Após dois anos com edições digitais, a MADE –
Mercado Arte e Design volta à versão física no recém-inaugurado Pavilhão
Pacaembu, na capital paulista, com cerca de 16 novos nomes do circuito do
design, entre 80 expositores. Sob a curadoria de Waldick Jatobá e Bruno Simões,
a décima edição do evento acontece até o dia 5 de junho, trazendo ao público as
novidades do setor, vindas de diferentes regiões do país.

Diretor e idealizador da feira, Waldick Jatobá conta um pouco sobre como é feita a seleção das peças e dos profissionais convidados para participar da MADE: “O desenho é muito importante, mas não é apenas isso. Consideramos sempre a forma de produção e a escolha do material, além do processo artesanal – algo fundamental. Também fazemos questão de trazer designers de vários lugares do Brasil. Neste ano, temos representantes do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Piauí, Rio Grande do Sul, Paraná, Amazonas e Santa Catarina, entre outros”.

Seu sócio, Bruno Simões, complementa: “Entre os lançamentos, temos alguns
destaques feitos a partir de material reciclado, como as peças assinadas por
Elias Lanzarini, da Elaya Design”. O designer, de Santa Catarina, levou para a
MADE criações feitas com redes de pescadores descartadas e madeiras de
demolição vindas de uma antiga embarcação, com mais de 60 anos. Também chama a
atenção o inusitado material utilizado por Leo Ades, de São Paulo, no
revestimento da sua nova poltrona, a Vaivém: o tecido é produzido a partir de
sobras da folha do abacaxi.

Segundo Waldick Jatobá, as peças selecionadas contam uma história e
se destacam pelo seu desafio estético: “Conseguimos juntar estes conceitos e
investir num número expressivo de novos participantes. Acreditamos que esses
talentos refletem o melhor do design contemporâneo nacional”, explica.

Depois de passar por locais como a Bienal e o Jockey Clube de São Paulo, a MADE chega a um endereço icônico na arquitetura e na história da cidade: o Pavilhão Pacaembu, dentro do Estádio do Pacaembu, cujo amplo espaço permitiu a exposição de móveis e objetos de forma integrada e coletiva, aproximando ainda mais o público do autor e suas criações.

Confira alguns destaques entre as peças e lançamentos apresentados na MADE - Mercado, Arte e Design!

O trabalho da designer Carol Gay se diferencia pela soma de diferentes materiais: distintos, mas que se completam. É o caso do vaso Paralelepípedo, feito com vidro sobrado que se acomoda sobre a base de pedra, no caso, dois paralelepípedos que dão o nome à nova peça.

Elias Lanzarini, da Elaya Design, de Santa Catarina, levou para a MADE a cadeira Carijó, peça da coleção Mar da Fé I, feita de madeiras de demolição vindas de uma antiga embarcação, com mais de 60 anos. O nome da coleção é uma homenagem à embarcação condenada que deu origem às madeiras, que foi demolido pelo próprio designer e sua equipe em um estaleiro às margens do Rio Itajaí-açu, em Navegantes, SC. Já o assento e encosto são feitos a partir de redes de pescadores descartadas.

A poltrona Vaivém, de Leon
Ades, nos remete às memórias das cadeiras de balanço e vai além: o revestimento
das almofadas do assento e encosto feito com as sobras das folhas do abacaxi
convida ao toque, de tão inusitado. O tecido é o Pinãtex, um subproduto da colheita da fruta.

Paulista radicado no Paraná, o arquiteto e designer Leandro Garcia é o autor dos bancos Simples que, como o próprio nome diz, partem de linhas puras, mas que se diferenciam pela altura e orientação do assento. Os dois modelos são compostos por três pés de madeira maciça torneados com acabamento em meia-esfera e assento de madeira macia com bordas arredondadas. O mais baixo tem a face arredondada para cima, que sugere descontração por estar perto do chão. O outro, com a face plana para cima, convida a sentar, mas também pode ser utilizado como mesa de apoio, trazendo a versatilidade do móvel contemporâneo.

Os mineiros Marllon Morais e
Rodrigo Queiróz, do Estúdio Dentro, criaram a coleção Rastro, composta por
mesas de centro e lateral. As peças levam um tampo de vidro de linhas orgânicas
sobre bases feitas de pedra bruta. A Amazonita, em formatos irregulares, foi a
escolhida, por ser abundante na região. Outra referência foi a cidade
mineradora de Itabira, em Minas Gerais, terra de Carlos Drummond de Andrade,
autor do poema “No Meio do Caminho”. A
dupla diz que o processo criativo tem seus entraves, como obstáculos, pedras no
caminho: “Sem elas, as peças não teriam o significado que acabam
carregando", explicam.

O Biombo Athos é uma criação do paulistano Thiago Silvestrini, que se inspirou no encontro dos cobogós de Coimbra, Boeckmann e Góis com os grafismos dos azulejos de Athos Bulcão. A peça separa ambientes, sem bloquear a passagem da luz e do ar. Já a composição das madeiras teca e ipê dá ainda mais destaque ao padrão triangular desenvolvido pelo designer.

Reconhecida por seu trabalho em revestimentos e superfícies planas, a designer Calu Fontes trouxe para a MADE peças com diferentes usos e volumes, que nasceram do processo de produção de seu livro, lançado no ano passado, “Camadas Contornos e Relevos” (Ed. Martins Fontes). “Nesse processo investigativo e de pesquisa, me debrucei sobre a modelagem da argila, explorando novas possibilidades de formas, volumes e texturas”, conta. A Escultura Sertão é uma delas: “Eu me senti uma arqueóloga, craquelando imagens, escavando substratos, sempre em busca de uma nova camada e o que está atrás dela. Foi uma viagem do descobrimento”.

A mesa de jantar Mel, do
Estúdio Prosa, de Julia Rovigo e Gabriel Pesca, moradores de Santa Catarina,
foi inspirada na fluidez e na viscosidade do mel. Seu tampo elíptico com cantos
arredondados fica sobre a base de linhas onduladas e assimétricas, onde cada
face apresenta uma perspectiva diferente do conjunto. Feita em Cabreúva maciça,
tem na base a técnica do “strip planking”, empregada na carpintaria naval, na
qual as ripas possuem encaixes macho/fêmea de meio círculo.

A coleção Líquens é resultado da parceria do
designer têxtil Alex
Roca, reconhecido por suas tapeçarias esculturais, com a dupla da Tiie Design, Julyana Hilgenstieler e Nicole
Salvatierra. Os três, moradores de Curitiba,
uniram a arte manual e orgânica de Rocca com o design industrial e minimalista do mobiliário
desenvolvido pela Tiie Design. A poltrona e o mancebo apresentados na feira
trazem uma interessante mescla de técnicas e materiais de apelo sensorial que
convidam ao toque.

O MoBu Atelier, de Gabriel Bueno e Gustavo Moreau, de São Paulo, assina a Coleção HOMÓS, que combina a solidez da madeira em oposição à luz e limpidez do cristal. A série é resultado das observações do comportamento de líquidos em suas interações com as madeiras nativas da flora brasileira. São 36 peças únicas, numeradas e limitadas, cujas garrafas de cristal foram sopradas e moldadas à mão pela artista Elvira Schwartz. Já as peças de madeira são de Muiracatiara torneada à mão. As tampas, por sua vez, são feitas com balão de vidro temperado e álcool etílico ou de madeira com luz de LED direcionável.

A MADE – Mercado Arte e Design acontece no Pavilhão Pacaembu (simultaneamente à primeira edição da ArPa, feira de arte que reúne galerias de todo o país).