Arquitetura

Camerata Antíqua abre as portas de sua casa, a Capela Santa Maria

Daliane Nogueira e Luan Galani
13/07/2016 00:48
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Fotos: Fernando Zequinão | Gazeta do Povo

Curitiba tem um dos dez melhores corais do mundo. A chancela veio de Sandro Chierici, diretor artístico do 18º. Festival Internacional de Corais, quando o Coro da Camerata Antiqua se apresentou na Europa. O grupo formado por 20 cantores e 21 instrumentistas da orquestra se debruça da música medieval à contemporânea. Esse é seu diferencial.
Ensaio do coro da Camerata. Foto: Hugo Harada
Ensaio do coro da Camerata. Foto: Hugo Harada
Mas antes do reconhecimento, teve perrengue. Foi no fim dos anos 1990 que o arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) Reginaldo Reinert leu uma notícia que o impactou: a Camerata Antiqua de Curitiba estava sem espaço para ensaiar. Incomodado com tal informação, partiu para a ação.
“O que restou [parte do edifício havia sido demolido e ocupado por novos prédios] do complexo do colégio Santa Maria, no Centro de Curitiba, um exemplar arquitetônico dos anos 1920, tinha recém entrado no conjunto de imóveis históricos da Fundação Cultural de Curitiba e pensei em um novo uso para o espaço”, recorda Reinert. Assim surgiu o embrião do restauro da capela que viria a ser concluído apenas em 2008, ano em que passou a ser a sede da Camerata.
A fachada da Capela, no Centro de Curitiba.
A fachada da Capela, no Centro de Curitiba.
O projeto foi inspirado na obra do arquiteto italiano Renzo Piano para a Ópera Prometeo durante o Festival de Música de Veneza de 1984, no qual Reinert esteve. “Imaginei, assim como na Prometeo, um casco de navio em madeira para a base da estrutura, assim, a música faz vibrar naturalmente essa grande caixa acústica”, explica.
Foi necessária, no entanto, uma grande intervenção estrutural, transformando o subsolo do prédio, abaixo do piso original, em plateia. “Este momento foi delicado e envolveu a retirada de vigas com a substituição, no mesmo momento, por uma estrutura de aço vertical que dá forma ao ‘casco de navio’ revestido em madeira”, lembra Cláudio Forte Maiolino, arquiteto, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e diretor da Albatroz Construção e Restauro, empresa responsável pela execução do projeto.
 Projeto de restauro atualizou e deu conforto à capela, o que tornou o espaço uma referência artística
Projeto de restauro atualizou e deu conforto à capela, o que tornou o espaço uma referência artística
O prédio ficou cerca de 20 anos fechado–desde a transferência do colégio para a sede próxima ao Parque São Lourenço em 1984 –tempo suficiente para a ação da umidade e dos vândalos detonarem parte do telhado. “Não é porque se trata de um prédio histórico que não se deve atualizá-lo. As instalações receberam ar-condicionado e iluminação cênica”, esclarece Maiolino.
Nestes oito anos de ocupação pela Camerata, os músicos experimentam diariamente a relação com a arquitetura do espaço. “Poder ensaiar e se apresentar no local com estética refinada e acústica praticamente perfeita é um presente. Para nós a música também é um ofício sagrado, e o lugar serve de inspiração profunda”, reflete a regente paulistana Mara Campos, 56 anos, que comanda o coro desde 2015.
Ornamentos e símbolos religiosos foram preservados mesmo com o novo uso
Ornamentos e símbolos religiosos foram preservados mesmo com o novo uso

Projeto original

Apesar de reconhecer que o novo uso do espaço foi a melhor forma de manter o patrimônio, Reinert se ressente de não ter conseguido colocar todo o projeto em funcionamento. A ideia original era que se tivesse 14 configurações, com cadeiras móveis que permitiriam ao espectador olhar para o músico que mais lhe chamasse atenção. “Assim, o balcão não seria local para plateia, mas para os músicos”, ressalta.
Outra parte do projeto, está ainda viva na memória e na vontade do arquiteto, é a ocupação do pátio interno. “No paredão do prédio que tem entrada pela Rua Tibagi, haveria a projeção dos espetáculos e os pontos comerciais abririam-se para o pátio, que conversaria com a rua”, resume.
Projeto original do pátio interno não foi concluído. Local é usado em alguns eventos pontuais. Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Projeto original do pátio interno não foi concluído. Local é usado em alguns eventos pontuais. Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

História

Na memória de quem frequentou o local ainda nos tempos do Santa Maria, fica a lembrança do ritmo dos alunos. Não à toa a Congregação dos Irmãos Maristas entregou o desafio para o Irmão Celedônio Cruz, conhecido entre os colegas por “sacudir as coisas e fazer acontecer”, como ele conta aos 90 anos. Assumiu a diretoria em 1978 e “acabou com o reinado dos meninos” ao permitir o ingresso de meninas. O lugar não comportava mais os dois mil alunos que dividiam o espaço com a PUCPR, que funcionou por um tempo no local. O religioso tocou a transição do colégio, deixando aberto o caminho para o novo episódio na vida da Capela.
Vista aérea do edifício de uma quadra das antigas dependências do colégio Marista na região central. Foto: Acervo Colégio Marista
Vista aérea do edifício de uma quadra das antigas dependências do colégio Marista na região central. Foto: Acervo Colégio Marista

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