Construção mais sustentável

Arquitetura

Bloco feito de plástico reciclado permite construção seca, rápida e com menos lixo

Vivian Faria, especial para HAUS
17/08/2023 21:04
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Tijolos de plástico são inspirados em blocos de montar de brinquedo. | Divulgação

Transformar embalagens, brinquedos, peças de automóveis, utensílios e toda sorte de produtos feitos de plástico que são descartados em "blocos de montar" da vida real para aplicação na construção civil. É essa a proposta com que vem trabalhando a Fuplastic, indústria de materiais plásticos para a construção civil, como tampas e caixas de passagem, que, desde 2020, está investindo no mercado de construções modulares.
O objetivo, de acordo com o sócio da empresa, Bruno Abramo Frederico, é dar nova vida a um material que pode se tornar um problema ambiental. “Com cada bloco produzido, tiro meio quilo de plástico que poderia ter descarte incorreto”, conta.
Além disso, feitos para serem encaixados, os tijolos de plástico permitem uma construção mais limpa e rápida. “Os blocos têm 20 x 15 x 10 cm e são feitos para serem encaixados, mas têm dois furos para uma construção por atiramento, o que dá resistência e possibilita o transporte fácil”, explica. Em outras palavras, além do encaixe, os tijolos são fixados uns aos outros por meio de tirantes, nesse caso, de aço, para se manterem firmes inclusive durante o transporte.
Por dentro, são ocos, o que permite não apenas a passagem dos tirantes, também dos sistemas elétrico e hidráulico. Também é o ar que está dentro das peças que contribui para que elas proporcionem conforto térmico e acústico às construções. “Como tem esses furos, o calor é absorvido e empurrado para cima”, diz.
O processo todo é realizado dentro da fábrica da Fuplastic, em Cotia, no interior de São Paulo. Dali, saem praticamente prontos tapumes, parklets, pontos de ônibus, estandes, contêineres, casas e qualquer outra construção proposta pelos clientes – com acabamentos e tudo. “No piso e no teto, utilizamos placas cimentícias”, conta Frederico. Além delas, podem ser instalados vidros e revestimentos para garantir mais conforto a espaços residenciais e comerciais.
Em poucos meses, a construção está pronta. A partir da entrega, os espaços podem ser usados em poucos dias. Para isso, basta conectar sistemas elétrico e hidráulico e mobiliar a casa ou espaço comercial. Foi o que aconteceu em duas lojas recém-inauguradas da Localiza Seminovos, uma em Barueri, em São Paulo, e outra em Belo Horizonte, em Minas Gerais – ambas construídas com blocos produzidos a partir da reciclagem de duas toneladas de plástico.
“Fizemos uma adaptação de um projeto nosso para agências avançadas, que são os contêineres em estacionamentos de shoppings e redes varejistas. Em três meses, tínhamos um protótipo instalado”, conta o gerente de engenharia da Localiza&Co Stefan Zeller. Cada agência tem em torno de 30 metros quadrados. A montagem das agências após a entrega durou cerca de um dia; dois ou três mais tarde, elas já podiam estar em operação.

Sustentabilidade

Fora a rapidez, chama a atenção o fato de o processo gerar muito menos lixo do que uma construção de alvenaria – e, inclusive, basear-se num processo que reutiliza itens descartados que chegam até a fábrica tanto por meio de logística reversa quanto a partir da compra de materiais de cooperativas de catadores. “A emissão de carbono para produzir plástico novo é muito maior. Em comparação, por tonelada de plástico ressignificado, deixamos de emitir 1,5 mil kg de CO2”, conta Frederico.
No processo construtivo, também há redução. “Comparando com uma agência convencional, a construção com os blocos reduz em 90% as emissões de carbono”, conta o gerente de engenharia da Localiza&Co, Steffan Zeller. “Também reduz em 90% o consumo de aço e os resíduos que saem são somente embalagens de móveis e computadores”, diz.
Os blocos são produzidos na cor desejada a partir da reciclagem de plásticos em tons semelhantes. Para o branco da Localiza, foram usados itens brancos e transparentes
Os blocos são produzidos na cor desejada a partir da reciclagem de plásticos em tons semelhantes. Para o branco da Localiza, foram usados itens brancos e transparentes
Neste caso específico, o time de projetos da Localiza desenvolveu um projeto para ampliar ainda mais a sustentabilidade das lojas. A proposta previu placas fotovoltaicas para geração de energia limpa, lixeiras para coleta seletiva, comunicação visual interna em madeira certificada e plástico reutilizado, entre outros elementos. “Não justifica eu criar uma agência com blocos sustentáveis se o resto não é”, afirma Zeller.
Em termos de custo, a avaliação é de que a troca de material e sistema construtivo vale a pena. “O desembolso para uma agência comum e uma sustentável é muito similar. Quando se contabiliza que é sustentável, dá conforto térmico, é mais rápida, gera muito menos resíduo, vale muito a pena”, avalia.
No caso de uma casa de 50 metros quadrados, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro, o custo gira em torno de R$ 145 mil.

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