Inove Design

Decoração

Marca de mobiliário ousada, Carbono ganha showroom exclusivo em Curitiba

Luan Galani
27/09/2022 20:46
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Jogo de mesa C445 e poltronas C245, ambas da Carbono, que integra a coleção de 10 anos da marca

Uma das marcas brasileiras de mobiliário contemporâneo mais ousadas dos últimos tempos, a Carbono -- que conta com uma gama de peças de jovens designers e é porta de entrada para o design assinado de alto padrão -- acaba de abrir seu showroom exclusivo em Curitiba, na Inove Design, com projeto arquitetônico do Superlimão e da Solo Arquitetos, e ambientação pela Unic Arquitetura.
Em visita à capital paranaense no último dia 15, o designer de móveis autodidata Marcus Ferreira, 51 anos, nome à frente da Carbono e da Decameron desde 1993, conversou com HAUS sobre sua carreira e o atual momento do design brasileiro. Confira!

Como você foi parar no design?

Eu fui para Florianópolis estudar biologia marinha. Mas cresci com uma sala de desenho em casa, do meu pai, que era engenheiro civil. Então muitos amigos sempre pediam para ele fazer uma planta ou arquitetos chegavam pedindo para ele fazer desenhos complementares. Eu via isso o tempo todo. E na biologia tinha isso de desenhar à mão também. Um fim de semana conheci uma pessoa. Ela me perguntou: o que você faz? Eu disse que fazia genética de peixes. E perguntei: e você? Ela me disse que fazia sofás. Na época, eu achava que sofá era algo que caia pronto na casa das pessoas. Um dia fui visitar ela e, onde morava, tinha uma oficina em que ela trabalhava. Foi mágico. Eu me apaixonei ao pegar o tecido, cortar, costurar, grampear. Comecei a dar um monte de palpite, baseado na minha vivência, e nunca mais voltei. Depois de quatro meses eu abri uma pequena oficina própria para protótipos e alguns serviços. E para fazer do jeito que eu queria, com até seis tipos de densidades diferentes, eu teria que encarar a produção. Fiz um, fiz dois...quando vi, estava com a fábrica.

Essa questão da produção para você é muito forte, certo?

É fundamental. Desenho muito na minha cabeça, vou visualizando nos espaços, e só depois passo para o papel. Mas nunca finalizo totalmente no papel, pelo menos para mim não tem como. Minha história de vida levou a isso. Preciso tocar para ver caimento, corte, como vou apontar alfinete para o tapeceiro etc.
Diversas peças da coleção de 10 anos da Carbono
Diversas peças da coleção de 10 anos da Carbono

E o que você traz desde essa época? Ou sua forma de fazer mudou?

Eu mudei poucas coisas. O que é muito forte, e que só agucei: imaginar para quem estou projetando. Qual é o entorno, o que essa pessoa precisa, descobrir a necessidade mesmo que ela ainda não sinta, eu colocava o individuo no centro. Pensava em como a pessoa iria assistir TV, sair do banho etc. Com o tempo, fui pensando na pessoa e também no espaço, na circulação, nos vãos. E nos últimos anos fiz isso pensando em todas as pessoas que vão habitar esse espaço, criando um móvel democrático na função para todo mundo que habita lá. Enquanto um pode estar sentado no sofá mexendo no laptop, outro pode estar assistindo TV, comendo, namorando... por isso faço sofás mais baixos, altos, profundos, vou brincando com as volumetrias.

Uma flexibilidade de função.

Flexibilidade de função e, mais: agente agregador. Quando eu era moleque, tinha hora do jantar. Tinha que estar impecável, eu e meus irmãos, como se não tivesse aprontado nada o dia todo, esperando meu pai chegar para jantar. Hoje não tem mais isso. Às vezes a mãe nem chegou do trabalho ainda e moleque está no quarto assistindo TV. Antes tinha esses pontos de encontro, mesmo que fosse de algumas horas. Hoje, não mais. E, se o mobiliário reforça essa separação, as pessoas não vão se juntar. Precisa ser uma peça de atração para as pessoas ficarem próximas. Tentei fazer com que as criações atraíssem as pessoas. Quero maximizar o convívio. Por exemplo, na Decameron, lancei uma mesa de jantar com dois andares. Tem o formato retangular normal e outro nível, na ponta, redonda, mais baixa. Para que? Imagina que você terminou de jantar com os convidados e quer continuar no astral, mas não quer sair dali. Então tem o segundo andar da mesa, pensando no móvel dessa forma.

Nos anos de 1990 você fundou a Decameron. Como foi?

Eu tive uma percepção lá em 1994, mais ou menos, de que não tinha uma grife brasileira de sofá. Tinha marcas legais, mas o sofá era marginalizado, muito copiado. Não tinha uma marca de design brasileiro que se propusesse a fazer um mobiliário legal, confortável, com linguagem contemporânea, customizando projetos. Esse foi meu insight. A forma que entendo o desenho brasileiro não é necessariamente algo caricato. Começa pela ousadia de um brasileiro fazer um sofá bom. E casual, de deitar, colocar o pé em cima, ter um sofá para descansar e até fazer amor.

E o DNA da Decameron continua o mesmo?

Continua o mesmo. Eu procuro fazer um traço o máximo possível atemporal. Que vença qualquer tendência, porque as casas são feitas para durar. A Carbono nasceu da Decameron. A Decameron é para móveis maiores, personalizados. E os clientes começaram a chegar na loja e falavam que era muito grande, se poderia diminuir, que estava caro etc. E não tem como ser barato quando vai customizar. Então pensei em criar uma linha pensando nesse público. Hoje, o que difere é o estilo. A Carbono é volátil, porta de entrada de vários designers.
Novo showroom na Inove Design conta com diversas criações da marca paulistana
Novo showroom na Inove Design conta com diversas criações da marca paulistana

Mais experimental?

Talvez. Mais ousada, eu diria. Nossa marca adolescente. É uma marca que questiona muito e que tem propósito. A gente pensa na quantidade que lança. Quero que os produtos durem como produto, tem que ter propósito. Não adianta ficar lançando coleção todo ano. E algo que gosto muito: as duas marcas inspiram as pessoas em momentos diferentes da vida.

A questão do feito à mão é muito valorizada. Como é na Carbono e na Decameron?

Primeiro, acho que gosto de saber a origem de tudo. Não sou xiita, mas quero saber. Na medida do possível. Deixa eu conhecer, afinal estou investindo nessa pessoa. E mantenho a produção manual por questão estratégica também. Os filhos dos primeiros colaboradores estão trabalhando comigo. É valorizar essas profissões e evitar um êxodo. O filho não sente valor na profissão do pai, mas quando faz a peça de design que é publicada em uma revista, ele se sente valorizado. E chegam a ganhar mais que arquitetos em começo de carreira.
Sofá C140 integra coleção dos 10 anos da marca
Sofá C140 integra coleção dos 10 anos da marca

E o Vietnã na sua vida?

A gente começou a ter muita procura externa de pessoas querendo comprar na Europa, Ásia e Estados Unidos. E exportar sofá é muito difícil, porque as leis são diferentes, os contâineres chegam a atingir 100 graus no mar etc. Então percebi que para ter volume e qualidade, a fábrica teria que estar na Ásia. Conheci o Vietnã e decidimos produzir lá para o mercado externo. Com a pandemia, porém, o showroom de 400 metros quadrados ainda está fechado. Devemos inaugurar ano que vem. Em outubro vamos retomar para decidir isso.
Showroom da Carbono na Inove Design
Showroom da Carbono na Inove Design

Olhando o mercado do design de móveis hoje. Qual o principal entrave para o pleno desenvolvimento do setor?

Acho que já teve muito entrave. Os empresários viam design como custo e não como investimento. Hoje não. Tem designer bom, novo, fazendo produto legal. Falta cultura de modo geral, renovação do olhar, de design, da fábrica realmente investir e não fazer réplica. Tendência é algo empobrecedora, todo mundo fica fazendo variável da mesma coisa. Não olhar tanto para o outro. Olhar para si e saber qual é o seu caminho, qual o propósito da sua marca, o que quer agregar para o público. A cópia é um problema. A gente leva um ano para uma coleção, gasta pra caramba, depois gasta o dobro para fotografar. E aí a pessoa vem e usa aquilo. Acontece comigo há tempo. Imagina o cara que tá começando. Nem consegue ganhar o dinheiro dele e perde.
Aliás, talvez falte do governo estratégia para o design de exportação. Vou te explicar. Tem a Apex, ela é muito legal e tal, mas não dá para trabalhar da mesma forma com todos os produtos. O cara chega lá, acha lindo, pergunta onde compra e pronto, a pessoa não sabe responder. Tem que capacitar antes, conectar com o mercado.
Detalhe de peças da Carbono na Inove
Detalhe de peças da Carbono na Inove

Na seleção das marcas?

Trabalho bem feito do começo ao fim. Antes de levar você para os EUA e o Japão, por exemplo, vou preparar a indústria, capacitar, vou ensinar como exportar, dar cursos. Mesma coisa que eu mostrar foto de um produto na feira. Eu primeiro tenho que produzir o produto. Não é só levar produto. Tabela de preço lá fora é impressa, aqui a gente muda a cada três meses. Não dá para exportar assim. Então vamos exportar propriedade intelectual. É o que eu faço no Vietnã. Exportar o que temos de melhor. Esse é o grande entrave. Entender cada segmento de design.

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