Entra ano, sai ano, mas uma coisa não muda: para muita gente, manter o lar organizado de janeiro até dezembro é um verdadeiro desafio. Por isso, quando chega novembro, é hora de começar a dar os primeiros passos para repensar o lugar de cada coisa e buscar novas formas de manter a organização da casa.

HAUS conversou com quatro personal organizers para entender como esta época do ano pode ser crucial para criar sistemas mais fáceis de manter e promover mudanças de hábito. Elas apostam que deixar cômodos e armários organizados não precisa ser só uma promessa de ano novo e que é possível entrar em 2023 com uma casa funcional.

Uma palavra é consenso entre as organizadoras profissionais para garantir o sucesso do empreendimento: desapego. “Desapego é a palavra-chave na organização. Comece por aí e muitas coisas virão na sequência”, sugere Carmen Van Linschoten, proprietária da empresa Muito Amor Organizer. A também personal organizer Ana Paula Santos, que atua no ABC paulista, concorda: “As pessoas acumulam muitas coisas com base no ‘e se eu precisar?’. Se em um ano você não usou, não vai usar mais, é hora de se desfazer”, sugere.

Além de desapego, planejamento, paciência e disciplina também serão necessários para que a arrumação de fim de ano seja eficiente. Quem nunca começou a fazer uma limpa no armário e desistiu no meio do caminho?

Para a personal organizer Jessica Sgargeta Leite, algumas dicas e mudanças de atitude podem evitar que isso aconteça. “Comece acreditando que essa organização é fundamental e afeta nossa vida de todas as formas - física, mental e financeira” .

Outra sugestão unânime entre as entrevistadas é: convoque todos os moradores da casa. Se só uma pessoa da família organizar, o restante não vai conseguir ajudar a manter tudo em ordem.

Para Jessica, fazer um cronograma por datas ou por cômodo e ter um objetivo bem definido evitam a tendência a abandonar o projeto. “Faça uma gaveta por vez. Não arrisque tirar tudo do guarda-roupa e querer fazer em um dia porque as chances de não conseguir terminar é praticamente 100%, e aí, ao invés de organizar, a pessoa vai só criar uma bagunça maior, pois vai se cansar e voltar tudo para o guarda-roupa de qualquer jeito”.

Desapegar e organizar são atos emocionais, que evocam muitos sentimentos além da preguiça, e é preciso pensar nisso antes de começar. “Nunca comece pela parte de recordação ou itens que têm apego sentimental. Por exemplo, algumas pessoas têm muitos sapatos e ama colecionar/comprar sapatos. Começar pela sapateira seria um erro, pois a pessoa vai encontrar resistência a fazer descartes e a chance de você parar e ficar relembrando tudo sobre aquela peça vai te fazer perder tempo”, explica Jéssica.

Para as profissionais, reorganizar permite renovar a energia da casa, melhorar a circulação e o aspecto visual, e também promove economia de tempo e dinheiro.

Investir em produtos organizadores e, se você for do tipo que não tem tempo nem disposição, contratar uma profissional de organização podem ser formas de evitar desperdício de alimentos, produtos de limpeza e roupas desnecessárias, além de tornar mais rápidas rotinas que são repetidas diariamente.

A personal organizer Nalini Grinkraut lembra que organizar é diferente de limpar e fazer faxina. Tentar as duas coisas ao mesmo tempo pode embolar o meio de campo e impedir que você avance no processo. “Organizar envolve fazer uma triagem nos pertences, definir a melhor estratégia para guardar e sempre que usar, devolvê-los para o lugar. A organização, quando bem-feita, facilita muito a faxina, pois quando as coisas possuem locais para serem guardadas, você consegue ter os espaços livres para acessar e limpar”.

Então, bora arregaçar as mangas e começar? Veja, a seguir, dicas sobre como organizar alguns cômodo da casa.

A organizer Ana Paula Santos sugere que a organização de fim de ano comece “por onde mais dói”. E, segundo ela, em geral esse lugar é o quarto. “É onde as pessoas passam mais tempo e o cômodo que precisa ser mais funcional. Então é preciso começar desintoxicando o quarto, fazendo uma triagem e separando o que você tem em quatro pilhas: doação, reciclagem, venda ou lixo”. Lembre de só doar o que estiver em condições de uso, pois outra pessoa vai vestir aquela peça depois.

Crie um ambiente que incentive a persistência. Separe um dia inteiro para isso, sem interrupções, coloque uma música calma e se desligue do resto. Segundo ela, esse clima é necessário para que a pessoa se divirta no processo e a organização não se torne algo maçante ou cansativo demais.

Não precisa seguir um passo a passo, mas as profissionais perceberam, em sua experiência, que um roteiro pode ajudar. Segundo Carmen, retirar as peças de dentro do armário -- não precisa ser tudo ao mesmo tempo -- e usar uma mesa auxiliar ajuda a visualizar melhor as peças que serão separadas. O segundo passo é pensar o espaço estrategicamente. “Olhe seu armário vazio, faça uma análise do espaço disponível e planeje o que irá guardar ali. Separe as roupas pensando no espaço, no que irá pendurar e no que irá dobrar”.

Dobrar as peças da mesma forma, separando por cores, tipos ou estação também é um método eficiente. Deixar na frente o que utiliza com mais frequência é mais uma forma de ganhar tempo no dia a dia.

Jessica Leite sugere, ainda, a padronização de cabides. “É algo simples e fácil de ser feito e que vai trazer um efeito visual para o armário, cabides de diferentes tamanhos e cores poluem o armário visualmente. Além disso, na hora da escolha da roupa, tiram nosso foco dela e confundem nosso cérebro com tantas cores”.

Segundo Ana Paula Santos, outros acessórios como colmeias organizadoras, divisores de prateleiras, sacos de TNT para toalhas e roupas de cama, papéis perfumados para o fundo da gaveta e produtos para remover o mofo ajudam a manter o armário limpo e organizado.

“A cozinha é onde várias pessoas trabalham e, por isso, mantê-la organizada pode ser um desafio”, começa Jessica. Mas, isso deve funcionar como um incentivo a mais para envolver toda a família na arrumação, que começa pela despensa ou pelos armários.

“Comece checando a validade dos alimentos e descarte o que estiver vencido. Muita gente se surpreende com quantos produtos além da validade havia no armário. Também tire peças quebradas, lascadas ou que não são usadas. Elas só roubam espaço dentro do armário”.

Deixar os itens mais usados à mão é outra dica importante, assim como investir nos cestos organizadores. “Eles são fundamentais para delimitarmos espaço e não transformar tudo em uma bagunça. Etiquetar os cestos com o nome de cada setor para lembrar a todos da casa para aonde cada coisa tem que voltar também é ótimo”.

Nalini complementa que, na hora de organizar a cozinha, é preciso atenção para colocar os alimentos em locais apropriados para sua preservação e de forma que você consiga visualizar o que possui -- por exemplo, deixando à mostra o que estiver com a validade próxima. “Em relação aos itens para preparar as refeições, como panelas e formas, e os itens para servir, como louças e copos, faça uma boa triagem para manter o que você realmente usa. Os excessos podem te atrapalhar para armazenar e acabar dificultando o acesso a itens de uso cotidiano”

De acordo com o espaço disponível na lavanderia, a sugestão de Ana Paula Santos é apostar em armários e materiais organizadores. “Cestos organizadores dentro dos armários são essenciais dentro de uma lavanderia. Em um deles se coloca o que é estoque, em outro o que se vai usar todo dia ou toda semana, em um terceiro os panos usados na limpeza, por exemplo”, explica ela.

Outra dica é organizar os itens nos cestos por tamanho da embalagem, do menor para o maior, e por data de validade, com os mais próximos do vencimento na frente. Isso ajuda a evitar compras em excesso e evita a perda de produtos. “A visualização é importante. Na hora que você abrir o armário, os produtos vão estar identificados. Isso vale também para os armários do banheiro e da cozinha”.

Se você tem um cômodo sobrando em casa -- um quarto de hóspedes ou de um filho que já se mudou para outra casa, por exemplo -- é bem provável que a essa altura ele já tenha se transformado no chamado “quartinho da bagunça”. Aquele que você deixa com a porta fechada quando chega uma visita, sabe? É comum que esses espaços se transformem em depósito de coisas que você não usa mais, mas não tem coragem para descartar. Mas agora é hora de mudar isso e ressignificar este espaço!

“Quarto da bagunça? Por que não pensar nele como um quarto onde guardo coisas separadas e organizadas, ainda que use apenas eventualmente ou em momentos específicos?", questiona a organizer Carmen Van Linschoten.

Segundo as profissionais, esse costuma ser o ambiente para onde vão as “peças-problema”, aquelas que não têm um lugar bem definido nos outros cômodos. E é aqui que entra o desapego. Vá devagar, separe uma hora por dia para abrir a porta e começar a triagem. “Você provavelmente vai encontrar ali lembrancinhas, trabalho de escola do filho de anos atrás”, comenta Ana Paula. Como são peças com muito valor emocional, guarde o que precisa e o que te faz bem, mas descarte os excessos.