Sustentabilidade

Design

Empresa italiana apresenta sistema de boias coloridas para despoluir os rios do planeta

Fernanda Massarotto, especial para HAUS
02/09/2022 14:06
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A canção "Sapore di Sale", escrita por Gino Paoli em 1963, mas imortalizada pelo cantor napolitano Peppino Di Capri, disserta sobre as belezas do mar e seu "sabor de sal". Quase sessenta anos se passaram e as águas dos rios e oceanos viraram verdadeiros depósitos de resíduos plásticos e poluentes. O gosto de sal foi substituído pelo plástico. Hoje, a situação atingiu níveis críticos. Os dados recolhidos por entidades e organizações não-governamentais são preocupantes. Um relatório divulgado pelas Nações Unidas revela que cerca de 11 toneladas de plástico são jogadas nos oceanos, um número que tende a triplicar em 2040. O que fazer para reverter esse cenário catastrófico?
A resposta requer inúmeras soluções que vão desde a redução do uso do plástico até a educação da população e políticas ecossustentáveis. Mas, só isso seria suficiente?
Em meio a poucos resultados, surgem ideias inovadoras e audaciosas por parte da iniciativa privada, como a do italiano Vanni Covolo, que em 2019, patenteou o sistema River Cleaning que, literalmente, intercepta os detritos em águas fluviais. "Antes de chegar no mar e se transformar em microplástico, 80% do plástico faz uma viagem pelos rios do mundo, segundo dados publicados em 2021 pela revista científica Science Advance", explica o CEO da Mold Srl, empresa vêneta do setor de materiais termoplásticos e patenteador do sistema.
O projeto cria uma barreira que permite a coleta do lixo plástico no leito dos rios.
O projeto cria uma barreira que permite a coleta do lixo plástico no leito dos rios.
O projeto ecossustentável River Cleaning Plastic & Oil pode ser descrito como uma barreira inteligente e modular que captura restos de plásticos e poluentes oleosos em todos os cursos d'água. "Uma série de boias, feitas de polipropileno reciclado, ficam ancoradas em linha diagonal ao leito do rio por cordas e usa a correnteza para direcionar o lixo para um ponto de coleta na margem do rio. Funciona 24 horas por dia, requer pouca manutenção e energia, com impacto zero ao meio ambiente e sem interferir na fauna e flora fluvial", esclarece o empresário Vanni Covolo. "Outra grande vantagem é que as boias conseguem interceptar 90% do lixo flutuante e não atrapalham a navegação das embarcações".
O projeto patenteado pelo italiano não tem só como objetivo conscientizar a população sobre a poluição dos rios, "É minha contribuição para o planeta. O meu legado", comenta ele, que se inspirou em suas memórias da infância para o design do sistema. "As boias, por exemplo, lembram muito uma ferramenta composta por quatro rodas que meus avós usavam. Colocadas em diagonal, pegavam o feno, movendo-o de roda em roda para fazer uma única fila", lembra.
Sistema direciona o lixo plástico para as margens dos rios.
Sistema direciona o lixo plástico para as margens dos rios.
Em abril do ano passado, foi criada uma nova versão chamada V4.22, pensada para os rios de pequena e média dimensões. O intuito é que em um futuro breve se possa também produzir energia elétrica com o sistema. E o empresário ainda pensa em modernizar o River Cleaning acoplando novos módulos para despoluir as águas contaminadas por óleos e outros líquidos. "A River Oil já foi patenteada e está em desenvolvimento -- para trazer esta tecnologia ao mercado em larga escala ainda serão necessários alguns anos, pois são necessárias todas as certificações universitárias e ambientais", complementa Vanni Covolo, que pretende usar materiais absorventes ou um conjunto centralizado para a sucção e filtragem que permitirá a despoluição de grandes volumes de água.
A instalação da versão mais simples do River Cleaning Plastic & Oil, com coleta manual de resíduos, custaria hoje cerca de 5 mil euros por metro. O design das boias pode ser personalizado. Atualmente, o sistema de limpeza de rios idealizado pelo empresário está em operação, desde junho do ano passado, no Canal Dolfina, em Rosà, na província de Vicenza, no norte da Itália. "Isso nos permitiu realizar vários testes e coletar dados sobre a porcentagem de interceptação de resíduos. Recolhemos mais de 95% do lixo flutuante que atravessa a hidrovia'', atesta Vanni Covolo.
O sonho do italiano é ver suas boias flutuarem em outros continentes, em especial no Brasil, um país com rios que se estendem por todo o território. "O projeto tem um enorme potencial e o que pudemos demonstrar até agora, com os testes, responde exatamente às necessidades do nosso meio ambiente", conta ele que, em janeiro deste ano, recebeu a certificação da Friend of the Sea, entidade de conservação ambiental e humanitária  "No entanto, precisamos de apoio para crescer ainda mais, e assim nos tornar um sistema de tecnologia ecossustentável importante para limpar os rios do planeta e reverter o quadro catastrófico anunciado de que em 2050 haverá mais plástico que peixes no mar".

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