Lendo a cidade

Key Imaguire Junior
30/11/2015 00:00
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Ler uma cidade é um exercício complexo, mas também indispensável para quem nelas vive. Exige abordagens paralelas de bibliografia, consultas e referências de pessoas que as conhecem.
Há cidades que se revelam como um todo, vejamos como nossas capitais demonstram essa facilidade. Salvador tem nas suas casas, ruas e monumentos a condição explícita de primeira urbe administrativa de um país ainda colônia. Inclusive, a circunstância de ter sido abandonada quando a economia brasileira transitou do açúcar para o ouro. O Rio de Janeiro é muito claramente a capital de um império europeu dando origem a um país independente. E Brasília é a cidade que representa o único período da história nacional em que acreditamos no Brasil, que tudo daria certo e seríamos uma grande nação – não riam, isso já existiu.
Cidades europeias guardam as marcas de sua grandeza, como capitais de reinos poderosos, mas também as cicatrizes das guerras, como lição a não ser esquecida. Por outro lado, algumas são tão complexas que sua compreensão não se faz com o simples percorrê-la.
Algumas cidades têm essa personalidade marcante integral, mas a maioria das grandes guarda apenas pedaços de paisagens: ruas, logradouros, praças e bairros, onde é possível ao interessado ver e ler a evolução das arquiteturas, interpretá-las e entendê-las. Em algumas, a simples transição entre bairros ou zonas com históricos e coordenadas diferentes revela muitas facetas interessantes.
Em ambos os casos – cidades com totalidade urbanística ou tendo apenas frações preservadas – não prescindem das “legendas explicativas” que são seus monumentos, hermas, esculturas, referenciadores de informações não imediatas. Exemplo, um parque é um parque, o melhor que uma cidade oferece a si mesma e a seus habitantes. Mas, para além de ter um nome, uma representação figurativa histórica de personagens ou fatos, melhora a legibilidade, torna a apropriação de seu conteúdo mais segura.
“Verba volant, scripta manent”: pode-se dizer que a decorrência natural é que os fatos e as pessoas passam, mas fazê-los permanecer na memória da população, mais que edificante, é atestado de nível civilizatório.
Infelizmente, nem tudo o que se apreende na leitura de uma cidade funciona como adição. Entre outras agressões – placas e banners enormes –, as paisagens urbanas brasileiras têm sofrido pichações demarcatórias que representam suas mazelas sociais e urbanas. Em alguns casos, estão depreciadas de maneira irresponsável e criminosa por um vandalismo hostil, ofensivo, antisocial para além do tolerável. Não se trata apenas do confronto do individual contra o social, do vulgar contra o erudito, da minoria contra a maioria: são simplesmente subtrações na leitura de uma cidade.

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