Novos murais

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Alto São Francisco ganha 530 m² de arte assinada por trio de grafiteiros

Cristina Seciuk
19/12/2022 17:23
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O trio de grafiteiros Jorge Galvão, Neiton Nunes e Thiago Syen recebeu a missão de dar vida a 530 m² com intervenções cheias de cor, diálogo e reflexões sobre a cidade. | Cristina Seciuk/Gazeta do Povo

A antiga localização do tradicional colégio Anjo da Guarda, no alto São Francisco, vai se tornar endereço de um novo empreendimento imobiliário, mas até que o edifício - um corporativo de alto padrão - seja entregue, os muros permanecerão de pé, transformados em grandes painéis de arte. O trio de grafiteiros Jorge Galvão, Neiton Nunes e Thiago Syen, que formam a Valetão Crew, recebeu a missão de dar vida aos 530 m² de perímetro da obra com intervenções cheias de cor, diálogo e reflexões sobre a cidade.
Os painéis, idealizados pela Urbideias, se estendem pelas ruas Treze de Maio e Carlos Cavalcanti, nas quadras entre a Almirante Barroso e a João Manoel, e na própria Almirante Barroso, onde o foco dos murais é o trabalho autoral dos grafiteiros envolvidos.
Em conversa com a reportagem de HAUS em meio à realização dos grafites durante este fim de semana, Jorge Galvão destacou que a expectativa do trio é de que quem passa por ali se veja no muro. "O Thiago, por exemplo, desenha situações do cotidiano, o Neiton traz uma questão espiritual com os personagens, eu faço uns abstratos, estou trazendo retratos. Então, cada pessoa que vir vai se identificar em algum aspecto, vai ser tocado. Todos vão achar algo para se identificar", completou.
Painéis assinados pelo coletivo formado pelos grafiteiros Jorge Galvão, Neiton Nunes e Thiago Syen na Almirante Barroso. Foto: Cristina Seciuk/Gazeta do Povo
Painéis assinados pelo coletivo formado pelos grafiteiros Jorge Galvão, Neiton Nunes e Thiago Syen na Almirante Barroso. Foto: Cristina Seciuk/Gazeta do Povo
Thiago Syen levou para a região muito dia a dia e simplicidade - nas situações retratadas, não na execução. Com cores fortes e traço fortemente inspirado pela técnica da xilogravura, buscou o caminho do afeto, com um papo entre pai e filho, até um frugal banho de sol. Ao comentar sobre os temas escolhidos, falou sobre a importância da abertura para a criação autoral no desenvolvimento desse tipo de trabalho, no que recebeu eco de Galvão: "o grafite é uma linguagem gráfica, é estudo, mas ainda é tratada como menor. Não é uma bagunça de moleque, é um movimento sério, de pessoas que pensam a arte que estão fazendo", cravou.
Neste contexto, a realização de um projeto tão grande surge não distante (no espaço e no tempo) do apagamento de outro, deixando um "sentimento dúbio", nas palavras de Jorge Galvão. "É bom que haja interesse [pelo grafite], mas é chato que não haja ações mais efetivas [de incentivo e preservação]".
 Painéis assinados pelo coletivo formado pelos grafiteiros Jorge Galvão, Neiton Nunes e Thiago Syen na Almirante Barroso. Foto: Cristina Seciuk/Gazeta do Povo
Painéis assinados pelo coletivo formado pelos grafiteiros Jorge Galvão, Neiton Nunes e Thiago Syen na Almirante Barroso. Foto: Cristina Seciuk/Gazeta do Povo

Os novos murais

Na Almirante Barroso, os muros agora estão ocupados por retratos, composições abstratas, cenas cotidianas. Quando HAUS chegou ao endereço, Neiton Nunes trabalhava numa peça em que faz sua releitura de um Picasso. Muita geometria, paleta de cores restrita - de cinzas, preto e branco - em contraste com o color-blocking escolhido para os muitos metros do mural da Treze de Maio. Na paralela Carlos Cavalcanti, música, cinema e dança dão o tom do painel, numa escolha "casada" com a cena do Largo da Ordem, da vizinha Cinemateca e da região como um todo, casa de muitos bares, espaços de shows e boemia.
"É a nossa Capela Sistina", brinca Nunes, comparando a dimensão dos muros entregues ao trio com os extensos tetos do santuário do Vaticano. O grafiteiro ainda destacou a oportunidade de trazer um olhar renovado e que os planos são por manter a área autoral sempre em movimento. "A gente gosta de evoluir e experimentar constantemente e a vai renovar isso aqui, talvez convidar outros artistas. A cidade é mudança constante. A cidade, o grafite e nós mesmos. Quando terminar isso aqui já estarei pensando em outro painel".
Os murais devem estar concluídos até esta terça-feira (20), vão ganhar iluminação própria, como uma galeria a céu aberto, e permanecerão parte da paisagem do São Francisco pelos próximos três anos, que é a estimativa de tempo para a conclusão da obra, assinada pela Invescon Desenvolvimento Imobiliário.
De acordo com o empresário Luis Napoleão, CEO da companhia, o objetivo da ação foi colaborar com a revitalização do local e surpreender os moradores do entorno. "Entendemos que estamos iniciando um novo capítulo para um endereço repleto de memórias. Nada mais justo do que abrirmos este diálogo com uma gentileza urbana”, acredita.

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