edifício Carmen em 2018. Foto: divulgação.
Fachada do Edifício Carmen em 2018. Foto: divulgação.
Na fachada, ainda preservada, há elementos que remetem ao estilo art décor. “O edifício tem simetria, volume, aberturas, coberturas, cantos arredondados, elementos decorativos. Lembra, inclusive, algumas construções do distrito déco de Miami”, explicou o arquiteto e historiador Irã Taborda Dudeque.
Prédio em Miami, no Distrito Art Déco. Os prédios foram construídos entre 1925 e 1940. Foto: acervo Irã Duduque.
Prédio em Miami, no Distrito Art Déco. Os prédios foram construídos entre 1925 e 1940. Foto: acervo Irã Duduque.
De acordo com Dudeque, o estilo art déco surgiu na Europa, na França mais precisamente, entre as décadas de 1920 e 1930, mas o termo é posterior. “O termo art déco tenta definir, de uma maneira bastante abrangente e genérica, uma série de obras díspares aparecidas na arquitetura e no design entre 1920 e 1940, mas só passou a ser aceito e divulgado a partir de 1966. No entanto, suas influências, no Brasil, puderam ser sentidas já em 1920 e, de forma mais oficial, em 1930”, explicou.
No caso de Curitiba, são exemplos oficiais o prédio dos Correios – em frente a Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Praça Santos Andrade -; do Colégio Estadual do Paraná (CEP) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
O arquiteto Guilherme de Macedo, co-autor do livro Prédios de Curitiba, também vê as referências déco na construção do Carmen. “Na região onde o Carmen está [entre o Centro e as Mercês], no período de 1950 e 1960, já havia um adensamento importante. E era muito comum que as famílias construíssem suas casas inspiradas no que viam, levando em conta as diferentes migrações da época. O entorno do edifício também tem construções similares, com brasões de famílias, decorações na fachada. Uma forma, até, de marcação de território. No Carmen, um exemplo é o detalhe metálico no centro da fachada. É um elemento simples e puramente decorativo”, disse.
Detalhe da fachada do Edifício Carmen. Foto: divulgação.
Detalhe da fachada do Edifício Carmen. Foto: divulgação.
Não há registros de quem é o autor do projeto do edifício. “Não é raro acontecer de não termos acesso ao autor do projeto em edificações desta época, já que não havia uma preocupação com autoria, eram construções familiares”, explica Macedo.

Carmen Mecking

A mudança de nome, de Edifício Brigadeiro Franco à Edifício Carmen, tem uma explicação. “A construção foi evoluindo junto com a cidade e, a medida que o bairro foi crescendo, os aposentos, antes familiares, passaram a ser comerciais”, explica o proprietário das salas, o empresário Ney Mecking. Foi neste momento que ele resolveu fazer uma homenagem à matriarca da família, Carmen Anita Delucca Mecking.
Carmen Anita Delucca Mecking, em 1985. Foto: Família Mecking / Acervo Pessoal
Carmen Anita Delucca Mecking, em 1985. Foto: Família Mecking / Acervo Pessoal
Carmen é natural de Porto Alegre, mas desde muito moça morou em Curitiba. Foi casada com Ney Severo Mecking, estudou corte e costura e foi professora de Modelagem da Universidade Tuiuti do Paraná na década de 1990. Faleceu há quatro anos.
O imóvel, o Edifício Carmen, está na família há três décadas. De acordo Ney a averbação do prédio se deu em 1959 e o proprietário da construção à época era José Schwansee Torres. “Posteriormente fomos comprando as unidades, separadamente, sendo a última aquisição em 1996”, afirma.
Carmen nunca morou no local, mas viveu por mais de 50 anos em frente ao edifício que hoje leva o seu nome. De lá para cá, o prédio já foi um pensionato; abrigou uma confecção de uniformes, a Mecking Ltda; foi loja de cadeiras; salão de beleza; entre outros.

Intervenção

Preto, azul, laranja e vermelho são as cores que pintam a atual fachada do Carmen. E a intervenção, em 2016, deu uma nova cara ao imóvel. No entanto, as mudanças já começaram em 2014, quando a loja de roupas Album Hits e a Vinil Velho, de vinis, fizeram casa no Carmen. Meses depois da inauguração da Album, mudou-se para lá também a Pedro Pastel e Besouro, agência de design. Há dois anos foi a vez do Botanique Café, que é a união do Negrita Bar com a loja de planta Borealis.
“A pintura da fachada foi uma decisão em conjunto, de todos que estavam no Carmen, em 2016. A nossa ideia foi criar algo do zero, que chamasse a atenção, e trouxesse cor ao edifício, caracterizando mesmo uma nova fase”, explicou Eduardo Rosa, designer e co-fundador da Pedro Pastel e Besouro. A agência de Rosa hoje está no Edifício Anita.
“Quando chegamos, o Edifício Carmen era um prédio cinza, da mesma cor do asfalto da Brigadeiro Franco e acabava despercebido pelos milhares de carros que passam aqui na frente todos os dias. Hoje isso mudou, nosso predinho tem vida e chama a atenção”, explicou Juliana Girardi, uma das sócias do Botanique. “Ficamos tristes ao ver que esse tipo de construção está cada vez mais rara e esquecida pela cidade e, como empreendedoras, assumimos o papel de resgatar essa memória”, finaliza Juliana.

O Carmen é cool
O Carmen funciona como um point de serviços na Rua Brigadeiro Franco. Diferentes marcas ocuparam os dois andares do edifício. Moram no Carmen, hoje, o Botanique Café; a loja de design autoral Somos; o Cabelo Ateliê, a Moi Lingerie; a loja de roupas PELE e a Mariazinha Biquínis. O Carmen está também no Facebook.
*Especial para a Gazeta do Povo.

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