Menos muros, mais segurança

Arquitetura

Criar empreendimentos seguros sem transformá-los em fortalezas urbanas é possível

Por Stephanie D’Ornelas, especial para HAUS
12/07/2022 12:46
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Em vez de erguer muros, o projeto da Varanda Barigui, da incorporadora Invescon, abre espaço para a circulação de pedestres, conectando o espaço público ao privado. A segurança do empreendimento, com previsão de entrega para 2025, será feita por meio de guarita blindada, acesso social e de serviço com eclusa e entrada de veículos com sistema de identificação. Além disso, o empreendimento conta com acessos com sensores e câmeras. | Divulgação

A segurança oferecida por um empreendimento residencial e pela região em que ele está localizado é um dos fatores que mais pesam na hora de escolher um novo imóvel para viver. Por esse motivo, esse é também um aspecto fundamental no planejamento de projetos por construtoras, que devem pensar não apenas na proteção aos moradores dentro dos limites do prédio ou condomínio, mas em como essas construções se relacionam com a cidade à sua volta. “A interação da edificação com o entorno é um dos principais pontos que determinam a qualidade no desenvolvimento do projeto e contribuição dele à cidade”, afirma Sulamitha Lima, gerente de projetos e incorporações da incorporadora Invescon.
Uma cidade segura não é aquela em que condomínios são cercados por grandes muros, mas as que contam com movimentação constante nas ruas e calçadas, onde as casas e edifícios podem ser observados por muitos olhos. A urbanista Jane Jacobs, falecida em 2006, explorou essas ideias de maneira inovadora para sua época. Ela desenvolveu o conceito de “olhos da rua”, que são as pessoas que ocupam os espaços públicos exercendo uma vigilância informal sobre eles. Ao contrário do que pode parecer, muros altos que impedem o contato da rua com as edificações contribuem com a falta de segurança.
“A implantação de muros e gradis no limite do terreno, junto às calçadas, dão a falsa ideia de tornar segura uma propriedade. Porém, muitas vezes, na prática o efeito é o oposto, já que tanto pedestres quanto passageiros de veículos têm maior exposição a assédio enquanto aguardam liberação de seus acessos nas calçadas”, diz o arquiteto Flávio Schiavon, sócio da Baggio Schiavon Arquitetura. O escritório é responsável por empreendimentos de alto-padrão em Curitiba que dispensaram a instalação de muros, como o ROC Batel e LLUM Batel, ambos da construtora e incorporadora Laguna.
“Cidades são feitas por e para pessoas. Quando fazemos uso de elementos arquitetônicos que restringem o uso em espaços públicos a um determinado grupo de pessoas na tentativa de afastar outros indesejáveis, estamos limitando a convivência plural e a prática da empatia de todos os grupos da sociedade. A defesa deste tipo de arquitetura é sempre aumentar a segurança. Mas como resultado não temos cidades mais seguras, e sim cidades transfiguradas que tentam afastar o que, teoricamente, alguns não querem ver, o que não resolve o problema”, defende Sulamitha.

Segurança sem estratégias hostis

Projetado pelo escritório Baggio Schiavon Arquitetura, o Residence Open Concept – ROC Batel não tem grades ou muros. O empreendimento da Laguna permite a integração completa do edifício à paisagem do bairro, transformando o espaço público no quintal dos moradores.
Projetado pelo escritório Baggio Schiavon Arquitetura, o Residence Open Concept – ROC Batel não tem grades ou muros. O empreendimento da Laguna permite a integração completa do edifício à paisagem do bairro, transformando o espaço público no quintal dos moradores.
De acordo com especialistas, é possível garantir a segurança de empreendimentos sem utilizar estratégias da “arquitetura hostil”, termo que se refere a estruturas que segregam indivíduos e dificultam a presença e circulação de pessoas no espaço público. “Hoje em dia, ‘ver e ser visto’ é tido como mais eficaz para a segurança do que um muro fechado e alto. Por isso vemos tantos ‘muros de vidro’ pelos condomínios da cidade”, observa Sulamitha. Edifícios que não oferecem possibilidades de permanência em seu entorno, com muros e fachadas cegas que não se relacionam com a cidade, acabam se transformando em “fortalezas urbanas”, como define o urbanista e jornalista norte-americano William H. Whyte.
A tecnologia é uma aliada para planejar empreendimentos que sejam seguros e que adotem uma arquitetura gentil — movimento oposto à arquitetura hostil, como o nome sugere. Schiavon indica algumas estratégias. “Ao lado do constrangimento em invadir uma área privada, ainda que aberta, os sistemas de vigilância tornam seguras as edificações amigáveis, como sistemas de circuito fechado de televisão (CFTV) integrados aos celulares, sistemas de monitoramento de perímetro e inúmeros dispositivos eletrônicos com fácil implantação que estão hoje disponíveis a custos extremamente acessíveis”, orienta.
“Temos inúmeros tipos de câmeras, sensores de presença, detectores de incêndio, sistemas de alarmes e vários outros itens integrados aos sistemas de automação das edificações, além das fechaduras digitais e biométricas que trazem muito conforto e praticidade no dia a dia”, acrescenta Sulamitha. A gerente de projetos e incorporações lembra que as formas de acesso aos empreendimentos devem ser planejadas de modo diferente a depender do uso da edificação.
“Nos edifícios residenciais utilizamos eclusas de controle tanto para veículos quanto para pedestres, o que caracteriza a checagem dupla e permite o monitoramento. Já nos edifícios comerciais, o controle é feito por identificação digital ou biométrica e o acesso também é restrito. Enquanto nos comércios caracterizados como strip malls, por exemplo, não utilizamos fechamento por muros ou grades, a segurança é feita por meio de monitoramento digital e segurança presencial, além do movimento do público constante”, explica.

Gentileza urbana

O LLUM Batel é mais um empreendimento residencial da Laguna assinado pelo escritório Baggio Schiavon Arquitetura que não conta com muros. Para garantir a segurança dos moradores, há guarita blindada com eclusa, proteção perimetral, portões duplos no acesso de pedestres e veículos, porte-cochère no acesso de veículos, elevador social com biometria, fechadura biométrica na entrada de serviço e sistema de gestão predial que permite monitorar infraestrutura, sistemas de segurança e operação do edifício.
O LLUM Batel é mais um empreendimento residencial da Laguna assinado pelo escritório Baggio Schiavon Arquitetura que não conta com muros. Para garantir a segurança dos moradores, há guarita blindada com eclusa, proteção perimetral, portões duplos no acesso de pedestres e veículos, porte-cochère no acesso de veículos, elevador social com biometria, fechadura biométrica na entrada de serviço e sistema de gestão predial que permite monitorar infraestrutura, sistemas de segurança e operação do edifício.
Algumas leis urbanísticas utilizam estratégias que contribuem com a gentileza urbana, que são práticas que favorecem a melhoria do urbanismo e paisagismo no entorno de empreendimentos. Um exemplo é o Plano Massa, em Curitiba. “Ele configura as galerias cobertas com vários comércios ao longo de ruas importantes como a Padre Anchieta, a Avenida Sete de Setembro e outras. Temos uma área de uso público que é coberta, ajudando a proteger os pedestres do sol ou da chuva. Assim, as pessoas podem circular livremente com maior conforto”, aponta Sulamitha.
“Cidades são feitas por e para pessoas. Quando fazemos uso de elementos arquitetônicos que restringem o uso em espaços públicos a um determinado grupo de pessoas na tentativa de afastar outros indesejáveis, estamos limitando a convivência plural e a prática da empatia de todos os grupos da sociedade. A defesa deste tipo de arquitetura é sempre aumentar a segurança. Mas como resultado não temos cidades mais seguras, e sim cidades transfiguradas que tentam afastar o que, teoricamente, alguns não querem ver, o que não resolve o problema.”
Sulamitha Lima, gerente de projetos e incorporações da incorporadora Invescon.
Para Schiavon, outra estratégia de gentileza urbana, ou “arquitetura gentil”, é a transformação do recuo obrigatório em jardins integrados às calçadas. “Essa é a melhor forma de humanizar. Toda a segurança pode ser implementada a partir desse recuo, seja na forma de eclusas de pedestres ou de veículos, seja nos sistemas de câmeras e alarmes”, afirma o arquiteto. De acordo com ele, a implantação de muros e gradis torna esses recuos uma área de passagem sem função definida, que pouco adicionam ao paisagismo do imóvel ou ao seu entorno.

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