IPCC

Arquitetura

Sem redesenho de cidades e modernização de edificações, arquitetura pode atrasar mitigação das mudanças climáticas

Isadora Rupp, especial para HAUS
29/07/2022 12:15
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Mais de 1,7 mil mortos por uma onda de calor que assola a Europa. Incêndios florestais de grandes proporções na Grécia e nos Estados Unidos. No Brasil, desde dezembro de 2021, várias capitais e estados brasileiros vêm sendo atingidos por chuvas com volumes inéditos, que fizeram milhares de vítimas, destruíram casas e bairros inteiros.
Essa lista de fatos ocorreu em um intervalo de poucos meses em diversas regiões do mundo, e tem relação direta com as mudanças climáticas. Muitos efeitos que já sentimos hoje são irreversíveis – diz o mais recente relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo o estudo, 40% da população mundial é altamente vulnerável ao clima. E o problema é agravado pela arquitetura das cidades: sem adaptação adequada e com métodos construtivos que contribuem para aumento da emissão de gases, o setor acaba sendo parte do problema, alerta uma das autoras do estudo do IPCC, Yamina Saheb.
Em entrevista ao site Deezen, a pesquisadora afirmou que o setor construtivo não se modernizou ao longo do século 20 e 21. E que está atrasado em relação a outros para ajudar no combate ao drama contemporâneo. "Cada grama de emissões de gases de efeito estufa dos edifícios significa um erro no projeto. Arquitetos e planejadores urbanos devem realmente analisar esse relatório e repensar a forma como trabalham". O documento do IPCC aponta que 61% das emissões dos edifícios podem ser cortadas até 2050. E sem a necessidade de adotar novas tecnologias: usando mecanismos e reformulações que levem em conta a emissão zero de gases.
O retrofit, segundo Saheb pontua no relatório, é um exemplo já empregado, mas que deveria ser expandido. A técnica de revitalização de edificações antigas (que inclui a transformação da parte elétrica e hidráulica, por exemplo, para mecanismos que poupam os recursos naturais), deve ser implementada o quanto antes. Preferencialmente, até 2030, pontua a especialista. Idealmente, explica ela, edifícios residenciais precisam de grandes reformas a cada 25 anos. "Resta apenas uma rodada entre agora e 2050. Então, ou acertamos, ou estamos errados para sempre", frisou a especialista para o site Deezen.
Expandir o uso de energia limpa com geração de baixo carbono, como a eólica e a fotovoltaica, também são outras medidas pontuadas no relatório do IPCC em relação à arquitetura. O incentivo às construções verdes é algo que vem sendo destacado pela ONU em seus relatórios desde 2014; o documento mostra que, desde então, esse tipo de edificação zero carbono aumentou em todo o mundo. Eletrodomésticos e iluminação mais eficientes, uso circular de materiais e aquecimento elétrico integram mais a indústria de construção e a arquitetura hoje. O maior desafio, frisa o IPCC, é justamente modernizar os prédios antigos.

Brasil: o problema das chuvas

Enquanto o relatório da ONU ressalta a necessidade de adaptações nas cidades, com um modelo urbano que reduza congestionamentos e proporcione outros modais como bicicleta e um transporte urbano de qualidade e convidativo, o Brasil precisa lidar também com uma outra realidade: as construções em áreas de risco.
De acordo com estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), pelo menos 10 milhões de pessoas vivem em locais que não poderiam receber uma construção. O solo, pressionado pelas edificações, acaba cedendo com fortes chuvas, causando deslizamentos, mortes e "tragédias anunciadas", conforme alertam entidades de arquitetura como os Conselhos de Arquitetura e Urbanismo (CAUs) e o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Só em 2022, cidades como Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, e capitais como Recife passaram por situações dramáticas. Nos cinco primeiros meses deste ano, de acordo com dados da Confederação Nacional de Municípios, 457 pessoas morreram em desastres ocasionados pelo excesso de chuvas – a maioria delas dentro de suas moradias inadequadas, totalmente destruídas pela enxurrada de lama das encostas.
Política preventiva, mapeamento de áreas de risco e alertas mais velozes são algumas das soluções propostas pelas entidades de arquitetura. Porém, implementar programas de habitação dignos para quem mais precisa é a principal medida para evitar repetições de mortes e tragédias ano a ano no país, pontuam as entidades.

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