Arquitetura

Adornos de ferro: um modismo curioso do passado

Daliane Nogueira
03/06/2015 01:16
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Fotos: Henry Milleo / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Ao caminhar por Curitiba, pequenos detalhes despertam a atenção do artista plástico Valdir Francisco. Ele, que já se apaixonou pelos lambrequins das casas de madeira e pelos cobogós modernistas, anda agora intrigado com diferentes adornos de ferro presentes em fachadas e chaminés de casas dos anos 1930 e 1940.
“Comecei a perceber que esse elemento aparece em muitas casas com características parecidas. Fui atrás da origem dos adornos”, comenta Francisco, que não obteve resposta definitiva, mas se viu envolvido com essa particularidade das edificações e passou a fotografá-las.  Tem centenas de imagens de fachadas dessas casas e até alguns exemplares garimpados em imóveis que estavam em reforma ou em processo de demolição – que, além de acervo, servem de inspiração e matéria prima para uma série de gravuras do artista.
A reportagem da Haus acompanhou Francisco em um desses passeios nos bairros Alto da Glória, Alto da XV e Juvevê. “Fiz um levantamento de pelo menos 80 casas com algum tipo de adorno de ferro”, diz. O número 141 da Rua Padre Antônio é um dos que ostenta o enfeite. O arquiteto e designer Miguel Feres Rodrigues, proprietário do imóvel, conta que o avô terminou de construir a residência no início dos anos 1940. “Lembro do meu pai contar que alguns detalhes em ferro, como os da lareira, eram personalizados ao gosto da família. Daí o fato de os adornos na cidade não seguirem um padrão. Há vários modelos”, comenta.
Para Irã Dudeque, arquiteto e historiador, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), esse elemento não tem um valor arquitetônico, mas um papel absolutamente decorativo. “Não dá para dizer que seja étnico, que pertença a um grupo de imigrantes, por exemplo. Vejo realmente como modismo de uma época. Por vezes tentamos olhar para a história da arquitetura de forma romântica, imaginando que tudo tem um porquê recheado de significado. Nem sempre se tem isso. É o caso desses adornos”, comenta.
A explicação mais provável é que as peças fossem feitas por ferreiros, os mesmos que fabricavam as grades das casas, trabalhando as barras de ferro artesanalmente – fato que colaborou para que cada peça tivesse uma característica específica.
Como nos anos 1930 e 1940 a figura do arquiteto não havia sido ainda consolidada, formaram-se grupos familiares de construtores e os modelos das casas eram copiados de revistas estrangeiras ou do cinema. “Desse período há centenas de residências neocoloniais ou do estilo missões espanholas”, explica o arquiteto.
É justamente nesses exemplares que aparecem os adornos de ferro. “Os modelos de casas eram copiados do vizinho e o modismo desses adornos foi sendo replicado”, conclui Dudeque.
Valdir Francisco e sua série de gravuras inspiradas nos adornos de metal – uma paixão revelada nas andanças pela cidade
Valdir Francisco e sua série de gravuras inspiradas nos adornos de metal – uma paixão revelada nas andanças pela cidade
Casa no Alto da Glória do arquiteto Miguel Feres Rodrigues, com detalhe em metal encomendado pelo avô
Casa no Alto da Glória do arquiteto Miguel Feres Rodrigues, com detalhe em metal encomendado pelo avô

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