Decoração

De bibelôs de cristal a closets completos: como funciona um evento de “vende tudo”

Marina Mori
04/08/2018 20:21
Thumbnail

Visitantes escolhem produtos em um evento de "vende tudo" em Curitiba. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo

Já pensou em entrar em uma casa desconhecida onde cada um dos itens está à venda? A experiência (capaz de gerar um misto de diversão e curiosidade à primeira vista) tem se tornado cada vez mais comum nos imóveis de Curitiba e do Brasil. Neste fim de semana, um apartamento no bairro Juvevê na capital paranaense está de portas abertas ao público. Até o anoitecer de domingo, os proprietários esperam vender cada um dos objetos que hoje estão expostos nos 160 metros quadrados da residência. HAUS foi até lá conferir como funciona essa prática.
Com senhas e fila para organizar, evento de "vende tudo" promove a liquidação de peças em casas familiares. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Com senhas e fila para organizar, evento de "vende tudo" promove a liquidação de peças em casas familiares. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Na sala, bibelôs de cristal, coleções de espelhos, sofás e uma série de mesinhas decorativas estilo imperial esperam por novos donos. Na cozinha, cuias de chimarrão, livros de culinária e jogos de porcelana dividem o mesmo espaço de uma máquina de café Nespresso, uma gaveta improvisada com ferramentas e tábuas de corte. Nos cômodos seguintes, centenas de outros objetos a partir de R$ 0,50. O mais caro (uma mesa de jantar com seis cadeiras de madeira) sai por R$ 2.590.
Sala de jantar do apartamento. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Sala de jantar do apartamento. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo

Quem decide vender tudo?

Segundo a arquiteta Michele Furiski, responsável pela empresa Vende Tudo Brasil, pessoas que decidem morar fora do país ou que vão se mudar para imóveis menores. “Os vendedores são principalmente proprietários das classes A e B, mas o público que compra é totalmente diversificado”, afirma. Há três anos no mercado, ela organiza pelo menos um “Vende Tudo” por mês em Curitiba.
Área de pagamento no evento em Curitiba. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Área de pagamento no evento em Curitiba. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
O tempo para preparar um evento assim varia conforme o tamanho do imóvel. Para este apartamento do Juvevê, Michele precisou de 20 dias para que a equipe de 11 pessoas pudesse selecionar o que seria vendido e, depois, catalogar e higienizar os produtos. “As proprietárias daqui moram nos EUA e este apartamento é um espólio. Por isso, colocaram tudo à venda”, explica.

Visitas em grupo

É impossível não notar a organização impecável do evento. Ao chegar, o visitante assina uma lista de presença, paga uma taxa de R$ 15 (revertida em consumação) e ganha uma pulseira de papel. Em seguida, espera até que um grupo suficientemente grande (entre 15 e 20 pessoas) se forme para entrar no apartamento.
Visitas acontecem em grupos para evitar tumulto e garantir a organização. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Visitas acontecem em grupos para evitar tumulto e garantir a organização. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Logo na entrada, são distribuídas cestas de plástico, daquelas de supermercado, para os itens menores de decoração. Objetos maiores, como mesas, sofás e armários, são retirados pelos compradores nos dias seguintes ao evento. Para garantir a compra, basta colar uma etiqueta amarela com o próprio nome no produto.
A área de serviço funciona como caixa. Ali, no quartinho apertado em frente à máquina de lavar (também à venda), duas funcionárias fazem a contagem das etiquetas amarelas dos visitantes. Uma fila se forma em segundos, assim que o ressoar agudo de um pequeno sino de ferro é emitido lá da sala – indicativo de que restam 10 minutos de visita.
O pagamento pode ser feito em dinheiro ou nos cartões de débito e crédito. Se a compra passa de R$ 300, é permitido parcelar em até três vezes.

Aquisições de peso

Duas mesas douradas estilo imperial, um sofá de três lugares off white, molduras de ferro e uma fruteira banhada a prata. A compra, capaz de mobiliar um pequeno imóvel, foi feita praticamente por encomenda pela irmã da professora Gilmara Vilela, 47. “Ela é médica e não poderia vir, então pediu para que eu comprasse tudo por ela”, conta. Com olhar atento a todos os itens da sala, a cada poucos minutos Gilmara parava em frente a um item e dizia, em voz alta: “acho que a Irene vai gostar disso”. Em seguida, tirava foto do objeto e mandava à irmã.
Gilmara, fez compras de móveis e objetos no evento. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Gilmara, fez compras de móveis e objetos no evento. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
“Vale a pena, viu. Eu pensava que esse tipo de evento só tinha coisa velha e me surpreendi”, revela. Em uma sacolinha à parte, aproveitou para fazer suas próprias aquisições – uns pares de roupa e outros pequenos objetos de decoração. “Parabéns pela compra”, sussurra uma das funcionárias ao acompanhá-la até o caixa.

Compradora veterana

A policial militar Simone Lopes Moreira Rosa, 36, é praticamente veterana desse tipo de evento. “Esse é o meu terceiro”, conta ela enquanto circula com a irmã pelo menor quarto do imóvel, repleto de jogos de tabuleiro e outros brinquedos. “Sempre tem produtos bons com preços bem acessíveis. Hoje, peguei uma bolsa e estou de olho nas decorações”.
Aline e Simone , sempre em busca de boas oportunidades nos bazares. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo.
Aline e Simone , sempre em busca de boas oportunidades nos bazares. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo.
Como já tem experiência no assunto, sabe qual é o segredo das boas aquisições: chegar cedo. Às 8h, ela e a irmã, a médica Aline Lopes Moreira, já estavam munidas de senhas para serem umas das primeiras na visita, que começou às 10h. “Essa é a minha praia. Bazar, vende tudo, leilão, brechó. Disso eu entendo”, conta, rindo.

Quem não tem cão…

O psicólogo Bernardo de Gouveia, 48, é um dos condôminos e resolveu dar uma espiada na movimentação do quarto andar. “Sempre vejo alguns programas de televisão nesse modelo e fiquei curioso”. Ele se animou tanto que chegou ao evento com itens específicos em mente. “Queria uma prateleira comprida ou uma cristaleira para guardar minhas coleções da Coca-Cola e de Star Wars”, conta.
Bernardo é vizinho do apartamento em "liquidação" e fez uma visita também. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Bernardo é vizinho do apartamento em "liquidação" e fez uma visita também. Foto: Marina Mori / Gazeta do Povo
Embora não tenha encontrado exatamente o que queria, Bernardo não saiu de mãos vazias do Vende Tudo. “Peguei esse saco de dormir para os meus sobrinhos… Dei uma pesquisada na internet e vi que o preço está bem em conta”, diz, enquanto aponta para o cilindro compacto de nylon acolchoado que ocupa quase toda a sua cesta de plástico. Parece que ele pegou mesmo o espírito da coisa.

LEIA TAMBÉM

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!