Arquitetura

Teatro Guaíra quase teve outra cara; conheça o projeto original

Vivian Faria*
08/04/2019 13:31
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Imagens: Arquivo/Reprodução

Se tudo tivesse saído como planejado, quem frequenta o Teatro Guaíra hoje, em vez de ir à Praça Santos Andrade, se dirigiria à Praça Rui Barbosa e entraria em um prédio muito parecido com o Colégio Estadual do Paraná. Era ali que o teatro deveria ter sido construído, de acordo com determinação governo do estado, à época comandado por Moysés Lupion. O projeto para ser transformado no chamado Teatro Oficial do Estado – mais tarde batizado Teatro Guaíra – foi escolhido por uma comissão julgadora.
“Havia um teatro que ficava na Al. Dr. Muricy, onde hoje é a Biblioteca Pública, e que foi demolido nos anos 1930. Ao longo dos anos 1940, houve uma campanha para erguer um teatro municipal e, em 1948,
o Lupion lançou um concurso para escolha do projeto desse teatro”, conta o diretor de patrimônio cultural da Fundação Cultural de Curitiba e autor do livro “Complexo Centro Cultural Teatro Guaíra: 50 anos de história”, Marcelo Sutil.
Os três anteprojetos vencedores foram anunciados junto com uma recomendação para que o teatro fosse construído no terreno em frente à Praça Santos Andrade, para evitar que a cidade “perdesse” uma praça. Daí a primeira mudança nos planos.
O primeiro lugar no concurso foi o projeto “Sobriedade”, da Companhia Construtora Nacional, e recebeu como prêmio 300 mil cruzeiros. Na segunda posição, ficou “Aida”, que rendeu à Muller, Caron Ltda um valor de 50 mil cruzeiros. E, em terceiro, ganhando 30 mil cruzeiros, ficou o projeto de Rubens Meister e Eugênio Oswaldo Grandinetti, chamado “Alceste”.
“Quem ganhou foi o pessoal da Construtora Nacional, que também fez o Colégio Estadual do Paraná, com um projeto que podemos chamar de proto-moderno, mas ainda voltado para os padrões do art déco e com uma linguagem muito próxima do que é o Estadual hoje. O segundo lugar era um prédio parecido com a UFPR, historicista. E o terceiro foi o projeto do Rubens Meister, que era muito próximo de como o teatro foi construído”, explica o professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Claudionor Beatrice.

Insatisfação

Apesar de o vencedor ter sido escolhido por uma comissão julgadora formada por dez pessoas, nem todos ficaram satisfeitos com a escolha devido ao estilo adotado. “A linguagem moderna da arquitetura começa no início do século 1920, com a descoberta do concreto armado. Então, em 1948, as expressões dos dois primeiros colocados já estavam defasadas”, explica Beatrice.
A insatisfação se refletia entre alguns membros da comissão julgadora, como o então diretor da Escola de Belas Artes, Fernando Corrêa de Azevedo, que em texto publicado na Gazeta do Povo de 16 de janeiro de 1949 classifica o projeto de Meister como excepcional – ante os outros, que qualifica apenas como “bons”.
Conforme ele, o exterior do Alceste era original e superaria “de muito tudo que se fez na já famosa Pampulha”– conjunto criado por Oscar Niemeyer em Belo Horizonte que se tornou um dos ícones da arquitetura moderna no Brasil. Do interior, ele destacava a visibilidade perfeita e “um palco de dezesseis metros de boca e colocado dentro da sala de espetáculos, situação magnífica para a acústica dos concertos, sem necessidade de concha”.
Meister foi um grande especialista em projetar auditórios. Sua obra-prima foi o Teatro Guaíra, cuja linguagem arquitetônica e qualidade acústica é admirada até hoje. Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
Meister foi um grande especialista em projetar auditórios. Sua obra-prima foi o Teatro Guaíra, cuja linguagem arquitetônica e qualidade acústica é admirada até hoje. Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
Lupion não executou a obra e a decisão ficou para Bento Munhoz da Rocha, que assumiu o governo em 1951 e começou a planejar a celebração do centenário da Emancipação Política do Paraná. Como o conjunto de obras que faria era moderno, optou pelo projeto de Meister, exigindo apenas adequação ao terreno que ficava em frente à Praça Santos Andrade e um aumento na capacidade, que até então era para 1500 espectadores. “O governador não gostava da ideia de ter um Teatro Oficial do Estado que fosse menor do que um cinema e o Cine Vitória tinha cerca de 1600 lugares. Foi aí que surgiu o segundo balcão”, diz Beatrice.
As obras começaram em 1952, mas o caminho para a finalização e inauguração dos três auditórios que compõem o Centro Cultural Teatro Guaíra ainda foi longo: somente em 1975, depois de 23 anos, algumas interrupções e um incêndio, é que o complexo ficou pronto.

Recém-formado

Quando Meister decide participar do concurso, ele ainda estava em seu primeiro ano de formado e não tinha como fazer o projeto em sua casa, porque não tinha uma prancha. Como servia o
exército naquele ano, pediu a seus superiores para usar a sala de projetos do quartel (atual Solar do Barão), onde trabalhou com o calculista Eugênio Oswaldo Grandinetti.

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