O Céu da Meia-Noite

Arquitetura

Estação do Brasil na Antártida inspira cenário de novo filme de George Clooney

Luan Galani
29/12/2020 15:28
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Cenário do Observatório Barbeau, do novo drama de ficção científica ‘O Céu da Meia-Noite’, foi inspirada na Estação Comandante Ferraz do Brasil na Antártida. | Reprodução/Netflix

A recém inaugurada estação brasileira na Antártida, projetada por arquitetos brasileiros do escritório curitibano Estúdio 41, inspirou o cenário do novo filme de ficção científica dirigido e estrelado por George Clooney, 'O Céu da Meia-Noite', que estreou na Netflix no último dia 23.
O drama baseado no livro 'Good Morning, Midnight', de Lily Brooks-Dalton, conta a história do Dr. Augustine Lofthouse, um cientista que fica para trás em um observatório no Círculo Polar Ártico depois que a maioria da humanidade evacuou o planeta ou se escondeu no subsolo após um evento apocalíptico em 2049.
No filme o Observatório Barbeau está localizado no Pico Barbeau, a montanha mais alta da região de Nunavut, no extremo norte do Canadá. Contudo, o observatório não existe e foi claramente inspirado na Estação Comandante Ferraz.
O projeto brasileiro, que venceu o concurso internacional de arquitetura para a nova estação brasileira na Antártida em 2013, ainda no governo Dilma Rousseff, foi finalizada em janeiro de 2020 com 4,5 mil m² e unidades modulares que abrigam 60 pesquisadores e 17 laboratórios.
Uma das cenas iniciais do filme mostra detalhes internos do edifício inspirado no projeto brasileiro na Antártida.
Uma das cenas iniciais do filme mostra detalhes internos do edifício inspirado no projeto brasileiro na Antártida.
Entre outros colaboraradores, assinam o projeto os sócios do Estúdio 41: Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria, João Gabriel Rosa e Martin Kaufer Goic.
O novo complexo substituiu a obra de 1984, parcialmente destruída por um incêndio em 2012.
"Foi uma sensação um tanto dúbia. Ao mesmo tempo que nos encheu de orgulho ter um projeto de arquitetura marcante, com grande tecnologia embarcada, e de mostrar o potencial da arquitetura brasileira em uma superprodução do cinema e do streaming, também vem uma certa decepção de os produtores, roteiristas ou pessoal da parte gráfica não ter feito qualquer contato conosco, e terem utilizado o projeto sem o nosso consentimento", confidencia Fabio Faria para HAUS. "Poderíamos ter participado disso. Poderia ter sido importante pra eles e para nós."
A outra parte do observatório fictício do filme (a torre arredondada que abriga os telescópios) foi inspirada no Observatório Astrofísico Roque de Los Muchachos, em La Palma, nas Ilhas Canárias, na Espanha, construído em 1985.
Vista aérea do Observatório Astrofísico Roque de Los Muchachos, nas Ilhas Canárias.
Vista aérea do Observatório Astrofísico Roque de Los Muchachos, nas Ilhas Canárias.

O projeto brasileiro

“Buscamos resolver um problema complexo com soluções o mais simples possível. O edifício repete uma seção construtiva [modular] constante em sua maior parte como uma forma de descomplicar o formato para focar nas demais [questões a serem resolvidas]”, conta Eron Costin para HAUS, em reportagem publicada em janeiro deste ano.
Entre elas estavam, por exemplo, uma estrutura capaz de resistir estrutural e termicamente a rajadas de vento que passam facilmente dos 100 Km/h, à alta salinidade e à variação térmica da região, com temperaturas que ultrapassam os 50°C negativos.
A divisão do programa linearmente possibilitou ainda que os módulos tivessem largura que permitisse o transporte deles em navio e a implantação em dois níveis de altura. Desta forma, todos os ambientes dispõem de janelas com vista para o exterior, o que promove conforto psicológico aos pesquisadores e marinheiros que passam temporadas na estação.
A envoltória dos módulos (fachada, cobertura e parte inferior), é feita a partir de um painel sanduíche de poliuretano, material isolante térmico comumente utilizado pela indústria frigorífica. "A espessura dele, no entanto, foi feita sob medida, superior a utilizada pelo mercado. A composição do aço também é específica, para que resista à salinidade altíssima do local. Com exceção da envoltória, todos os demais são materiais de mercado, mas não do mercado brasileiro. Fomos atrás de materiais disponíveis, e não desenvolvidos para o projeto, para que tivéssemos segurança técnica para especificá-los", destacam os arquitetos.

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