Foram anunciados na última semana os vencedores do Design for a Better World Award 2023. A premiação, organizada pelo Centro Brasil Design, teve 51 projetos laureados numa iniciativa que destaca as melhores soluções de design e que visam impactar a sociedade de modo positivo. Em sua terceira edição, o DFBW Awards recebeu 319 inscrições, vindas de todo o Brasil e também do exterior. Entre os premiados, projetos de 19 cidades brasileiras e nove estados, demonstrando a diversidade do design nacional - houve ainda um premiado internacional, de Uxbridge, no Reino Unido.

Os agraciados com a premiação foram selecionados por um júri multidisciplinar composto por 24 especialistas do Brasil e do exterior em avaliação de quatro áreas de atuação: conceito; design de produtos, serviços e embalagens; design gráfico, digital, UX/UI e comunicação; arquitetura e cidades. Para a tomada de decisão foram analisadas questões como uso de processos mais limpos e de menor impacto, eficiência na produção e logística, redução no uso de matéria-prima, redução de resíduos, reuso da água, reciclabilidade e reutilização, eficiência energética, economia circular, rastreabilidade, inclusão, democratização e acessibilidade.

HAUS selecionou alguns destaques entre os premiados, com foco em arquitetura, cidades e design de mobiliário. Confira:

Estudio Guto Requena, Foco Luz e Desenho, Juliana Freitas, Harmonia Acústica, Noise, I2N e Juntxs.Lab; categoria Arquitetura e cidades.

Este projeto transformou um apartamento em uma verdadeira floresta urbana que une, harmoniosamente, tecnologia e biofilia. Como esse edifício não tem varanda, mas possui uma fachada de vidro, os moradores decidiram transformar todo o apartamento numa varanda, ocupada por diferentes espécies de plantas, muitas delas nativas do Brasil. O projeto rompe com a setorização tradicional das áreas por meio de uma planta flexível, adaptável às atividades dos moradores. Essa moradia hiperconectada tem espaços responsivos, por meio da automação, e preza por soluções sustentáveis. A escolha de revestimentos e materiais priorizou produtos nacionais e com selos de certificação. O antigo piso de madeira foi cuidadosamente retirado, tratado, e se tornou uma coleção de móveis desenhados para o apartamento. Toda iluminação é de LED e o sistema de automação possui controle de eficiência energética.

M Magalhães Estúdio e Tati Incorporadora; categoria Arquitetura e cidades.

O edifício Stella, projetado por Croce, Aflalo e Gasperini em 1960, foi submetido a um processo de retrofit e recebeu um novo projeto de interiores para se tornar o Hotel Canopy by Hilton Jardins. A arquitetura, o design, as cores e as texturas de São Paulo inspiraram o projeto de interiores. A transformação do edifício celebra o encontro de três grandes nomes que cercam a região de diferentes formas: Paulo Mendes da Rocha, Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer. O projeto, que respeita a história do edifício, foi realizado por meio de escolhas sustentáveis, como demolição controlada; reforço estrutural focado em manter as características construtivas e segurança; preservação da fachada existente; instalação de placas solares e fotovoltaicas. Além disso, o edifício é o primeiro hotel no Brasil com ar-condicionado com sistema de gás natural.

Oficina Urbana de Arquitetura, Multiplan Empreendimentos, ParkShoppingBarigui e Prefeitura Municipal de Curitiba; categoria Arquitetura e cidades.

O trecho inicial do Parque Linear do Rio Barigui possui 600 metros de extensão e liga o Parque Barigui ao ParkShoppingBarigui. O empreendimento foi viabilizado como medida compensatória da expansão do shopping, permitindo melhorias públicas financiadas pela iniciativa privada. O projeto, cuja obra está em andamento, requalifica as margens do rio e interliga áreas de interesse por meio de caminhos e travessias para pedestres e ciclistas, preservando e recompondo a mata ciliar e criando espaços de lazer e de desfrute da paisagem. O ponto focal da proposta é a valorização da paisagem natural do rio, aproximando-a da vida dos curitibanos. O projeto transforma uma área depreciada em nova frente urbana, promovendo consciência ambiental, conexões urbanas, mobilidade não motorizada e salubridade.

INT LaTAI – Instituto Nacional de Tecnologia; categoria Design de produto

A estativa é um móvel que organiza os equipamentos obrigatórios de uma UTI, sendo posicionada de maneira próxima e visível aos pacientes e visitas. Os modelos disponíveis no mercado, de aparência fria e industrial, com componentes mecânicos, tubos e cabos aparentes, podem ter visual intimidador. Gent propõe um novo conceito de estativa, com aparência mais próxima de um móvel doméstico, inspirado na biofilia, para reduzir o impacto emocional da internação. As laterais translúcidas ocultam equipamentos, reduzem sons desagradáveis, proporcionam privacidade e dão suporte para itens pessoais, como fotografias e objetos afetivos. O projeto oferece uma solução economicamente viável, acessível mesmo a hospitais públicos e UTIs coletivas, contribuindo para democratizar o acesso a um atendimento médico humanizado. Além disso, promove a sensação de bem-estar sem prejudicar o atendimento clínico.

Electrolux do Brasil e Electrolux Design Latam; categoria Design de produto

Os refrigeradores Bottom Freezer Electrolux Experience foram projetados para ampliar o consumo consciente e reduzir o desperdício de alimentos. Para promover a sustentabilidade, foram aplicados materiais reciclados nos puxadores e peças estruturais, junto com a diminuição de papel nos materiais instrucionais. A tecnologia inverter possibilita a economia de energia, enquanto a função AutoSense utiliza Inteligência Artificial para aprender o comportamento do consumidor e ajustar a temperatura automaticamente para manter as melhores condições de preservação e frescor. Para permitir e envolver os consumidores na redução do desperdício de alimentos existe também a função FoodControl, que ajuda a controlar a validade dos alimentos, e o compartimento de temperatura variável Fresh&Flex, que possibilita armazenar carnes por até 7 dias sem congelar.

Trapos e Fiapos, Coletores das Fibras na Comunidade de Santa Rita, no Piauí e Tecedores de Tranças de Taboa; categoria Design de produto

Essas tapeçarias artesanais não apenas embelezam ambientes, mas também carregam uma narrativa social e ecológica. Feitas à mão por artesãos da comunidade rural de Santa Rita, em Teresina (Piauí), essas peças transformam vidas ao impulsionar o desenvolvimento econômico da região, mantendo viva a tradição ancestral da tecelagem e respeitando o ambiente natural ao redor. Além de criar artes únicas, o projeto proporciona emprego digno, melhorias habitacionais e educacionais para mais de 60 famílias. A partir de um ecossistema sustentável, fibras de algodão, buriti e taboa são incorporados à tapeçaria, oferecendo uma textura ímpar e durabilidade de até 10 anos. As peças possuem cores, formas e desenhos que transmitem brasilidade e podem ser usadas no chão ou parede, levando personalidade para qualquer espaço.

Ola e Mush Eco; categoria Design de produto

A luminária Hogar é uma peça de design pensada em seu ciclo completo de existência. Suas cúpulas resistentes e duradouras são feitas com micélio (parte vegetativa da colônia dos cogumelos), que é 100% biodegradável quando está em contato direto com solo ou água. A luminária biodegradável cria uma experiência de reaproximação com a natureza por meio das características naturais do micélio presentes na peça, que incluem texturas e até um suave aroma. Seu formato foi definido com base em três critérios de função: absorção acústica, distribuição da luz e reconexão ao ecossistema. A iluminação indireta, suave e ao mesmo tempo funcional, traz conforto e enaltece a textura e as formas naturais da parte interna da cúpula. Sua logística é circular, contando com sistema de retorno de peças para reutilização, reforçando seu impacto ambiental positivo.

Mush e Furf Design Studio; categoria Design de produto

Navegar é uma revolucionária urna funerária feita de um dos biomateriais mais sustentáveis disponíveis no mundo hoje, o micélio, que pode se dissolver na água ou na terra, transformando-se em um fertilizante natural. A urna oferece uma alternativa poética e ecologicamente consciente para um momento delicado, além de ser mais acessível que as urnas tradicionais, de metal. Inspirada na famosa citação de Fernando Pessoa “navegar é preciso”, proporciona uma última jornada leve e significativa, em harmonia com a natureza. A urna se dissolve apenas em meio a condições da natureza, ou seja, caso a família opte por expor em casa ou guardá-la, ela é altamente resistente e durável, sem data de expiração. A combinação única de biomaterial biodegradável e design criativo a torna uma solução inovadora no campo funerário.

João Pedro Cavalcanti e Jeanine Geammal; categoria Conceito

Este projeto propõe rituais de sepultamento sustentáveis a partir da utilização de urnas funerárias feitas com micélio, uma rede de fungos abundantes na natureza. Esse biomaterial é capaz de nutrir e biorremediar o solo, expurgando poluentes, além de mediar trocas de nutrientes entre vegetais e fungos. As partículas do corpo a serem inseridas na urna biodegradável podem ser obtidas com cremação, hidrólise alcalina ou redução orgânica natural, dispensando embalsamamento e anulando o surgimento de contaminantes derivados da decomposição. O micélio que compõe a urna é orgânico, renovável e efêmero, sendo absorvido pelo solo em 30 dias após o enterro. A proposta elimina danos ambientais, promove paisagens verdes em cemitérios urbanos e reduz riscos à saúde pública.

Enzo Pretti, Christian Ullmann, Graziela Nivoloni e Istituto Europeo di Design; categoria Conceito

O projeto “Biomateriais: experimentações para uma revolução no ensino do Design”, desenvolvido no Laboratório de Biomateriais do Istituto Europeo di Design, em São Paulo, é um laboratório de inovação aberto e ecossistêmico para estudantes, pesquisadores, empresas e instituições que desejam explorar ingredientes naturais da biodiversidade brasileira para criar materiais inovadores. Distintas e numerosas combinações de biomateriais feitos com matérias-primas como urucum, casca de jabuticaba e fibra de coco resultaram em materiais rígidos e flexíveis, opacos e translúcidos, assemelhados a couro, neoprene, plástico, calcários e outras condições físicas únicas e surpreendentes. Além de proporcionar novas experiências aos estudantes que cursam a grade do curso de Design de Produto e Serviço, o projeto visa promover a consciência ecológica e impulsionar a pesquisa e utilização de biomateriais.

Estofados Jardim e Dumeio Sustentável; categoria Conceito

Este móvel de madeira maciça é estruturado com DuBac, um tecido bioleather fabricado por bactérias. Este biotecido foi desenvolvido com nanotecnologia na indústria nacional brasileira, é sustentável, de fonte renovável e sem crueldade animal. Tem reduzida pegada hídrica e de carbono e pode ser compostado. A mesa Seiva, com tampa revestida em bioleather, transmite leveza na composição dos ambientes onde for utilizado. O produto é versátil: pode ser usado como mesa de apoio, banco ou porta-objetos. A biofabricação é um campo promissor e emergente, mas ainda tem poucas aplicações em móveis comerciais. A partir deste modo produtivo, a ciência e a natureza se entrelaçam, possibilitando um futuro mais sustentável e ecoinovador. (Categoria Conceito)

Ricardo Makino, Júlia Marquez – USP e Poda Lab; categoria Conceito

O banco YAGI é um projeto de mobiliário sustentável, criado para aproveitar galhos de árvores urbanas podadas. Feito através do torneamento da madeira e encaixes de cunha tradicionais, dispensa pregos e parafusos, garantindo montagem simples e ecológica. Seu assento levemente curvo prioriza a ergonomia, enquanto o design leve e versátil o torna adequado para uso por adultos e crianças em diferentes posições. Desse modo, combinando funcionalidade e estética, essa peça promove a reutilização de recursos naturais de forma criativa e amigável ao meio ambiente. Essa abordagem não só mitiga problemas imediatos dando uma destinação adequada para resíduos urbanos, mas também semeia um futuro mais consciente e ecológico, impactando positivamente a relação das novas gerações com a natureza.

O prêmio Design for a Better World surgiu em 2021 com o objetivo de dar visibilidade a iniciativas que podem fazer a diferença por um mundo melhor: "queremos mostrar o que pessoas e empresas têm desenvolvido com o objetivo de melhorar a sociedade em que vivemos”, resume a diretora superintendente do Centro Brasil Design Letícia Castro. A próxima edição será lançada em maio de 2024.

Você pode conhecer todos os projetos premiados no site: www.dfbwaward.com/premiados-2023