Fim do caso Erbo Stenzel

Arquitetura

Curitiba terá primeiro concurso público nacional de projeto de arquitetura em 31 anos

Luan Galani
17/03/2022 00:16
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Painel em granito feito por Erbo Stenzel na Praça 19 de Dezembro. | Arquivo/Gazeta do Povo

Curitiba terá seu primeiro concurso público nacional de projeto de arquitetura desde 1991. O hiato de 31 anos sem o município liderar um certame do tipo, uma das modalidades mais interessantes para a transformação das cidades, está finalmente quebrado por um acordo histórico firmado no fim desta quarta-feira (16) entre o Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Paraná (SindARQ-PR), o prefeito Rafael Greca (PMN) e a Prefeitura de Curitiba. A decisão de comum acordo entre as partes coloca fim à disputa judicial do caso da demolição precoce da casinha histórica de Erbo Stenzel, no Parque São Lourenço, após um incêndio parcial da construção em 2017. A informação foi obtida com exclusividade por HAUS.
A ação civil pública, que corre na 4ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, foi proposta pelo SindARQ-PR ainda em 2017 contra Greca e o município por danos patrimoniais e improbidade administrativa.
HAUS registrou o momento exato em que a Prefeitura de Curitiba destrói o reminiscente da casa em 2017.
HAUS registrou o momento exato em que a Prefeitura de Curitiba destrói o reminiscente da casa em 2017.
O acordo sai depois do laudo decisivo da perita técnica Jussara Valentini, apontada pelo juiz Guilherme de Paula Rezende, confirmar que a demolição da residência Erbo Stenzel foi inadequada, não era urgente e poderia ter sido evitada por meio da adoção de outros procedimentos, como o isolamento do local com tapumes ou construções emergenciais de estabilização das estruturas.
O último concurso promovido diretamente pelo poder público de Curitiba aconteceu em 1991, para a escolha do Portal Alemão e do Portal Polonês da cidade. No decorrer dos anos, alguns poucos concursos ocorreram, mas foram todos idealizados pela iniciativa privada ou pelo governo do estado do Paraná.
Detalhe do painel feito por Stenzel na Praça 19 de Dezembro.
Detalhe do painel feito por Stenzel na Praça 19 de Dezembro.
O certame desta vez será para um projeto de memorial em homenagem a Stenzel, importante escultor paranaense que se notabilizou pelas estátuas do “Homem Nu”, da “Deusa da Justiça” (Mulher Nua), do “Painel da Praça 19 de Dezembro”, e da “Maria d´Água”, localizada próximo ao Paço Municipal. O novo espaço será no Parque Vista Alegre, em Curitiba.
As partes seguiram a orientação da perita do caso e decidiram que seria descabido uma réplica da casa, já que o valor histórico e cultural original da construção não estariam mais presentes.
Museu Oscar Niemeyer (MON) guarda o Retrato de Estanislau Traple, feito em 1935 por Stenzel (à esquerda).
Museu Oscar Niemeyer (MON) guarda o Retrato de Estanislau Traple, feito em 1935 por Stenzel (à esquerda).
O concurso será organizado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, conforme o regramento estabelecido pelas leis 8.666/93 e 14.133/21. Contará com cinco jurados, sendo dois indicados pela municipalidade, um pelo SindARQ-PR, um pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná e um pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
O prazo para a realização do certame (início e final) fica estabelecido em até seis meses, a partir da homologação pelo juiz. O valor limite do custo do memorial, incluindo as despesas com a realização do concurso, será de R$ 450 mil.
O andamento do processo depende agora de o Ministério Público do Paraná manifestar ciência e anuência sobre o acordo, e de o juiz homologá-lo. Assinam o documento a procuradora-geral de Curitiba, Vanessa Volpi Bellegard Palacios, o advogado Ramon Bentivenha, que representa o SindARQ-PR, e o advogado Giovani Gionédis, da defesa de Greca.
Estátua do Homem Nu, em Curitiba, também leva a marca de Stenzel na paisagem urbana.
Estátua do Homem Nu, em Curitiba, também leva a marca de Stenzel na paisagem urbana.

Sobre a Casa Erbo Stenzel

A edificação batizada de Casa Erbo Stenzel foi construída em 1928 com estrutura autônoma de madeira e vedação de tábuas com mata-juntas, técnica representativa da arquitetura residencial muito comum na região de Curitiba no início do século 20 e com exemplares cada vez mais raros nos dias atuais, como descreve a perita no laudo.
Conforme consta no processo, a Casa Erbo Stenzel foi residência do artista paranaense Erbo Stenzel. A casa foi doada à Prefeitura de Curitiba e, em 1998, foi transferida para o Parque São Lourenço, onde se tornou um museu com o objetivo de manter viva a memória e a casa onde viveu o escultor curitibano, além de guardar seus objetos e pertences.
Casa Erbo Stenzel, que foi residência do escultor e artista paranaense, ficava localizada no Parque São Lourenço.
Casa Erbo Stenzel, que foi residência do escultor e artista paranaense, ficava localizada no Parque São Lourenço.
"Pelas suas características físicas e pelo seu uso original, a edificação tem dupla relevância histórica e cultural. Este valor histórico é reconhecido pela municipalidade tanto por ocasião do recebimento em doação quanto pelo evento do incêndio", avalia Valentini na perícia.
Em 2009, o museu foi desativado e os itens do acervo foram devolvidos à Secretaria de Estado da Cultura. A casa foi fechada para visitação pública. Em 14 de junho de 2017, a edificação foi atingida por incêndio e foi posteriormente demolida pela Prefeitura de Curitiba.

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