São quase 15 anos
de carreira e Serena Confalonieri ainda se questiona: "é um bom
projeto?".  O hábito pode parecer
sinal de insegurança ou simples perfeccionismo, mas a designer – nascida em
1980 na pequena Vimercate, do ladinho de Milão – é, na verdade, escrupulosa,
instintiva e talentosa, dona de um estilo aclamado por crítica e público. Não
há como não reconhecer uma obra ou instalação de autoria da italiana,
caracterizadas pela refinada elegância feminina que se revela em formas suaves,
materiais variados e, sobretudo, no uso de cores.

Durante a mais recente Semana de Design de Milão, realizada em abril, o bom gosto e a maestria de Serena Confalonieri povoaram a cidade garantindo a ela o posto de “queridinha” da Semana do Design, atribuído pela imprensa especializada. Em edições anteriores os destaques também foram femininos: Elena Salmistraro, em 2021, e Elena Celestina, em 2022, já foram consideradas as "musas" da manifestação mais importante do setor.

"Fico honrada
e interiormente digo a mim mesma:  acho que estou no caminho certo,
fazendo um bom trabalho", conta a designer sorrindo. "É uma honra
poder entrar nesta lista ao lado de Elena e Cristina. Nós, mulheres, estamos
conquistando nosso espaço no mundo do design e até mesmo no Salão. Uma estrada
que foi pavimentada por Paola Navone e Patricia Urquiola e que hoje vê nascer
uma nova geração competente e muito profissional", completa.

A nova geração à
qual Serena se refere (e da qual faz parte) é brilhante. Federica Biasi,
Arianna Lelli Mami e Chiara Di Pinto (Studio Pepe) e Sara Ricciardi são alguns
dos nomes que, ao lado dela, despontam em um cenário até recentemente dominado
por homens. "Gosto de dizer que estamos fazendo uma revolução
feminina", brinca ela, mas não esconde a admiração pelos colegas do sexo
oposto, principalmente pelo genial arquiteto Gio Ponte, conhecido por sua
excepcional carreira e história. Já entre suas pares, não poupa elogios à
holandesa Hella Jongerius.

Para quem sonhava
em se tornar estilista, Serena Confalonieri trilhou caminho bastante distinto e
não tem arrependimentos. Entrou para a faculdade de arquitetura, mas acabou por
se formar em design de interiores e abraçou mundo do design industrial. Após experiências
de trabalho e estudo em Nova York, Berlim e Barcelona, a designer voltou para a
sua cidade adotiva, Milão, e se rendeu ao design gráfico.

Seus projetos , que vão desde instalações até produtos e obras gráficas, são abraçados com a mesma intensidade e paixão. Já o processo de criação segue um caminho preciso: briefing do cliente e pesquisa e mais pesquisa até a finalização. "Tenho a ideia em poucas horas. Às vezes, em minutos. Isso faz parte do meu instinto. Os passos sucessivos são mais lentos, mas o percurso criativo é quase sempre o mesmo", revela.

O resultado, não por acaso, se espalhou pelos quatro cantos de Milão ao longo da última Semana do Design, com grande repercussão internacional. O roteiro da sua criatividade começou dias antes da abertura oficial do Salão do Móvel, 18 de abril, com a apresentação do novo cardápio ilustrado do restaurante Acanto, no hotel cinco estrelas Principe di Savoia. Outro lançamento foi a linha "Cézanne", composta por três quadros de cimento e realizada para a Forma&Cemento, empresa italiana conhecida pela sua importância e excelência na área de design aplicado ao concreto. Para finalizar, a designer completou sua participação com duas grandes instalações.

A primeira, chamada Celebration of Color & Design, presenteou os visitantes com um cenário caleidoscópico no exclusivo terraço do Ceresio 7, no bairro de Brera. A segunda é um projeto social que coloriu a Piazza Schiavone, entre os bairros periféricos de Bovisa, Dergano e Affori, na zona norte de Milão. A instalação Bouquet contou com a participação dos alunos do curso de Design Visual da Scuola Politecnica di Design. “É um importante trabalho de pintura gráfica horizontal que homenageia as diferentes culturas que vivem naquela região, um caldeirão de pessoas vindas de várias partes do mundo", conta a designer que, mais uma vez, imprimiu sua marca registrada: o estilo floral e colorido.

Se por um lado
Serena Confalonieri tem dado preferência às instalações, por outro os projetos
gráficos e de produtos não foram deixados de lado. Pelo contrário. "Sou
uma designer que coloca muito da própria personalidade nas minhas criações.
Seja o que for", confessa ela, que atribuiu o sucesso de sua obra ao design
intuitivo e simples.

Eclética e sem
limites para criar, parece haver nada que esta italiana não se proponha a
fazer. Prova disso é a coleção Calypso de copos de vidro, o papel de parede
Carnival di Wall & Decò, as luminárias para a Servomuto e o pufe Arcadia,
para a renomada Gebrüder Thonet Vienna.

A inspiração para
tudo isso vem das viagens, do dia-a-dia, dos passeios com o seu cão, Fausto, ou
mesmo de uma partida de tênis com amigos ou uma tarde tocando piano. 
"Minhas criações são muito decorativas, adoro cores, como já disse antes,
mas não sou inflexível. Uso minha intuição e privilegio a simplicidade",
diz ela. "Meu processo criativo parte da funcionalidade e só depois passo
para a forma e decoração. Sem deixar de lado a pesquisa, que é
fundamental", arremata.

Exemplo deste percurso pragmático é a coleção Nebula de water pipes, também conhecidos como bongs, que a própria Serena produziu. "Adoro lançar obras próprias. O bong é um objeto utilizado para fumar qualquer tipo de tabaco e derivados. O conceito foi desenhar, antes de mais nada, uma peça decorativa realizada em vidro, que não fosse ligada à ideia da droga", explica sobre a peça, que revela ser uma das suas criações preferidas. "Uma das vantagens em produzir autonomamente é a liberdade total de criação, mas isso não quer dizer que eu não me realize ao colocar no papel e no mercado a obra de um cliente".

A carreira de Serena Confalonieri, pode-se dizer, vai de vento em popa. Em maio deste ano ela foi uma das finalistas em dois concursos: o Designer of the Year 2023, promovido pela revista Elle Decor França (no qual foi premiada a designer holandesa Sabine Marcelis) e o Elle Deco International Design Awards 2023 (evento internacional em que 25 editores-chefes da publicação ao redor do mundo homenageiam profissionais do setor em 15 categorias). Ela mesma reconhece, com certa timidez, que nos quase 15 anos de vida profissional não tem o que lamentar. "O êxito das minhas criações está relacionado não só à ideia e execução final da peça ou da instalação, mas, sobretudo, ao fato de que o público se identifica com o meu design. Quem compra um produto desenhado por mim conhece meu estilo", acredita Serena.

Satisfações e
reconhecimentos à parte, Serena Confalonieri afirma se sentir mais segura
profissionalmente nos últimos anos. "Mas não menos livre e
espontânea", rebate. Tanto é que decidiu voltar às raízes e assinar seu
primeiro projeto de interiores, um restaurante boutique, o 13.10, inaugurado
recentemente na cidade natal. O próximo passo, ou melhor, sonho, é reviver sua
paixão da infância, a moda. Titubeante em confidenciar ou não esse desejo, ela
finalmente declara: "adoraria colaborar com a grife Missoni".