Entrevista

Design

“Design está mais universal do que nunca”, avalia Naoto Fukasawa

Cristina Seciuk
25/07/2023 21:15
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Naoto Fukasawa | Divulgação/Herman Miller

Aos 67 anos, Naoto Fukasawa é um dos mais proeminentes designers industriais do mundo. Com longa trajetória e produtos memoráveis no currículo, tem até mesmo um dos símbolos de sua abordagem criativa como parte do acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA): o icônico CD Player de parede. Produzido pela Muji, a aparelho funciona a partir de acionamentos por corda, uma operação simplificada e que "se entrelaça às ações e ao ambiente", de modo instintivo ou inconsciente, num "design without thought" (ou sem pensar, em tradução livre).
Fukasawa passou pela Epson (onde projetava eletrônicos usando microtecnologia) e pela IDEO (também com atuação em produtos voltados à tecnologia, primeiro no Vale do Silício e depois em Tóquio) antes de fundar seu estúdio próprio, em 2003. Desde então diversificou sua atuação, assinando inúmeras colabs com gigantes como B&B Italia, Magis, Alessi e Herman Miller. Entre seus projetos há designs de mobiliário, acessórios, iluminação, smartphones, talheres.
Em entrevista exclusiva a HAUS, concedida por escrito, Naoto Fukasawa fala sobre carreira, seus trabalhos mais recentes e os caminhos do design no pós-pandemia. Confira:

O senhor tem uma carreira muito prolífica, além de versátil e multifacetada. Sua abordagem como designer mudou ao longo dos anos recentes, especialmente em face dos desafios da crise sanitária da Covid-19?

Minha abordagem básica em relação ao design não mudou, mas estou mais certo do que nunca de que cada designer deve ajudar a resolver uma variedade de problemas em todo o mundo.

De modo mais amplo, o design teve oportunidade de evoluir a partir dessa experiência coletiva? Para onde ele caminha?

Embora a Covid-19 tenha sido uma situação que gerou dores de cabeça, foi claramente uma grande oportunidade para o design. Um exemplo disso, acredito, foi a rápida expansão de uma nova liberdade na vida que permitiu que as pessoas trabalhassem em qualquer lugar, menos no escritório. Nesse sentido, entramos em uma era em que cada indivíduo deve fazer planos claros para sua vida diária e executá-los. Em termos de design, sinto que as barreiras entre o design no escritório e o design em casa estão sendo gradualmente derrubadas, e que coisas mais universais estão sendo buscadas.

A filosofia do "design without thought" marca seu trabalho. A partir dessa perspectiva, como avalia o mercado atual, caracterizado por alto volume de lançamentos e uma aparente aceleração das tendências?

Acho que o significado de produção em massa mudou da tendência de fazer uma grande variedade de produtos para atender aos gostos de um número não especificado de pessoas diferentes para permitir que a maioria das pessoas use produtos semelhantes na mesma plataforma, que é exatamente o caso do iPhone [por exemplo]. Nesses casos, em vez de usar minha filosofia para acompanhar as tendências de produtos, acredito que o conceito de manipulação inconsciente se tornará mais predominante na forma como as pessoas interagem com as coisas e com a interface que usam. Não há dúvida de que o fato de as pessoas interagirem com os objetos e o ambiente de forma inconsciente é uma premissa importante do design.

Sua obra é incrivelmente versátil, com desenhos icônicos, de eletrônicos a mobiliário. Você tem favoritos ou preferências quando se trata da criação?

O design de equipamentos eletrônicos deve atrair a atenção das pessoas e ter um senso de estética. Entretanto, como esses aparelhos devem e precisam mudar com as atualizações funcionais e os avanços tecnológicos, seus designs têm vida curta e não permanecerão da mesma forma. Por outro lado, o design de algo como móveis, que basicamente não muda sua forma, deve ter o valor de ser amado por muito tempo. É difícil escolher o melhor, mas, se eu tivesse que escolher, diria que a cadeira Asari, que pode ser usada não apenas no escritório, mas também em casa, é um projeto interessante e muito bem-sucedido.
Criador e criatura: o designer posa junto da cadeira Asari, um dos lançamentos que marcam o centenário da Herman Miller em 2023
Criador e criatura: o designer posa junto da cadeira Asari, um dos lançamentos que marcam o centenário da Herman Miller em 2023

Além da atuação como designer, o senhor leciona, correto? Qual avaliação faz da geração emergente?

Embora muitos jovens estejam se concentrando cada vez mais nos detalhes e na qualidade de todos os aspectos da vida, não apenas no design, também é verdade que há muitos jovens que foram engolidos pelo entretenimento digital, pelas redes sociais, e se isolaram. Acho que nunca houve um momento tão difícil para a educação como agora. No entanto, também é verdade que há mais oportunidades de aprender fora da escola, por isso estamos observando com grande interesse como esses jovens mudam.

Pontualmente sobre a parceria com a Herman Miller, a cadeira Asari traz linhas orgânicas, referências à natureza. Como surgiram essas opções?

No setor de design, a forma de uma esfera oval dividida e unida simetricamente é geralmente chamada de clamshell. Como cada segmento da almofada é dividido como uma concha, a equipe da Herman Miller criou o conceito de Asari, que é a palavra japonesa para molusco. Eles nos disseram que esse é o primeiro produto do portfólio da Herman Miller a ter uma palavra japonesa em seu nome. Eu gosto muito dele. A experiência com a Covid-19 deu às pessoas a oportunidade de trabalhar não apenas no escritório, mas também em casa e em outros lugares. Com isso em mente, meu objetivo foi criar uma cadeira caracterizada por um aspecto mais amigável e macio, em vez da forma mecânica das cadeiras ergonômicas, como vimos no passado.

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